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Ciro Nogueira descarta desembarque da canoa de Bolsonaro em 2022, mas seu histórico de abandonos gera dúvidas

O senador tem a capacidade de mudar de time como lhe convier. Já vestiu as cores das equipes do São Paulo, do Corinthians, do Palmeiras e do Flamengo. Basta ser o time campeão.

Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, divulgada nesta segunda-feira, 22, o senador piauiense Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas (PP), descarta qualquer possibilidade de abandono do barco do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nas eleições do próximo ano, mesmo com a desastrada condução do governo no tocante à pandemia da Covid-19. O PP é o maior partido do chamado “centrão” de apoio ao governo federal. Mas a esse filme todos os brasileiros já assistiram. A depender da sustentabilidade ou não do governo, o senador piauiense confirma ou desdiz tudo o que já afirmara, para continuar respirando as benesses do poder.

Foi assim com o ex-presidente Lula e com a ex-presidente Dilma Rousseff, ambos do PT, e com o ex-presidente Michel Temer, do MDB. Em seu estado, o Piauí, para viabilizar sua pré-candidatura ao Governo do Estado em 2022, rompeu ano passado com o governador Wellington Dias, do PT, de quem considera hoje seu grande inimigo político, não importando os anos em que estivera lado a lado com o petista.

Ao longo desta pandemia que assola o mundo e, com mais gravidade, o Brasil, Ciro Nogueira vem caminhando ao lado do presidente da República, propagando o negacionismo e contra medidas restritivas nas unidades da federação, em especial, no Piauí, acusando o governador Wellington Dias de não fazer nada contra a Covid-19 e de prejudicar a atividade econômica com decretos que inibem aglomerações de pessoas, principal fator de transmissibilidade do vírus e, consequentemente, morte de pessoas, como atestam os cientistas.

O discurso do senador progressista cai no vazio à medida que as contaminações aumentam, o número de mortes cresce, a reprovação pública do Governo Federal aumenta, os brasileiros reprovam as ameaças ditatoriais e as atitudes de deboche do presidente contra a doença e o governador Wellington Dias se consolida como liderança nacional entre prefeitos e governadores no contraponto à falta de coordenação da União no combate à pandemia.

De acordo com a Folha, apesar do quadro atual, Ciro afirma que não há desembarque, mesmo o país vivendo o pior momento da pandemia, depois de Jair Bolsonaro ter minimizado diversas vezes a doença, ter sido contra vacinas e ter questionado o uso de máscaras. “Não vejo a menor perspectiva de não estarmos com ele. Vamos estar agora e em 2022”, reiterou, como também havia reiterado nas vésperas do processo de impeachment duvidoso sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, mas mudou de posição na última hora.

“A postura [de Bolsonaro] mudou bastante. Ele usa máscara, não está contra a vacina, vai se vacinar. Mas ele é uma pessoa polêmica. Não é um político tradicional. Sua popularidade é em grande parte por isso também. A gente quer que as coisas aconteçam nesse momento de muita dificuldade. Os próximos dias talvez sejam o pior momento da pandemia do país. Ele está em um processo de transição. Com a mudança do ministro, o ministro novo vai ter mais autonomia, o Bolsonaro não vai ficar mais dando opinião sobre tratamento”, apostou o senador, na entrevista.

Ciro Nogueira também aposta na ignorância do povo brasileiro, ao responder questionamento sobre a situação do presidente nas eleições de 2022. Segundo ele, não é o Bolsonaro de hoje que vai estar na campanha, e que o povo não se lembrará dos posicionamentos atuais do presidente.

“Vejo que quem vai vacinar a população é o Bolsonaro. As pessoas vão lembrar quem foi que vacinou. Quem foi o governador que vacinou? Eles falam de vacina, mas não vejo ninguém comprando. Quem vai vacinar a população é o Bolsonaro. Quando tiver a retomada econômica, as pessoas vão reconhecer o trabalho desse governo. Quem elege o presidente da República é a economia. Então, se a economia estiver bem, o presidente vai ganhar a eleição com certa facilidade”, profetizou. Mas as previsões são menos otimistas, o que pode fazer o senador mudar de posição.

Outro fator que pode fazer com que Ciro Nogueira, na última hora, abandone o barco de Jair Bolsonaro é o fator Lula. Com as previsões de que o ex-presidente poderá mesmo disputar as eleições presidenciais do próximo ano, com reais chances de vencer, já fez com que o senador deixasse um pouco de lado as pretensões de disputar o Governo do Piauí em 2022. Prova disso é que vem assediando e tentando emplacar nesse sentido o ex-senador petebista piauiense João Vicente Claudino, porque sabe que a entrada de Lula no tabuleiro das próximas eleições fortalece ainda mais o petista Wellington Dias no estado. Quem o atual governador indicar para a disputa terá amplas chances de vencer o pleito.

Aí poderemos ver novamente o antigo filme, ou seja, Ciro Nogueira no lugar onde sempre esteve: no poder. Porque tem a capacidade de mudar de time como lhe convier. Já vestiu as cores das equipes do São Paulo, do Corinthians, do Palmeiras e do Flamengo. Para isso, basta o time ser campeão brasileiro de futebol.

Independentemente de seu histórico de abandonos, pelo menos em relação à pandemia, o senador piauiense começa a ouvir os roncos dos donos do capital, que começam a se afastar de Bolsonaro por conta do seu posicionamento negativista, que também não é bom para a economia, e abre os ouvidos para as vozes das ruas. Afinal, o inimigo é comum, é de todos.

Redação

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