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Testemunhas relatam desespero em festa de halloween com 149 mortes em Seul

Todos os anos, milhares de pessoas se fantasiam e saem pelo bairro multicultural de Itaewon, no centro de Seul, para celebrar  o Halloween. A alegria e a descontração deram lugar, ontem, à tristeza e ao horror. A tragédia ocorreu em uma das ruas estreitas, onde se concentram bares, restaurantes e boates. Até o fechamento desta edição, pelo menos 149 pessoas morreram e 76 ficaram feridas — 19 gravemente — durante um tumulto. Entre os mortos, estão pelo menos dois estrangeiros, um deles cidadão dos Estados Unidos. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil não se pronunciou sobre a existência de brasileiros nesse balanço. “O alto número de vítimas resultou do fato de que muitos foram pisoteados durante o evento de Halloween”, explicou Choi Seong-beom, encarregado do Departamento de Bombeiros, ao admitir a possibilidade de aumento no número de mortes. Ele revelou que a maioria das vítimas é de jovens de cerca de 20 anos. 

O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, reuniu o gabinete de emergência, ordenou a rápida identificação das vítimas e determinou ao Ministério do Interior a rápida investigação das causas do incidente. A agência de noitícias sul-coreana Yonhap informou que dezenas de pessoas sofreram “parada cardíaca”. Alertas sobre a superlotação de Itaewon foram disseminados pelas redes sociais horas antes da tragédia. Oh Se-hoon, prefeito de Seul, suspendeu uma viagem à Europa e voltou às pressas para a Coreia do Sul. 

As autoridades descartam que a tragédia tenha sido provocada por vazamento de gás ou incêndio em uma das boates. As suspeitas indicam uma possível “fuga em pânico”. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram sul-coreanos e estrangeiros tentando se mover em uma rua estreita tomada de gente. Algumas pessoas têm o semblante assustado e demonstram dificuldades de respirar. Outras gravações mostravam vítimas submetidas à ressuscitação cardiopulmonar nas calçadas. De acordo com Choi, 1.701 socorristas foram mobilizados para a ocorrência, incluinddo 517 bombeiros, 1.100 policiais e 70 funcionários do governo. 

Morador de Itaewon desde janeiro de 2018, o jornalista carioca Thiago Mattos Moreira, 29 anos, celebrava o Halloween com amigos quando a tragédia ocorreu. “Em uma determinada hora da noite, vi uma série de corpos serem arrastados. No momento, achei que fossem pessoas alcoolizadas, pois é uma cena normal nesta época, quando as pessoas exageram um pouco”, relatou ao Correio. “Então, vi outro e mais outro corpo passando. Percebi que a situação tinha sido escalonada de uma forma que algo estava errado. Várias ambulâncias começaram a chegar à rua. Somente depois as autoridades confirmaram que eram cadáveres de gente que foi esmagada”, acrescentou, por telefone. 

Ele descreveu a cena como “muito bizarra”. Isso porque Thiago lembrou que, em um primeiro momento, as pessoas não compreenderam a situação como grave. “A impressão que se tinha é que as vítimas tinham desmaiado ou bebido demais. Quando os paramédicos chegaram e viram tratar-se de mortos, criou-se um pânico entre quem estava ali. Foi uma cena totalmente surreal. Era difícil identificar o que tinha ocorrido imediatamente”, disse, por telefone. Segundo ele, a versão que corria em Itaewon dava conta da ingestão de alguma substância entorpecente. “Um agente público que estava do meu lado afirmou que um gás havia feito com que as pessoas desmaiassem.”

Sobrevivente

A estudante de idiomas Vanessa Parker, 24, definiu a noite de ontem como “a mais assustadora” de sua vida. “Eu estava lá quando o pior aconteceu”, contou ao Correio a norte-americana, que mora em Seul há dois meses. “Por volta das 22h (10h de ontem em Brasília), a multidão entrou em um pequeno beco repleto de bares. Havia um paredão de pessoas. Uma vez que você entra ali, não consegue se virar para sair. Era uma onda humana. Se alguém tropeçasse ali seria pisoteado”, lembrou. 

Foi então que ela se deparou com centenas de pessoas aos gritos, um pouco mais à frente. “Todos começaram a gritar para que nos virássemos. Eram duas ‘paredes’ de pessoas, se empurrando uma contra a outra. As pessoas foram esmagadas”, disse Vanessa. “Consegui me contorcer e deslizar até o muro de um corredor entre boates. Esperei até que a multidão começasse a se mover na mesma direção novamente, rumo à rua principal, onde o beco começa. Naquele momento, não imaginava que alguém tivesse se machucado.”

Somente mais tarde ela descobriu que os gritos eram uma tentativa de avisar sobre casos de parada cardíaca. “Os paramédicos pediam às pessoas que dessem meia-volta, para que pudessem iniciar o resgate”, afirmou a estudante. Vanessa relatou ter visto pessoas caírem sobre as outras. “Amigos e desconhecidos tentaram socorrê-las, antes que fossem pisoteadas. Quase tive um ataque de pânico. Minha respiração começou a ficar curta. Eu sabia que se desmaiasse, morreria. Tentei ficar calma e respirar o mais fundo que pude”, acrescentou. Após deixar Itaewon, enquanto aguardava o metrô na estação de Noksapyeong, Vanessa viu 20 ambulâncias. “Por minutos, não me deparei com os corpos, graças a Deus.” 

Os tumultos mais mortais da última década

Meca — 2.300 mortos 

Em 24 de setembro de 2015, uma gigantesca confusão nos arredores de Meca, durante a peregrinação anual, deixou 2.300 mortos, a catástrofe mais mortal da história do hajj. Peregrinos contam que o tumulto começou com o fechamento de uma rodovia e a má administração do fluxo de pessoas pelas forças de segurança. 

Indonésia — 133 mortos

Em 1º de outubro passado, a polícia indonésia tentou controlar uma multidão de torcedores de futebol com gás lacrimogêneo, causando uma fuga desordenada em um estádio em Malang, no leste da ilha de Java. Pelo menos 133 pessoas morreram, incluindo mais de 40 crianças. Muitas vítimas foram pisoteadas ou sufocadas quando tentavam chegar até os portões.

Índia — 115 mortos 

Em 13 de outubro de 2013, uma festa religiosa no estado indiano de Madhya Pradesh (centro) terminou com ao menos 115 mortos, pisoteados ou afogados, e mais de 110 feridos.
Cerca de 20 mil pessoas estavam em uma ponte sobre o Rio Sindh, quando segundo as autoridades locais, um boato sobre sua possível queda gerou um movimento de pânico.

Costa do Marfim — 60 mortos 

Em 1º de janeiro de 2013, ao menos 60 pessoas — entre elas muitos jovens — morreram após um tumulto entre uma multidão que assistia aos fogos de artifício da São Silvestre em Abidjan.

Irã — 56 mortos 

Em 7 de janeiro de 2020, um tumulto no cortejo fúnebre do general iraniano Qasem Soleimani em Kerman (sudeste) deixou 56 mortos entre a multidão presente. Soleimani foi morto em 3 de janeiro em um ataque com um drone americano quando deixava o aeroporto de Bagdá. Ele era considerado um herói por seu combate aos jihadistas no Iraque e na Síria.

Fonte: Correio Brasiliense

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