Indagado se fazia parte de algum movimento, Borges afirmou: “Não pertencemos a nenhuma organização, somos patriotas de grupos de WhatsApp”.
Uma passagem semelhante em viação comercial não sai por menos de R$ 240 ida e volta.
O engenheiro Diego Formenti, presidente do grupo Patriotas Itapira, ajudou a organizar uma caravana com quatro ônibus com destino à avenida Paulista. “De graça, 46 pessoas em cada ônibus”, disse. “Indo de livre e espontânea vontade. E tenho mais 30 pessoas na lista de espera.”
Formenti também conseguiu doações “de empresários que preferem não se identificar”. “Arrumamos patrocínio para três ônibus, e o quarto foi vaquinha”, disse. O frete de cada ônibus saiu por R$ 2.800, segundo ele.
O engenheiro ainda tinha esperanças de que o presidente Bolsonaro iria aparecer na Paulista, embora o mandatário só tenha confirmado presença em Brasília e no Rio. “Eu tenho convicção de que o presidente vai. Ele falou da importância de as pessoas irem para as ruas pela última vez.”
Segundo Formenti, o objetivo da ida à Paulista é pedir democracia, respeito à liberdade de expressão e mostrar a indignação com o STF. “Hoje são os togas que mandam no Brasil.”
Grande parte da convocação para o 7 de Setembro e para a organização das caravanas foi feita pelas redes sociais.
Segundo levantamento da Palver, empresa de tecnologia que monitora mais de 15 mil grupos públicos de WhatsApp e elabora análises, as mensagens com convocações para caravanas tiveram um pico em 2 de setembro, com 73 a cada 200 mil mensagens abordando o assunto. Na comparação, eram 5 a cada 200 mil em 5 de agosto.
Já pelo Crowdtangle, os posts no Facebook chamando para caravanas no 7 de Setembro tiveram pico em 27 de agosto, com 1.500 interações, e na mesma data no Instagram, com 1.900 interações.
Lista que circula por grupos de WhatsApp e Telegram afirma que há 240 ônibus, 7 micro-ônibus e 6 vans confirmados para a avenida Paulista. Contatado, o responsável pelo cadastramento das caravanas não quis falar com a reportagem.
Calculando pela ocupação de cerca de 40 pessoas por ônibus (abaixo da capacidade máxima), 22 em micro-ônibus e 12 em cada van, seria um total de 9.826 pessoas rumo à avenida Paulista.
Na lista que fornece contatos para as caravanas, os organizadores avisam: “O presidente convocou principalmente para a PAULISTA,_ _mas quem não puder,_ é pra ir para Brasília ou para Copacabana (RJ) antes de qualquer outro lugar. “
Eles também dão orientações sobre locais de estacionamento e dicas de como organizar as caravanas. “Levem faixas em inglês, espanhol, francês e outros idiomas com a data completa. _As fotos de seus cartazes irão para os jornais de todo o mundo._ LEMBREM-SE não é uma festa, _estamos indo “lutar” pela nossa liberdade e contra o comunismo! _Exemplo:_ _”WE TRUST ARMED FORCES”_
_(eles sabem o que fazer para termos eleições limpas,_ a nossa intervenção já foi feita democrática pelo voto em 2018, _temos apenas que_ confiar e mostrar que acreditamos realmente neles)”.
De Uberlândia sairão pelo menos 180 pessoas em ônibus rumo a Brasília, subsidiados por movimentos como o Direita Minas e Voluntários Uberlândia. “Começamos a organizar um mês atrás através de vaquinha e ajuda de apoiadores”, disse por WhatsApp Janaína, uma das organizadoras.
A passagem da caravana ida e volta Uberlândia Brasília sai por R$ 100 –bem abaixo do peço normal de uma passagem semelhante, que está em R$ 300 ida e volta em ônibus executivo.
Recentemente, organizadores enviaram mensagem de WhatsApp festejando: “Pessoal conseguimos alguns investidores para financiar parte de nossa caravana para Brasília no dia 7SET22, portanto conseguimos diminuir o valor do ônibus.”
Em uma caravana de Porto Alegre, cerca de 380 pessoas irão enfrentar 36 horas de viagem em dez ônibus para participar da manifestação de 7 de Setembro em Brasília. A passagem sai por R$ 650, com lanches no veículo incluídos.
“Em breve iremos comemorar por vivermos sem interferência entre os poderes”, dizia mensagem de Marcelo Buhler, líder do movimento Direita Parobé. Uma passagem ida e volta de Porto Alegre para Brasília sai por, em média, R$ 800, em ônibus sem ser leito.
Segundo Buhler, a caravana começou a ser organizada em março deste ano e não houve patrocínio de ninguém. “Cada passageiro responde pelos seus custos, não fizemos vaquinha e não temos patrocinadores. Se existe alguma colaboração entre os passageiros, não chegou ao nosso conhecimento.”
Só de Nova Mutum (MT), cidade agropecuária, saíram quatro ônibus rumo à Brasília, com 170 pessoas. De acordo com Zequina Duffeck, ativista pró-Bolsonaro, a caravana está cheia de pessoas ligadas ao agro, mas não tem nenhuma empresa grande à frente da comitiva.
“As pessoas estão indo e pagando por livre e espontânea vontade. Muitas conseguiram negociar folga porque nessa época o agro é mais tranquilo”, disse.
Já a ativista Reggiane Otero, que ajudou a organizar a caravana de Lucas do Rio Verde, perto de Nova Mutum, diz que empresários do agro e comerciantes ajudaram com doação para a caravana, sem especificar quanto.
“Eles doaram, mas isso não quer dizer que o pessoal que está indo não tenha condições financeiras para pagar”, disse, acrescentando que “nunca viu nada igual” sendo feito pelo presidente.
Fonte: Folha de São Paulo