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China suspende parte das restrições da Covid em passo significativo para a reabertura

CNN – A China anunciou mudanças radicais em sua resposta nacional à pandemia na quarta-feira (7). É o sinal mais claro e significativo de que o governo central está se afastando de sua abordagem restrita de Covid zero que provocou protestos em todo o país nas últimas semanas.

Em um comunicado divulgado pela emissora estatal CCTV, o Conselho de Estado da China revelou dez novas diretrizes que afrouxam algumas restrições. As duas principais são a permissão da quarentena em casa e o fim do uso do QR code (então obrigatório para entrar na maioria dos lugares públicos) em boa parte do país.

Os governos locais, incluindo de algumas das grandes cidades, já haviam tomado medidas nesta semana que indicavam uma possível mudança de direção, como o afrouxamento na exigência de testes de Covid.

Mas esta é a primeira mudança oficial na política para o coronavírus a nível nacional – uma notável reviravolta do governo chinês, que nos últimos três anos insistiu que restrições inabaláveis são a única maneira eficaz de eliminar o vírus altamente transmissível.

Conheça algumas das maiores mudanças.

Desde o início da pandemia, a China tem usado códigos de saúde em telefones celulares para rastrear os status de saúde dos cidadãos. A cor desses códigos – em vermelho, amarelo (ou âmbar) e verde – decide se os usuários podem sair de suas casas, usar o transporte público, entrar em locais públicos ou precisar de quarentena.

De acordo com as diretrizes divulgadas na quarta-feira, as pessoas poderão entrar na maioria dos lugares sem mostrar um resultado negativo do teste ou seu código de saúde – um passo significativo após quase três anos de interrupção nas rotinas diárias e meios de subsistência das pessoas.

Apenas algumas exceções ainda exigirão esses controles, incluindo lares de idosos, instituições médicas e escolas de ensino fundamental. De acordo com a nova diretriz, as empresas agora podem determinar suas próprias políticas de prevenção e controle.

Permissão para quarentena em casa

Em outra mudança significativa, pacientes assintomáticos de Covid ou aqueles com sintomas leves poderão cumprir quarentena em casa em vez de serem levados para uma instalação do governo, a menos que escolham o contrário.

Já os pacientes com piora do quadro serão transferidos para um hospital para tratamento. Contatos próximos também podem fazer em quarentena em casa.

Ao longo da pandemia, os chineses relataram o caos e o estresse de entrar em campos de quarentena. Muitos dizem que não ficava claro quando eles seriam autorizados a sair, e outros reclamaram de instalações lotadas ou em más condições.

Há várias denúncias de que profissionais de saúde teriam matado animais de estimação de pessoas levadas à quarentena do governo, citando riscos para a saúde – e provocando sempre indignação nas redes sociais chinesas. Outros criticaram as medidas depois de relatos no início deste ano que mostravam idosos sendo forçados a sair de suas casas no meio da noite para seguirem para quarentena.

Limites ao lockdown

As novas diretrizes também instam as autoridades a “garantir o funcionamento normal da sociedade e dos serviços médicos básicos”, dizendo que áreas não consideradas de alto risco não devem restringir os movimentos das pessoas ou fechar empresas.

Os lockdowns agora só são permitidos em “áreas de alto risco” e, mesmo assim, devem ser “prontamente” suspensos se nenhum novo caso for encontrado por cinco dias consecutivos. O texto também afirma que as autoridades estão proibidas de bloquear fugas de incêndio, entradas de apartamentos ou edifícios e outros portões, permitindo que residentes possam sair e procurar assistência médica se necessário.

É uma diretriz promulgada num momento particularmente sensível, com a China ainda se recuperando de uma onda de protestos públicos raros no final de novembro e início de dezembro, desencadeados por um incêndio mortal na região do extremo oeste de Xinjiang. A fúria popular varreu a nação depois de vídeos do incidente indicarem que as medidas de lockdown teriam atrasado a chegada dos bombeiros.

Durante os protestos, milhares de pessoas em todo o país saíram às ruas para pedir o fim dos bloqueios e de outras medidas visando a Covid zero – com algumas queixas indo além, atacando a censura e a liderança autoritária do Partido Comunista no poder.

Plano de vacinação

O novo documento do Conselho de Estado revelado na quarta-feira também enfatizou a necessidade de acelerar a vacinação contra Covid entre os idosos, dizendo que todos os locais devem “aplicar o maior número de vacinas possível”.

Embora a variante ômicron seja mais suave do que as cepas anteriores e a taxa geral de vacinação da China seja elevada, especialistas dizem que mesmo um pequeno número de casos graves entre grupos vulneráveis e subvacinados, como os idosos, poderia sobrecarregar os hospitais se as infeções aumentarem no país de 1,4 bilhão de habitantes.

Mais de 86% da população da China com mais de 60 anos está totalmente vacinada, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde da China. Mas isso significa que 25 milhões de pessoas não receberam nenhuma dose, de acordo com uma comparação dos números oficiais da população e dados de vacinação de 28 de novembro. As doses de reforço estão em nível ainda mais baixo, com mais de 45 milhões de idosos totalmente vacinados ainda aguardando a terceira vacina.

Para a faixa etária com mais de 80 anos, cerca de dois terços foram totalmente vacinados, mas apenas 40% receberam doses de reforço, de acordo com dados de 11 de novembro.

Viagens domésticas

Moradores fazem fila para testes de Covid em Hohhot, Mongólia Interior, China, em 1º de dezembro. CFOTO/Future Publishing/Getty Images

As regras também facilitam os deslocamentos dentro da China: os viajantes já não precisam fornecer um resultado negativo do teste ou seu código de saúde ou teste na chegada em trechos entre regiões do país.

As medidas anteriores, bem como outras restrições de viagem como o fechamento de fronteiras de províncias e suspensões da circulação de trens e ônibus, dificultaram as viagens domésticas nos últimos anos.

Muitos na China que deixaram suas cidades para trabalhar em outras cidades e províncias precisavam se separar da família por longos períodos – ou ficarem fechados em casa e sem renda durante os lockdowns.

Nos últimos dias, alguns usuários das redes sociais apontaram que falta apenas um mês para o Ano Novo Lunar. É o maior feriado anual do país, um momento em que as pessoas normalmente viajam para se reunir com a família.

Para alguns, a perspectiva de viagens em massa em todo o país trouxe a preocupação de o vírus se espalhar mais uma vez. Outros, muito cansados com o peso da política de Covid zero, ficaram aliviados com a notícia.

“Eu não vou para casano Ano Novo há dois anos, estou chorando”, disse uma pessoa no Weibo. Outra escreveu: “Já faz muito tempo. Bem-vindo à casa”.

Remédios, escolas e monitoramento

Algumas outras diretrizes também devem facilitar a transição da Covid zero para um modelo menos radical.

Um exemplo é o das escolas sem surtos de Covid, que agora devem realizar “atividades normais de ensino presencial” e reabrir instalações no campus, como cafetarias, bibliotecas e espaços esportivos. Escolas com casos de Covid podem continuar com “ensino e vida normais”, desde que separem certas “áreas de risco” com medidas de controle.

As diretrizes também enfatizam a necessidade de tornar os remédios amplamente acessíveis, tirando restrições que antes tornavam difícil comprar os produtos para resfriados e febres nas farmácias. Desde o início da pandemia, a China exigia receita médica e um teste negativo de Covid para comprar tais medicamentos.

Talvez refletindo a preocupação do povo de que o relaxamento nas regras poderia causar um aumento nos casos, os moradores correram para farmácias: já na semana passada, antitérmicos e antigripais sumiram de várias prateleiras.

O Conselho de Estado também pediu aos médicos e aos serviços de saúde locais que continuem acompanhando de perto a situação de saúde das populações-chave, como idosos e imunocomprometidos.

Alguns especialistas alertaram que uma reabertura mais ampla inevitavelmente traz riscos para a saúde, especialmente para esses grupos vulneráveis.

“O principal risco quando os países decidem se afastar de uma política de Covid zero é a pressão sobre o sistema de saúde”, disse Ruklanthi de Alkis, vice-diretor do Centro de Preparação de Surtos na Duke-NUS Medical School, em Singapura.

*Simone McCarthy e Nectar Gan da CNN contribuíram com reportagem/Foto: Aly Song/Reuters

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