Geral Internacionais Política

Haiti: representantes da ONU soam alarme sobre gravidade de várias crises

Altos funcionários das Nações Unidas fizeram novos alertas sobre a piora da situação de segurança e humanitária no Haiti.

O especialista independente* sobre a situação no país caribenho expôs como a violência agrava a miséria, o medo e o sofrimento. Para William O’Neill, a realidade haitiana requer urgência por estar “em jogo a sobrevivência de uma nação inteira”.

200 membros de grupos mortos

A diretora-executiva do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, que voltou do país na segunda-feira, diz que a atual situação de insegurança é inaceitável. Catherine Russell revelou a jornalistas, em Nova Iorque, que a crise está sendo esquecida.

Desde maio, dobraram os crimes de violência sexual registrados na capital, Porto Príncipe
© Ocha/Adrienne Surprenant

 

A chefe da agência contou que mulheres e crianças haitianas estão morrendo. Além disso, destacou haver escolas e espaços públicos sendo usados como abrigos seguros. Para Russell, o mundo deve ajudar a restaurar a confiança da população e ouvir melhor o que o povo haitiano precisa numa crise que está se tornando negligenciada.

Em situação sem precedentes, cerca de 5,2 milhões de pessoas precisam de ajuda, ou quase metade da população. Destes, cerca de 3 milhões são crianças. A chefe do Unicef relatou “níveis históricos” de fome, desnutrição, pobreza, economia debilitada, ressurgimento do cólera e insegurança em massa.  A realidade ilustra uma tendência de alta da violência mortal. 

Milhares de crianças vítimas de fogo cruzado

Russell chamou a atenção para a fragilidade do país a inundações e terremotos ressaltando efeitos das mudanças climáticas e dos desastres naturais.

Ele citou relatos de que milhares de crianças estão sendo vítimas de fogo cruzado nos confrontos violentos ou recrutadas e utilizadas pelos grupos armados. 

Catherine Russell disse que a crise haitiana está sendo esquecida.
© Unicef/Georges Harry Rouzier

 

Certas comunidades registram “níveis surpreendentes de violência de gênero”, com casos de estupro usados como tática de intimidação e controle.

O especialista William O’Neill visitou o Haiti por 10 dias. Uma das propostas é que a comunidade internacional declare imediatamente um embargo de armas e autorize uma força de intervenção para combater “a violência endêmica”. Pelo menos 200 membros de gangues morreram nos últimos meses.

Repatriamento de milhares de migrantes 

O’Neill também lamentou as “deportações em massa” de haitianos que fogem da situação. Ele citou o uso de métodos que não respeitam os padrões de direitos humanos e violam pactos bilaterais de migração no repatriamento de cerca de 176.777 migrantes no ano passado.

Num pedido feito às autoridades da República Dominicana, ele exigiu o respeito aos acordos. Para as outras nações vizinhas, o especialista frisou que devem parar as deportações em massa, principalmente de menores desacompanhados.

Os índices da criminalidade no Haiti pioraram após o assassinato do presidente Jovenel Moise em 2021. Para O’Neill, a falta de um governo concreto pode ser vista, claramente, no limite de acesso dos haitianos à água, comida, saúde, educação e moradia. 

Cerca de 3 milhões de crianças precisam de ajuda
© Unicef

 

O perito destacou “desafios imensos” para as autoridades do Haiti, mas lembrou que estas têm o dever de responder a situação “dentro de suas capacidades limitadas”.

O especialista falou de um cenário de bairros inteiros “abandonados à própria sorte, sem acesso a nenhum serviço público”. Desde maio, dobraram os crimes de violência sexual registrados na capital, Porto Príncipe.

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.

Fonte: ONU News – Foto destaque:© Ocha/Adrienne Surprenant 

Related Posts