A impressão que passa é a de que o prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB), está caindo da sua costumeira e habitual serenidade para a vala do desespero. Como se diz no ditado, abraça-se ao ódio e “sobe nas tamancas”, pelas grosserias que vem destilando contra adversários políticos, candidatos da oposição e contra tradicionais companheiros de longas jornadas que decidiram tomar outros rumos, como se isso não fosse natural na política.
Ultimamente, vem escolhendo o ex-senador João Vicente Claudino (JVC) como “inimigo mortal” na política, logo o empresário que sempre esteve ao seu lado nos momentos mais difíceis e, com a ajuda do ex-senador, Firmino logrou muitas vitórias nas eleições teresinenses. Agora, JVC resolveu atender a um chamado do seu partido, o PTB, para virar o disco, e seguir outros rumos, como o de abraçar a candidatura de Fábio Abreu (PL), que está na disputa rumo ao Palácio da Cidade, que há pelo menos 40 anos é ninho e moradia de gestões tucanas que se sucedem nas mesmas mãos. Só Firmino já está há quatro mandatos como chefe do Executivo Municipal, há 16 anos com os teresinenses sob os seus pés.
O deputado estadual Nerinho, do PTB, viu com espanto a declaração do prefeito tucano de que João Vicente teria se apequenado ao escolher Fábio Abreu como candidato apoiado pelo seu partido. “Não é do perfil de Firmino esse tipo de declaração”, estranhou. “Acho que o prefeito Firmino Filho poderia cuidar da campanha do candidato dele, que nós vamos cuidar da campanha do deputado Fábio Abreu. Acho que cada um vai levar suas propostas. Não sei se o candidato do PSDB [Kleber Montezuma] tem proposta para levar. Ainda vai ter novidade? Não sei se a sociedade teresinense vai entender. Mas ele que leve seu programa de governo, nós vamos levar o nosso e não tenho dúvida nenhuma, o povo de Teresina vai saber escolher o melhor”, ressaltou.
A pergunta que fica é saber o que o teresinense acha das companhias do atual prefeito. Ao que se sabe, JVC tem uma vida pública inabalável, centrada e alicerçada em bons princípios. Tanto o petebista como outros políticos e candidatos que estão nas fileiras da oposição em Teresina não são vistos em más companhias. Como diz o ditado, “diga-me com quem tu andas que eu te direi quem tu és”.
E o teresinense está vendo com quem anda o atual prefeito e apoiadores da campanha do seu candidato, Kleber Montezuma. Não se sabe, até agora, de figuras adversárias do tucano nessas eleições enroladas com a Operação Lava Jato. Ainda não foram respondidos questionamentos sobre a Operação Caligo, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, vasculhando contratos da Fundação Municipal de Saúde (FMS), órgão da prefeitura de Teresina, com empresas suspeitas de superfaturamento e lavagem de dinheiro em torno de compras de insumos para o enfrentamento à Covid-19. A desconfiança é de que estão se aproveitando do momento de pandemia para desvios de verbas.
“Isso é uma vergonha para Teresina. Alguém tirar proveito de uma pandemia que matou e levou sofrimento a tanta gente pra roubar e enriquecer. A ambição foi maior que o caráter”, já declarou o ex-deputado estadual Robert Rios (PSB), candidato a vice-prefeito na chapa do Dr. Pessoa (MDB) para a prefeitura de Teresina nas eleições deste ano.
“Farinha do mesmo saco”
O prefeito atinge a honra e honestidade de candidatos da oposição ao afirmar que todos são “farinha do mesmo saco”. Agora, isso não pode se afirmar de um grupo que ocupa o Palácio da Cidade há quatro décadas? E que, provavelmente, não tem proposta e mais nada a oferecer ao povo de Teresina, que vem amargando a pão seco tantos anos de gestão tucana, que só oferece o básico. Todas as obras de grande porte, iniciativas ousadas são realizadas pelo governo estadual ou através de emendas parlamentares, porque o Tesouro Municipal parece eternamente falido.
“Farinha do mesmo saco” é um termo que agride por baixo quem está na corrida para destronar os tucanos do Palácio. A prova de que os teresinenses já estão cansados dessa gestão é a de que dão sinais claros de que querem mudanças. Dr. Pessoa, candidato da oposição pelo MDB, e primeiro lugar nas pesquisas, não gostou dessa expressão e disse que o prefeito parece que não tem mais nada o que fazer. O emedebista se mostra como candidato das “mãos limpas”, referindo-se às eventuais mãos sujas daqueles que hoje administram a cidade, envolvidos em atos de corrupção.
Robert Rios também deu a resposta: “Firmino é farinha do mesmo saco da Lava Jato”. Isso porque um dos seus apoiadores é o senador Ciro Nogueira (PP), envolvido em operações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal em denúncias de corrupção.
O petista Fábio Novo, que também concorre nessas eleições visando o Palácio da Cidade, ficou chateado com essa expressão, lamentando essa postura do atual prefeito de desrespeito aos adversários da oposição. E lamenta mais ainda o fato de que, a despeito de tanto tempo de gestão, a cidade continua a clamar por necessidades básicas, como calçamento e regularização fundiária.
Assédio moral contra professores
Em outra ponta, a gestão tucana não pode mais se arvorar de que tem a melhor educação do país nas costas daqueles que sempre fizeram pela educação municipal: os professores. Esses mestres da educação municipal resolveram então sair de debaixo dos tamancos da gestão municipal para gritar por seus direitos, suprimidos ao longo de anos. São eles que fazem, até de forma altruísta, mesmo não sendo respeitados e valorizados pelas gestões tucanas, o ensino municipal funcionar. Mas agora estão em greve por seis meses, algo inédito e há bem pouco tempo impensável nas administrações do PSDB. Agora se sabe a razão: muita pressão, muita perseguição e assédio moral, como denuncia o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Teresina (Sindserm).
Finalmente, ao que parece, o desespero de Firmino Filho talvez seja porque estejam tirando dos tucanos o bico, a mamadeira. Estejam tirando a chupeta do eterno “prefeito criança”, como se autodenomina. Só que Teresina cresceu, como já demonstra, ao rejeitar o seu candidato.
Redação