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Marcha de 3,5 mil km da oposição indiana chega a Nova Déli

Deutsche Welle – Líderes do principal partido de oposição da Índia e mais de mil apoiadores que fazem uma marcha de cinco meses pelo país chegaram à capital Nova Déli neste sábado (24/12), com o objetivo de desafiar o partido governista do primeiro-ministro Narendra Modi, de direita nacionalista hindu.

A marcha foi iniciada em 7 de setembro, em Kanyakumari, ponto mais ao sul da Índia, já atravessou oito estados e deve terminar em fevereiro na Caxemira, no norte, após percorrer 3.570 quilômetros. O grupo fará uma pausa de nove dias na capital antes de seguir viagem.

No comando da caminhada está Rahul Gandhi, líder do partido Congresso Nacional Indiano (INC) e herdeiro da influente família Gandhi. O INC apoia o Estado laico e a diversidade religiosa, e era um partido hegemônico no país até o final dos anos 1990.

Acompanhado da mãe, Sonia Gandhi, e da irmã, Priyanka Gandhi, o líder de 52 anos disse que pretende mostrar a “verdadeira Índia”, em oposição ao que ele chama de “versão cheia de ódio” do país oferecida por Modi, líder do Partido Bharatiya Janata (BJP).

Barba espessa e críticas à polarização religiosa

A caminhada vem atraindo a atenção de agricultores preocupados com o aumento de suas dívidas, estudantes insatisfeitos com o aumento do desemprego e membros da sociedade civil e ativistas de direitos humanos que apontam declínio da qualidade da democracia indiana – a maior do mundo.

A Índia está entre os países que registraram maior retrocesso democrático nos últimos anos, ao lado do Brasil, da Polônia, da Hungria e da Turquia, segundo o Instituto Variedades da Democracia (V-Dem), um grupo de pesquisa independente sediado na Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

Ao longo da caminhada, Gandhi deixou crescer uma espessa barba e dormiu em quartos de contêineres durante as paradas noturnas. Em discursos, vem criticando Modi e seu governo por fazerem pouco para enfrentar a crescente desigualdade econômica e a polarização religiosa na Índia, além das ameaças feitas pela China, com quem os indianos disputam uma área fronteiriça na região montanhosa de Ladakh.

O partido de Modi minimizou a marcha e classificou as falas de Gandhi como um recurso político para recuperar sua “credibilidade perdida”. “A característica do [partido] Congresso [Nacional Indiano] tem sido quebrar a Índia”, disse a legenda de Modi no Twitter neste sábado.

O nacionalismo hindu cresceu sob Modi e seu partido, que vem sendo criticado pelo aumento do discurso de ódio e da violência contra os muçulmanos. Os opositores dizem que o silêncio do primeiro-ministro encoraja os grupos extremistas de direita e ameaça a unidade nacional, o que seu partido nega.

Eleição à vista

Mesmo que o partido de Gandhi diga que o principal objetivo da marcha é restabelecer uma conexão emocional com os indianos, é difícil ignorar suas ambições eleitorais.

Com uma eleição nacional a menos de 16 meses, a inciativa poderia ajudar a enfraquecida oposição a enfrentar o partido de Modi, que ganhou a maioria dos assentos do Parlamento em 2014 e em 2019.

Narendra Modi acenando
No poder desde 2014, Narendra Modi segue com popularidade altaFoto: Sergei Bobylev/Sputnik/Kremlin Pool Photo/AP/picture alliance

 

Rasheed Kidwai, um analista político, disse à agência de notícias AP que Gandhi está “usando alguns métodos politicamente corretos em sua longa caminhada com potencial para fazer algumas melhorias na sua imagem”. Mas advertiu que somente os resultados eleitorais definirão se a marcha foi bem sucedida.

“O BJP de Modi tem uma taxa de sucesso de cerca de 90% em mais de 200 assentos parlamentares onde está em disputa direta com o Congresso Nacional Indiano. Se a marcha reduzir esse índice, seria um sucesso e tanto”, disse.

Em 2019, o partido de Modi ganhou 303 dos 543 assentos no Parlamento, em parte devido à sua agenda nacionalista hinduísta. O partido de Gandhi ficou com um distante segundo lugar, com apenas 52 assentos.

Desde que Modi chegou ao poder pela primeira vez em 2014, o Congresso Nacional Indiano sofreu derrotas esmagadoras e atualmente governa apenas três dos 28 estados do país.

Atormentado pela crise de liderança e por disputas eleitorais, o partido elegeu em outubro seu primeiro presidente não-Gandhi após 24 anos, numa tentativa de superar a imagem de ser dirigido por uma única dinastia – Sonia Gandhi e Rahul Gandhi estavam no comando da legenda desde 1998.

Em novembro, a empresa de pesquisas C-Voter identificou uma leve alta da popularidade de Gandhi desde o início da marcha, de 29% para 31%. No entanto, ela segue bem abaixo da popularidade de Modi, atualmente de 66%.

DW Brasil – bl (AP, Reuters)/Foto: Altaf Qadri/AP/picture alliance

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