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Sudão: ONU quer cessar-fogo de três dias como prioridade para fim de confrontos

O secretário-geral, António Guterres, pediu um cessar-fogo de pelo menos três dias no Sudão, como medida prioritária para que sejam marcadas as celebrações do feriado muçulmano de Eid Al-Fitr fechando o mês de jejum do Ramadã.

Para o líder das Nações Unidas, a decisão permitiria que civis, agora isolados em áreas afetadas pelos conflitos, possam fugir e procurar tratamento, medicamentos, alimentos e outros suprimentos urgentes.

Condenação aos confrontos

As declarações foram feitas nesta quinta-feira, após um encontro virtual do chefe da ONU com líderes da União Africana, da Liga Árabe, da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, Igad, da União Europeia e representantes de vários países.

Guterres disse ter havido consenso dos participantes na condenação aos confrontos no país africano e no apelo pelo fim de ataques, situação que considera “dramática”.

O cessar-fogo deve ser o primeiro passo rumo ao processo de busca de uma interrupção permanente. Ele pediu ainda que haja “diálogo sério” seguido por um momento de transição até que seja nomeado um governo civil.

O chefe da ONU disse estar preocupado com alto custo da situação sobre civis, as implicações em crianças repetitivamente forçadas a abrigar-se em escolas ou evacuações de hospitais debaixo de fogo  numa realidade “totalmente ultrajante”.

Obrigações sob a lei humanitária

O chefe das Nações Unidas revelou que as operações humanitárias são virtualmente impossíveis, quando depósitos, veículos e outros patrimônio humanitário têm sido atacados, saqueados e capturados.

Ele advertiu que as partes devem parar de ter como alvos funcionários e  bens de auxílio ao lembrar aos envolvidos das suas obrigações sob a lei humanitária, incluindo garantindo segurança dos trabalhadores do setor.

Guterres expressou “extrema preocupação” por haver funcionários da ONU isolados em suas casas e faz de tudo para que sejam apoiados.

As Nações Unidas estimam que 330 pessoas morreram e quase 3,2 mil ficaram feridas na sequência de combates entre o Exército do Sudão e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, RFS, na capital Cartum e em vários partes inclundo a província de Darfur. A violência começou no sábado, 15 de abril.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, pediu passagem segura e uma trégua humanitária para profissionais de saúde, pacientes e ambulâncias. 

Atendimento urgente

A restrição da circulação em Cartum torna difícil o acesso de médicos, enfermeiros, pacientes e ambulâncias às unidades de saúde. A situação coloca em risco a vida de quem precisa de atendimento urgente.

Pessoas precisando de cuidados regulares não têm acesso a tratamento para doenças crônicas e pioram necessidades de saúde mental e psicossociais, especialmente entre as crianças.

Apagões de luz generalizados afetam hospitais. À carência de água e combustível nas unidades de saúde e nos hospitais junta-se à falta de especialistas, suprimentos de oxigênio e bolsas de sangue.

As vítimas falam de agressões sexuais e funcionários internacionais estão apreensivos com ataques a instalações de saúde, incluindo agressões a profissionais do setor ou ocupação militar de hospitais, saques e sequestros de ambulâncias.

Cessar-fogos fracassados

Pelo menos 20 centros médicos fecharam devido por causa da violência e a falta de recursos. Outros estabelecimentos ainda estão na iminência de fechar por fatores como cansaço das equipes ou ausência de médicos e suprimentos.

Nove crianças estão entre as vítimas dos cinco dias de intensos confrontos e quatro cessar-fogos fracassados​.

A diretora-executiva do Fundo para a Infância, Unicef, Catherine Russell, alertou que, se a violência não parar, “esse número só aumentará”.

Mais de 50 menores foram feridos na capital Cartum e nas cidades das áreas de Darfur e Kordofan do Norte.

Para o Unicef, a situação de segurança perigosa em todo o país dificulta ainda mais a coleta e verificação de informações, mas é sabido que com a continuação dos combates as crianças continuarão pagando o preço.

Fonte: ONU News/Foto: UN Photo/Eskinder Debebe

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