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Rússia diz, em meio a guerra de narrativas, que navio de guerra danificado será rebocado

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta quinta (14) que os tripulantes do Moskva, o carro-chefe da frota do país no mar Negro e símbolo do poder naval russo, foram retirados e que as chamas que tomaram o navio já foram controladas. O cruzador, que ainda estaria flutuando, agora está sendo levado ao porto.

O episódio é mais um exemplo da guerra de narrativas entre Moscou e Kiev. Enquanto a defesa russa diz que o incêndio foi gerado por uma explosão de munição ali transportada, cuja razão ainda é desconhecida, ucranianos afirmam ter atingido o navio com um míssil Neptune e que a estrutura começou a afundar.

Nenhuma das versões pôde ser confirmada de maneira independente, mas analistas militares afirmam que, caso o ataque ucraniano tenha sido real, o episódio representaria um golpe moral para o governo de Vladimir Putin no 50º dia de guerra no Leste Europeu. O navio, de cerca de 186 metros de comprimento, entrou para a frota russa no início dos anos 1980 e foi construído no porto de Mikolaiv, no território que hoje é da Ucrânia —à época, parte da União Soviética. A capacidade é de mais de 500 tripulantes.

O cruzador desempenhou papel importante em várias campanhas militares do país, inclusive na Síria. Agências de notícias russas dizem que 16 mísseis com alcance de até 700 km estavam a bordo.

Enquanto isso, intensificam-se os ataques na porção leste do território ucraniano e na fronteira do país com a Rússia. O FSB (Serviço Federal de Segurança) acusou Kiev de ter realizado ao menos seis ataques aéreos a uma área residencial da vila de Klimovo, na região russa de Briansk, e disse que sete pessoas ficaram feridas. Autoridades ucranianas ainda não se manifestaram sobre o incidente.

O Ministério da Defesa do Reino Unido, que monitora o conflito, disse em seu relatório diário que as cidades de Kramatorsk e Kostiantinivka devem ser os próximos alvos russos com ataques generalizados.

As regiões de Kharkiv, Donetsk e Zaporíjia, todas ao leste, são as mais atingidas no momento, relatou a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar. Na primeira, o governador Oleh Siniegubov afirmou que quatro civis morreram e outros dez ficaram feridos durante um bombardeio. Ele também pediu para que moradores de alguns vilarejos se retirem, já que operações militares devem ocorrer nessas áreas.

Kiev acusa Moscou de concentrar tropas não somente na fronteira leste ucraniana, mas também na Transnístria —área pró-Moscou na Moldova— e na Belarus, ditadura aliada de Moscou que já sediou negociações infrutíferas para um cessar-fogo.

O país reabriu nesta quinta nove corredores humanitários, que haviam sido fechados no dia anterior, informou a vice-primeira-ministra Irina Vereschuk. As rotas para retiradas de civis serão estabelecidas em cidades como a sitiada Mariupol, Tokmak, Enerhodar e Berdiansk.

Ela também afirmou que um corredor seria aberto em Lugansk, no Donbass, área de maioria russófona, mas somente se os russos cessarem os bombardeios. Autoridades ucranianas têm pedido à população para fugir para o oeste pelo temor da intensificação dos ataques russos na região.

Ainda nesta quinta, o Kremlin subiu o tom nas ameaças a Finlândia e Suécia, países geograficamente próximos da Rússia que discutem, de forma acelerada devido à guerra, a possibilidade de aderir à Otan, a aliança militar ocidental. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Perkov, disse a repórteres que Putin irá avaliar uma série de medidas para reforçar a segurança do país caso Helsinque e Estocolmo se somem à aliança e que a Defesa russa já prepara propostas sobre o assunto, sem especificá-las.

Pouco depois, um dos principais aliados de Putin, Dmitri Medvedev, ex-presidente e atual vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia, disse que, caso os países decidam aderir, a Rússia terá de fortalecer suas forças navais e aéreas no mar Báltico. E levantou a ameaça nuclear ao dizer que não será mais possível falar em um “Báltico sem armas nucleares”. “O equilíbrio deverá ser restaurado”, afirmou.

“Até aqui, a Rússia não tomou essas medidas e não iria tomá-las, mas, se formos forçados a isso, lembrem-se de que não fomos nós que o propusemos”, acrescentou o russo.

A Lituânia, país que, junto com a Polônia, faz fronteira com o enclave russo de Kaliningrado, minimizou as ameaças. O ministro da Defesa do país, Arvydas Anusauskas, disse a um canal local que a Rússia já tem mísseis nucleares táticos armazenados ali. “A comunidade internacional e os países da região estão perfeitamente cientes disso; eles [os russos] usam isso apenas como uma ameaça”, seguiu.

Fonte: Folha de S.Paulo

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