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Gaza: “uma porta” não é suficiente para levar ajuda a 2,2 milhões de pessoas

À medida que a guerra em Gaza entre Israel e militantes palestinos atinge a marca dos 100 dias, a ONU continua trabalhando intensamente para satisfazer as necessidades urgentes de milhares de civis deslocados através de uma única porta, na passagem de Rafah.

Para o coordenador residente interino da ONU no Território Palestino Ocupado, Jamie McGoldrick, essa restrição imposta por Israel precisa mudar. 

Assistência prejudicada

Em entrevista para a ONU News neste sabado, a primeira desde que assumiu o cargo no final do mês passado, ele afirmou que as operações de ajuda humanitária têm sido prejudicadas “pela insistência do governo de Israel em usar uma passagem para pedestres em Rafah para transportar caminhões de suprimentos.” 

MacGoldrick afirmou que provavelmente toda a população de Gaza, composta por 2,2 milhões de pessoas, precisa de algum tipo de assistência e que não dá para fazer isso usando “um único ponto de passagem”. 

Atualmente cerca de 1,8 milhões de pessoas estão em Rafah, no sul de Gaza, que costumava ter uma população de cerca de 250 mil habitantes. O representante da ONU disse que ao chegar no local, o que mais impressiona é a imensidão da quantidade de pessoas deslocadas, presentes em cada rua e cada calçada. 

“Ninguém teve tempo para planejar nada. As pessoas corriam de onde vinham: da zona central, da zona norte, e vinham com muito pouco”, afirmou McGoldrick.

Desespero e resiliência de funcionários da ONU

Sobre o impacto da guerra em colegas da ONU que atuam em Gaza, ele afirmou que “a vida que eles tiveram se foi e provavelmente se foi por muito tempo. Portanto, há um certo grau de choque e um certo grau de desespero”. 

O representante também prestou homenagem à resiliência e a firmeza de alguns desses colegas que estiveram nessa situação e que foram para o sul “fugindo como pessoas deslocadas, mas ainda determinados a trabalhar”.

Ao todo, 146 funcionários da ONU foram mortos, todos perderam partes das famílias, mas ainda assim, esses profissionais humanitários “seguem empenhados em gerar resultados” para as pessoas necessitadas. 

Questões mais urgentes

Segundo McGoldrick, as questões mais urgentes agora são melhores abrigos, mais abastecimento de alimentos, melhor água e saneamento, situação de esgotos e necessidades de saúde. Ele também destacou a necessidade de prevenção contra violência baseada em gênero e proteção infantil, pois existem muitas crianças deslocadas desacompanhadas.

Para os profissionais humanitários, ele fez um apelo por proteção, o que significa ter bons sistemas de comunicação e capacidade de movimento assegurada. 

Dadas as limitações da entrada de ajuda, ele destacou a importância do reestabelecimento do setor comercial privado. 

Novos métodos

De acordo com o representante da ONU, as lojas estão fechadas porque todas as provisões acabaram. Mas se os estoques forem repostos em grande escala, os atores humanitários podem começar a usar um sistema de cartões de dinheiro ou vouchers.

Isso permitiria que as pessoas fizessem compras conforme suas necessidades e aliviaria os custos e a logística de levar suprimentos para o enclave. 

Ele defendeu também que é preciso pressionar mais e reforçar as negociações para a libertação imediata e incondicional de reféns pelo Hamas. 

Fonte: ONU News – Imagem: Ocha/TPO

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