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Zelensky pede armas à Otan, que amplia presença militar perto do conflito

invasão russa ao território ucraniano completou um mês nesta quinta-feira (24) ainda sem sinal de grandes avanços nas negociações para o fim da guerra. Hoje, acontece uma cúpula extraordinária da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que decidiu reforçar o número de tropas em países perto do conflito entre Rússia e Ucrânia: Bulgária, Hungria, Romênia e Eslováquia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, participou da reunião por videoconferência e disse que, “para salvar as pessoas e nossas cidades, a Ucrânia precisa de assistência militar“. Ele também criticou o grupo e pediu para que “nunca, por favor, nunca mais nos digam que nosso exército não atende aos padrões da Otan”. “Mostramos do que somos capazes. E quanto podemos dar à segurança comum na Europa e no mundo.”

Já para a Rússia, se houver pressão da Otan contra a invasão, é possível que armas nucleares sejam utilizadas. “Quando você está lidando com uma potência nuclear, é claro, você tem que calcular todos os possíveis resultados do seu comportamento”, disse o vice-embaixador russo na ONU (Organização das Nações Unidas), Dmitry Polyanskiy.

Zelensky pede armas à Otan

A capital belga, Bruxelas, recebe hoje uma cúpula extraordinária dos líderes da Otan, além de encontros da UE (União Europeia) —da qual Zelensky quer que a Ucrânia faça parte, como reafirmou hoje— e do G7, que visam consolidar as posições dos Estados Unidos e seus aliados diante da invasão iniciada pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Aos líderes da Otan, Zelensky, em um discurso duro, lembrou que a Ucrânia recorreu ao grupo “em busca de aviões para não perdermos tantas pessoas”. “E vocês têm milhares de caças! Mas ainda não recebemos um”, disse em discurso, divulgado pelo gabinete do presidente ucraniano. “Vocês têm pelo menos 20 mil tanques! A Ucrânia pediu uma porcentagem. Um por cento de todos os seus tanques! Dê-nos ou venda-nos. Mas ainda não temos uma resposta clara.”

O pior da guerra é não ter respostas claras aos pedidos de ajuda. A Ucrânia nunca quis esta guerra. E não quer lutar por anos.
Só queremos salvar nosso povo
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, à Otan

Questionado sobre os pedidos de Zelensky, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que o discurso do ucraniano foi ouvido com atenção, e que os aliados fazem o possível para ajudar a Ucrânia, fornecendo apoio “significativo” ao país.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também participa do encontro em que, junto com aliados europeus, anunciou sanções a oligarcas e políticos russos. Ele também estabelecerá com o G7 —grupo que reúne as sete maiores economias do mundo— uma iniciativa para coordenar a implementação de todas as restrições impostas a Moscou e impedir qualquer tentativa de contorná-las.

Para Stoltenberg, Putin “cometeu um grave erro: o de ter iniciado uma guerra contra uma nação independente e soberana”. “Subestimou a força e coragem dos ucranianos.”

Segundo ele, a Otan “aumentou a presença militar na região”. Os líderes da Otan discutiram “a necessidade de reorganizar nossa dissuasão e defesa a longo prazo”. Stoltenberg indicou que o “primeiro passo” foi estabelecer “quatro novos grupos de combate no flanco leste da aliança, na Bulgária, Romênia, Hungria e Eslováquia”, o que teve a concordância dos líderes. A Otan já mobilizou os grupos de combate em outros quatro países: Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia.

Ataque a navio

Hoje, as Forças Armadas da Ucrânia divulgaram que um navio russo foi destruído no porto de Berdyansk —que fica a 750 quilômetros da capital ucraniana—, controlado pela Rússia. O Ministério da Defesa da Rússia não mencionou, em seu relatório matinal, a perda do navio, mas disse que “unidades do exército russo assumiram completamente o controle da cidade de Izyum, na região de Kharkiv”. A Ucrânia, porém, nega. A informação não pôde ser verificada de forma independente.

“O grande navio de desembarque dos ocupantes russos foi destruído perto do porto de Berdyansk”, disse um comunicado das Forças Armadas nesta quinta. Berdyansk fica 80 quilômetros a oeste do porto estratégico de Mariupol, cidade que está sitiada pelos russos.

A imprensa ucraniana disse que moradores relataram duas explosões por volta das 6h40, horário local (1h40, em Brasília), que teriam sido ouvidas em toda a cidade.

O porto de Berdyansk é estratégico para os russos porque permite o fornecimento de equipamentos, munições e militares para as regiões do sul da Ucrânia.

A agência russa Tass, que citou o canal de televisão Zvezda, do ministério russo da Defesa, havia informado que o navio de transporte pertencia à Frota do Mar Negro de Moscou e foi o primeiro a chegar a Berdyansk, em 21 de março. “A chegada deste grande navio de desembarque ao porto de Berdyansk é um evento importante, que abre possibilidades para o Mar Negro em questões logísticas, usando plenamente a infraestrutura de Berdyansk”, afirmou na ocasião o canal Zvezda.

O navio, com capacidade para 1.500 toneladas de carga, “está descarregando veículos blindados que vão reforçarão nosso deslocamento”, acrescentou a emissora.

Para a Ucrânia, os principais alvos da Rússia “continuam sendo a infraestrutura militar e civil” nas regiões de Kiev, capital do país, Chernihiv, no norte ucraniano, e Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana, no leste.

Um mês de guerra

Nesta quinta, em que a guerra chega ao 29º dia, os militares ucranianos recordaram a invasão, iniciada em 24 de fevereiro. Para o serviço de emergências da Ucrânia, “24 de março marca o mês da invencibilidade da Ucrânia”. “Um mês de luta feroz de todo o povo ucraniano contra a agressão russa pelo direito de viver em um estado europeu livre. Este é o mês da nossa firmeza, que já provou ao mundo que é tão fácil não nos derrotar.”

Ainda temos um período muito difícil pela frente. A máquina militar russa não vai parar até que esteja encharcada no sangue de seus soldados. A sociedade russa já sofre algumas consequências, mas está intimidada e passiva
Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia

Mortes na região de Lugansk

Ao menos quatro pessoas morreram, incluindo duas crianças, e seis ficaram feridas em um ataque russo na cidade de Rubizhne, próxima de Lugansk, leste da Ucrânia, informou hoje o governador da região, Serguii Gaidai.

Ele acusou “a aviação russa de lançar bombas de fósforo sobre Rubizhne”. Outras autoridades regionais fizeram acusações similares nos últimos dias, informações que não foram possíveis de confirmar com fontes independentes.

Reposição russa

A inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido disse hoje avaliar que “as forças russas quase certamente sofreram milhares de baixas durante a invasão da Ucrânia”, sem indicar números. O governo ucraniano estima que a Rússia perdeu cerca de 15,8 mil soldados no conflito, número que não pôde ser verificado de forma independente. Os russos não indicaram um balanço recente.

“A Rússia, provavelmente, está agora procurando mobilizar sua mão de obra reservista e recruta, bem como empresas militares privadas e mercenários estrangeiros, para substituir essas perdas consideráveis.” Para os britânicos, “não está claro como esses grupos se integrarão às forças terrestres russas na Ucrânia e o impacto que isso terá na eficácia do combate.” O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, já indicou que fornecerá mais 6 mil mísseis à Ucrânia.

 

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

 

Kiev “calma”

Após mais um toque de recolher, encerrado às 7h, horário local (2h, em Brasília), a prefeitura de Kiev disse que a noite e a madrugada foram “relativamente calmas”. Mas, no início da tarde, horário local, uma casa de dois andares ficou em chamas após ser atingida por um projétil, de acordo com o serviço de emergências da Ucrânia. Ninguém ficou ferido.

“As autoridades da cidade pedem aos moradores de Kiev que tomem cuidado e não se desloquem pela cidade desnecessariamente”, disse a prefeitura. “E, no caso de receber um sinal de alarme aéreo, vá para o abrigo imediatamente. Cuide da sua segurança e ajude quem está ao seu redor.”

Desde o início da invasão, ao menos 264 civis morreram na capital, segundo a prefeitura, que estima que a população da capital tenha caído pela metade em razão da guerra. Antes, eram 3 milhões de habitantes.

Na região de Kiev, houve registro de ataque nesta madrugada. Na cidade de Vasylkiv, a cerca de 40 quilômetros da capital, a área de produção o armazém de uma empresa foi atingido nesta madrugada após uma ação aérea das forças russas, segundo o serviço de emergências da Ucrânia, que não indicou qual era a atividade da empresa. “O fogo consumiu a área de produção e armazenamento de mais de 4 mil metros quadrados. Ninguém ficou ferido.” As chamas já foram apagadas.

Kherson controlada

Cidade tomada pelos russos no sul da Ucrânia, Kherson —a cerca de 650 quilômetros de Kiev—passa por um processo de “desminagem de terras agrícolas”, segundo o Ministério da Defesa da Rússia. Eles apontaram a retirada de ao menos “12 mil objetos explosivos”.

“Nos mapas das Forças Armadas da Ucrânia, que foram apreendidos por militares russos em quartéis-generais abandonados, foram marcados campos minados, que foram deliberadamente colocados em terras e instalações agrícolas”, disse o ministério.

Já o Ministério da Defesa da Ucrânia fala que, “nos territórios temporariamente ocupados da região de Kherson, em conexão com protestos pacíficos contra a ocupação, o inimigo recorreu ao terror da população local” contra as manifestações.

“Kherson, onde cidadãos desarmados estão resistindo aos ocupantes, está provando a todos que ninguém chamou os soldados russos. Estes são criminosos de guerra de um estado terrorista que invadiram [a Ucrânia] à força”, disse Reznikov.

(Com Reuters, AFP, Ansa e EFE)

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