Geral Internacionais Política

Crescimento baixo e riscos financeiros abalam economia global, diz FMI

A atividade econômica global vive uma desaceleração generalizada. Essa é uma das conclusões do Panorama Econômico Mundial, lançado nesta segunda-feira.

De acordo com o documento elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, o crescimento em 2023 deve ficar em 2,8%. O valor é bem menor que a previsão de 3,4%, feita pelo órgão no ano passado.

Crescimento x endividamento

Segundo o levantamento, a desaceleração econômica deste ano está concentrada nas economias avançadas, especialmente na zona do euro e no Reino Unido. Por outro lado, muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento estão se recuperando, com o crescimento ano a ano acelerando para 4,5% em 2023.

A projeção de aumento do Produto Interno Bruto, PIB, para Angola é de 3,5% este ano. Para Cabo Verde 4,4%, Guiné-Bissau 4,5%, Moçambique 5% e São Tomé e Príncipe 2%. Em relação ao Brasil, a projeção ficou em 0,9%. Já em Portugal, o crescimento econômico deve avançar 1%.

Entretanto, os países de língua portuguesa são marcados por alto endividamento público, com destaque para Moçambique. O relatório indica que o país africano ultrapassa 90% de endividamento em percentual do PIB, apesar de ter passado por dois processos de restruturação da dívida nos últimos anos.

Estagnação prolongada

Para 2024, a expectativa é de que o aumento da atividade econômica global chegue a 3%. O FMI aponta que este é o crescimento mais fraco desde 2001, excluindo os períodos da crise financeira global e a fase aguda da pandemia de Covid-19.

No médio prazo, os dados apontam uma estagnação prolongada. O crescimento deve ficar em torno de 3% nos próximos cinco anos. A previsão é considerada a mais fraca desde 1990.

Segundo o diretor de pesquisas do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, a crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na maioria das regiões, a guerra na Ucrânia e a persistente pandemia pesam muito nas perspectivas.

Inflação persistente

Outro ponto de preocupação é a inflação, considerada a acima da média observada nas últimas décadas. No curto prazo, o FMI espera uma redução da pressão inflacionária, caindo de 8,7% ano passado para 7% este ano e chegando a 4,9% em 2024.

Entretanto, Gourinchas afirma que a inflação pode se revelar mais persistente, resultando na necessidade de maior aperto econômico.

De acordo com ele, a luta contra a inflação deve permanecer como a prioridade dos bancos centrais. Para o diretor de pesquisa, o aumento dos juros em vários países, somado a uma alta histórica do endividamento, pode gerar uma contração econômica mais intensa.

A análise indica também que os ganhos salariais nominais continuam abaixo dos aumentos de preços, implicando uma queda nos salários reais.

Riscos

Um dos principais riscos identificados pelo FMI é a instabilidade no setor bancário. Para o órgão, o rápido aperto da política monetária do ano passado provocou perdas consideráveis em ativos de renda fixa de longo prazo e elevou os custos de financiamento.

O alto endividamento público de vários países é apontado como outro fator de risco que reduz a margem de manobra dos governos para lidar com choques externos.

O FMI também anunciou nesta segunda-feira o Relatório de Estabilidade Financeira de 2023. O documento aponta especial preocupação com a crise no sistema bancário. De acordo com os dados, as vulnerabilidades do setor são intensificadas em momentos de política monetária mais restritiva.

A análise também aponta os efeitos das tensões geopolíticas na fragmentação financeira e explora suas implicações para a estabilidade da economia global. Alguns exemplos são o risco de interrupções de pagamentos internacionais e reversão de fluxos de capital.  

Otimismo

Apesar do cenário de incertezas, o FMI aponta que as interrupções na cadeia de suprimentos estão diminuindo. As oscilações de preço de alimentos e energia causadas pela guerra na Ucrânia também mostram tendência de queda.

O órgão espera ainda que o aperto massivo e sincronizado da política monetária pela maioria dos bancos centrais comece a dar frutos, com a inflação voltando para as metas.

Fonte: ONU News/FMI/Lisa Marie David

Related Posts