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Bolsonaro tenta se distanciar de Roberto Jefferson após prisão do ex-deputado

Após o ataque a tiros e granadas contra a Polícia Federal (PF) promovidos pelo ex-deputado de extrema direita Roberto Jefferson (PTB), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou se desvincular do aliado. Apesar de supostamente repudiar a ação, Bolsonaro também usou o episódio para criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e mentiu sobre sua relação com o político extremista.

Em sua primeira manifestação, Bolsonaro criticou tanto o aliado como o inquérito do STF pelo qual Jefferson foi detido. “Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP”, escreveu em sua conta no Twitter.

Pouco depois, Bolsonaro determinou que o ministro da Justiça, Anderson Torres, fosse ao local – ainda que Jefferson não tenha nenhuma prerrogativa de foro especial. Nas redes, vários usuários questionaram por que um ministro foi deslocado para tratar do caso e apontaram que o mesmo tratamento não é dispensado para criminosos comuns que atacam policiais

Após a prisão do seu aliado e com os detalhes sobre a gravidade do ataque repercutindo negativamente na imprensa e nas redes, Bolsonaro finalmente adotou uma linguagem mais dura contra Jefferson, chamando o ex-deputado de “bandido” num vídeo divulgado nas redes.

“Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”, disse Bolsonaro.

Mentiras sobre relação e fotografias

Depois disso, Bolsonaro mentiu sobre seu vínculo com Jefferson e disse que não tinha nenhum relacionamento com ele.

“Não existe qualquer ligação minha com Roberto Jefferson, nunca se cogitou em trabalhar na minha campanha”, afirmou o presidente pouco antes da entrevista que concedeu à emissora de televisão Record neste domingo. “Nós não somos amigos, não não temos relacionamento”, afirmou o presidente já durante a sabatina.

Diante da repercussão negativa na investida de Jefferson contra os policiais, Bolsonaro tentou vincular o aliado ao adversário Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT, lembrando sua ligação com o Mensalão, que veio à tona após o ex-deputado delatar o escândalo, em 2005. Jefferson exerceu cinco mandatos consecutivos e acabou cassado por seu papel no Mensalão.

Em live neste domingo, o presidente ainda chegou a alegar que não havia fotografias dele com Jefferson. “Não tem uma uma foto dele comigo, nada”, declarou. No entanto, desde 2019, o PTB divulga nas redes sociais imagens dos encontros de Bolsonaro com o político. Há várias fotografias dos dois juntos.

Bolsonaro também recebeu Jefferson pelo menos duas vezes no Palácio do Planalto. Além disso, durante os debates do primeiro turno, o presidente contou com o apoio do candidato do PTB “padre” Kelmon, que atuou como substituto de Jefferson após o ex-deputado ter sua candidatura à Presidência barrada pela Justiça Eleitoral.

A máquina de propaganda bolsonarista também acompanhou o presidente e foi fazendo ajustes na sua “cobertura” do caso. No início do dia, influencers bolsonaristas e comentaristas da rede Jovem Pan, por exemplo, concentraram críticas à ordem do STF. Mais tarde, boa parte passou a retuitar o vídeo em que Bolsonaro chama Jefferson de bandido.

Acompanhando a nova posição do presidente, vários passaram a associar Jefferson ao PT e admitir que o ataque aos agentes foi mesmo grave. Alguns trataram de abordar outros assuntos numa tentativa de distrair seus seguidores.

Lula culpa Bolsonaro

Primeiro colocado nas pesquisas pela disputa à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou o episódio e culpou Bolsonaro pela violência.

“Há 50 anos que nós disputamos eleições neste país e a gente nunca viu uma aberração dessa, uma ofensa dessa, uma cretinice dessa que esse cidadão que é o meu adversário estabeleceu no país”, disse Lula, após um ato de campanha em São Paulo.

“Ele [Bolsonaro] conseguiu criar nesse país uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa e que espalha fake news o dia inteiro. Isso gera comportamentos como esse do ex-deputado Roberto Jefferson”, completou Lula. Nas redes, o petista também prestou solidariedade aos agentes feridos.

Oito horas de cerco

Investigado por suspeita de integrar uma organização criminosa que visa “desestabilizar as instituições republicanas”, Jefferson teve a prisão domiciliar revogada pelo Supremo Tribunal Federal após violar várias medidas cautelares. Nos últimos meses, ele se reuniu com dirigentes do PTB e concedeu uma entrevista ao canal Jovem Pan News. Mais recentemente, publicou em redes sociais ofensas à ministra do STF Cármen Lúcia.

Quando agentes da PF foram à casa do ex-deputado para cumprir a ordem de prisão neste domingo, Jefferson efetuou disparos de fuzil e lançou granadas. O ataque feriu a agente Karina Oliveira e o delegado Marcelo Vilella, que foram atingidos por estilhaços. Os dois passam bem.

No início da noite, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou nova prisão de Jefferson, desta vez por tentativa de homicídio. 

O ex-deputado de extrema direita se entregou somente após oito horas de cerco. O aliado de Bolsonaro cumpria prisão domiciliar na sua casa na cidade de Comendador Levy Gasparian, no interior do estado do Rio de Janeiro, a cerca de 140 quilômetros da capital fluminense.

De acordo com as investigações preliminares, mais de 20 tiros de fuzil foram disparados por Jefferson. Pelo menos nove tiros atingiram os vidros de uma viatura. Alguns chegaram a perfurar o veículo.

Fonte: DW Brasil – cn/lf (ots)

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