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Vida de traumas: os sobreviventes do nazismo que morreram agora na Ucrânia

A Fundação Memorial de Buchenwald e Mittelbau-Dora estima que cerca de 42 mil sobreviventes da perseguição nazista vivem atualmente na Ucrânia e agora, diante de uma nova guerra, estão revivendo parte dos traumas sofridos no verão de 1941, quando milhares de judeus foram brutalmente mortos por alemães e seus colaboradores ucranianos.

A comunidade judaica ucraniana é hoje uma das mais numerosas da Europa, com cerca de 70 mil judeus praticantes e mais de 300 mil ucranianos de origem judaica.

Veja abaixo a história de 4 sobreviventes ao Holocausto que não conseguiram passar pela invasão da Rússia à Ucrânia.

Vanda Semyonovna Obiedkova

Oitenta anos depois de fugir dos nazistas, Vanda morreu aos 91 anos, após ficar duas semanas sem conseguir se levantar, congelando e implorando por água no porão de sua casa na cidade de Mariupol, principal ponto de bombardeios russos.

Ela morreu em 4 de abril, não pacificamente de velhice em sua própria cama, mas como vítima da guerra que envolve sua cidade natal. Mariupol é uma peça-chave para a tentativa de conquista da Rússia e sofre o impacto de ataques prolongados.

Vanda nasceu ali, no dia 8 de dezembro de 1930. Ela tinha apenas 10 anos quando os nazistas entraram na cidade procurando por judeus. Quando a SS (Schutzstaffel) veio até a família e levou a mãe de Vanda, Maria (Mindel), a garota conseguiu evitar a prisão se escondendo no porão de casa.

Em 20 de outubro de 1941, os alemães executaram entre 9.000 e 16.000 judeus em valas nos arredores de Mariupol, incluindo a mãe de Vanda. A menina foi detida mais tarde, mas amigos da família vieram e convenceram os nazistas de que ela era grega.

Seu pai, que não era judeu, conseguiu que ela fosse internada em um hospital, onde ela permaneceu até que Mariupol fosse libertada em 1943.

Ela se casou em 1954, quando Mariupol era conhecida pelo nome soviético de Zhdanov, e passou toda a sua vida na cidade.

A idosa vivia com sua filha Larissa, que assistiu de forma impotente a mãe partir. Larissa e seu marido arriscaram suas vidas para enterrá-la, em meio aos bombardeios ininterruptos, em um parque público a menos de um quilômetro do mar de Azov.

Quando os ataques russos iniciaram no início de março, a família se mudou para o porão de uma loja vizinha de fornecimento de aquecimento. A única assistência que a família recebeu ao longo desse tempo veio de uma sinagoga e de um centro comunitário.

“Não havia água, nem eletricidade, nem calor —e estava insuportavelmente frio”, disse Larissa em entrevista ao site judeu Chabad.org. Ela passou todo o seu tempo cuidando de sua mãe imóvel, mas “não havia nada que pudéssemos fazer por ela. Estávamos vivendo como animais.”

Foi só depois da morte de Vanda que Larissa e sua família conseguiram deixar a cidade para um lugar seguro.

Boris Romantschenko

Boris, um sobrevivente do Holocausto de 96 anos de idade, morreu no dia 18 de março quando seu prédio foi destruído pelas bombas russas, na cidade ucraniana de Kharkiv.

Ele era o vice-presidente da Fundação de Memoriais de Buchenwald e Mittelbau-Dora, uma organização criada para honrar e guardar a memória de pessoas que perderam a vida nos campos de concentração nazistas construídos em Buchenwald e em Mittelbau-Dora.

O judeu foi deportado para a Alemanha em 1942, aos 16 anos, como trabalhador forçado. Depois de uma tentativa de fuga ele foi enviado para o campo de Buchenwald no centro da Alemanha em 1943 e então internado em Peenemünde, Mittelbau-Dora e Bergen-Belsen.

Antes de voltar para a Ucrânia, foi obrigado a servir vários anos no exército soviético estacionado na Alemanha Oriental, de acordo com a associação de caridade Maximilian Kolbe, envolvida em apoio material e psicológico a ex-prisioneiros de campos nazistas.

A associação mantinha contato com ele há vários anos. Uma colaboradora disse à AFP que ele estava doente e mal podia sair do apartamento onde morava sozinho.

Memorial em Kharkiv

O governo ucraniano acusou os russos de danificar um memorial do Holocausto na periferia de Kharkiv, segunda cidade mais populosa do país e que está sob ataque desde o início da guerra.

Uma mensagem publicada em 26 de março pelo Ministério da Defesa ucraniano no Twitter diz: “Os invasores russos dispararam e danificaram o Memorial do Holocausto em Drobytsky Yar, na periferia de Kharkiv. Os nazistas voltaram. Exatamente 80 anos depois”.

O memorial está localizado onde as forças nazistas mataram milhares de pessoas durante a invasão à União Soviética, no fim de 1941, e foi inaugurado em dezembro de 2002, representando a menorá —um candelabro de sete braços que simboliza o judaísmo.

Memorial em Kiev

O governo ucraniano já havia acusado o exército russo de danificar um memorial do Holocausto em Kiev no dia 1º de março. A informação foi divulgada por Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

O local foi construído em Babi Yar, bairro que foi palco da morte de cerca de 34 mil judeus em 1941.

“Para o mundo: qual é o ponto em dizer ‘nunca novamente’ por 80 anos se o mundo fica quieto quando uma bomba cai no mesmo lugar de Babi Yar? Pelo menos cinco mortos. A História se repete”, escreveu Zelensky no Twitter.

No entanto, no dia seguinte, o jornalista israelense Ron Ben Yishai, desmentiu a informação em um artigo no jornal Yediot Ahronot. Ele visitou o monumento e confirmou que o local não foi atingido.

“Ontem, o governo ucraniano divulgou informações enganosas sobre os danos ao local, incluindo a monumentos e à área de sepultura judaica. Tudo isso, vi com meus próprios olhos depois de um passeio abrangente pelo local, não corresponde à realidade”, escreveu. (Com agências internacionais).

Fonte: UOL

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