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A ciência é uma atividade colaborativa e crucial para o conhecimento de todos

A missão dela é espalhar ciência e fazer da disciplina um assunto de todos. E foi justamente na área de comunicação da matéria que Natalia Pasternak descobriu o que chama de um “mercado perverso que vende e lucra com a desinformação” para enganar os consumidores. 

Nessa entrevista ao Podcast ONU News*, a pós-doutora em microbiologia pela Universidade de São Paulo e pesquisadora da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, afirma que o objetivo desses canais é promover notícias falsas e teorias da conspiração “de forma deliberada”.

Ideologias e respostas

“Eu acho que o que mais chocou durante a pandemia, trabalhando com desinformação, perceber que existe um mercado perverso que vende, lucra com a desinformação. Não é só uma mentira inocente ou algo que a gente acredita porque ouviu dizer. Existe um público que realmente foi engando e que acredita de maneira inocente que vacinas fazem mal ou que cloroquina cura Covid. Mas existe um mercado de pessoas que promovem, deliberadamente, a desinformação porque lucram com isso.”

Natalia Pasternak se aproximou ainda mais do tema da desinformação na era digital durante a pandemia, pouco mais de um ano após fundar o Instituto Questão de Ciência, do qual é presidente.

Estudantes em pesquisa na Universidade de Missouri
© Missouri S&T/Michael Pierce

Autora de três livros sobre popularizar a ciência, ao lado do jornalista científico Carlos Orsi, ela afirma que ideologias e achismos não têm nenhum lugar na busca de respostas para desafios atuais e futuros.

“E aí veio a pandemia. E, de repente, o trabalho que a gente se propôs a fazer com o Instituto Questão de Ciência era exatamente o trabalho que precisava ser feito durante a pandemia. Garantir que as políticas públicas de saúde fossem baseadas em ciência e não em achismo e ideologia. E traduzir a ciência tanto para a população quanto para os tomadores de decisão no governo e no parlamento era um trabalho essencial e que, de repente, era o centro do debate público.”

Liderança na academia

Natalia Pasternak foi convidada a depor numa Comissão Parlamentar de Inquérito, no Senado do Brasil, que apurou erros de administração do governo federal durante a pandemia, que matou centenas de milhares de pessoas no país.

Ela lembra da oportunidade que teve de falar para milhões de pessoas sobre ciência e políticas públicas e de combater a desinformação sobre utilização não comprovada de remédios para tratar a doença.

Para a comunicadora da ciência e filha de professores universitários, o acesso ao conhecimento nunca foi uma barreira, mas ela reconhece que mesmo em universidades como a USP, que tem homens e mulheres em cursos de graduação e pós, os patamares de comando da academia ainda sofrem com desigualdade de gênero.

Natalia Pasternak prefere, no entanto, se concentrar no que está dando certo, e lembra que a ciência e as grandes descobertas jamais são de cientistas solitários, e que a comunidade científica é o que conta.

Ciência e religião

“Então a gente vê histórias que merecem virar filme como história do Stephen Hawking. É claro que ele merece virar filme, é uma belíssima história. Mas acaba contribuindo para esse imaginário popular de que o cientista é um gênio solitário. Quando, na verdade, a ciência é uma atividade colaborativa. A ciência é feita por milhares e milhares de jovens que estão lá fazendo seus doutorados, seus pós-doutorados em equipes grandes que trabalham juntas. Nenhuma grande descoberta é feita por um único cientista solitário trancado no seu laboratório.”

Covid-19 elevou quantidade de informação online
UN Women/Eduard Pagria

Ao falar de ciência e religião, a microbióloga afirma que uma coisa não exclui a outra e que é próprio do ser humano buscar respostas para sua origem e papel no mundo. Ela destaca que procura essas respostas na ciência, mas que existem outras áreas como artes e literatura, por exemplo.

Neste segundo semestre, Natalia Pasternak deverá lançar seu terceiro livro chamado “Que bobagem!” em que discorre com o co-autor, Carlos Orsi, sobre mitos e o que chamam de 12 “pseudociências”. 

Acompanhe a íntegra da entrevista:

*As opiniões emitidas neste programa são de responsabilidade das pessoas entrevistadas.

Fonte: ONU News -Cientista brasileira Natalia Pasternak no estúdio da TV ONU

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