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Agências apontam desastre humanitário em Gaza como sinal de colapso da sociedade

O bombardeio contínuo em Gaza e os confrontos entre forças de Israel e grupos armados palestinos dificultam a entrada de ajuda na região. A ONU cita relatos de crianças implorando por água e pessoas cortando postes telefônicos para usar como lenha. Agências alertam que “a sociedade está prestes a colapsar”.

Nesta sexta-feira, o chefe da Agência para Refugiados Palestinos, Unrwa, publicou uma carta dirigida ao presidente da Assembleia Geral da ONU afirmando que a “habilidade de implementar seu mandato está severamente limitada”. Para Philippe Lazzarini, a situação teria consequências graves e imediatas na resposta humanitária das Nações Unidas para a população em Gaza.

Superlotação e morte de funcionários

No texto, Lazzarini cita que desde os ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro, muitas pessoas buscaram abrigo nas instalações da ONU na Faixa de Gaza, receando  que haveria uma resposta militar israelense.

São mais de 1,2 milhão de civis abrigados em escolas da Unrwa e a agência, embora já tenha perdido 130 funcionários desde o agravamento da violência e cerca de 70% tenham sido deslocados, segue como a principal opção de ajuda humanitária na área.

Assim, o chefe da Unrwa destaca que o colapso dos serviços da ONU resultaria no colapso do trabalho de assistência na região.

Além de pedir ação imediata da Assembleia Geral, ele adiciona que em 35 anos trabalhando em emergência complexas, nunca precisou escrever uma carta como essa, “prevendo a morte de mais funcionários e o colapso do trabalho que deve entregar”.

Para prevenir o agravamento da situação, ele faz um apelo para um cessar-fogo humanitário imediato, a aplicação da lei internacional, que prevê a proteção de civis, infraestrutura, funcionários e instalações da ONU, bem como a manutenção de negociações para solução política para a situação, vital para paz, segurança e direitos de palestinos, israelenses e toda a região.

Ele conclui a carta afirmando que o chamado para o fim do massacre em Gaza não é a negação das atrocidades de 7 de outubro. “É o contrário”, afirma, adicionando que é o reconhecimento de direitos iguais para todos os povos, essencial para o futuro de israelenses e palestinos. 

Áreas de saúde viraram “campos de batalha”

O porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, descreveu a situação como “inacreditável”, ao insistir que a área não pode perder mais estruturas de saúde. A agência documentou 212 ataques à saúde na Faixa desde 7 de outubro, afetando 56 instalações e 59 ambulâncias.

Em Nova Iorque, está prevista uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a crise entre Palestina e Israel nesta sexta-feira.

Os trabalhadores da saúde em Gaza não têm comida nem água, os pacientes estão “sangrando nos pisos dos hospitais e as alas de tratamento se parecem com campos de batalha”, disse Lindmeier.

Ele adiciona que, normalmente, “em qualquer situação de acampamento de refugiados”, haveria um mínimo de sete litros de água por dia por pessoa, afirmando que em Gaza esse número está atualmente entre um e dois litros. 

Bloqueio de comboios

Comboios da OMS foram repetidamente impedidos na estrada ao tentar trazer suprimentos médicos por pessoas desesperadas tentando obter comida e água.

O porta-voz da agência de saúde da ONU também revelou que na sexta-feira um comboio de materiais médicos destinados ao hospital Al-Ahli, no norte, que também visava evacuar 12 pacientes para o sul, teve que ser suspenso devido à situação de segurança.

Lindmeier disse a jornalistas em Genebra que uma sessão especial do Conselho Executivo da OMS ocorrerá no domingo para discutir as condições de saúde no território palestino ocupado, após um pedido de 15 de seus 34 membros. 

Muito mais é necessário

Na quinta-feira, a OMS entregou suprimentos de cuidados de emergência ao Hospital Europeu de Gaza e ao Complexo Médico Nasser em Khan Younis, no sul, para cobrir as necessidades de 4,5 mil pacientes. Esta foi a primeira missão de entrega desde 29 de novembro.

O chefe da agência, Tedros Ghebreyesus, escreveu em sua rede social que “muito mais é necessário” e lamentou o fato de os intensos combates estarem tornando “cada vez mais difícil realizar quaisquer operações de saúde”.

Ele acrescentou que a OMS está “extremamente preocupada” com milhares de pacientes e trabalhadores da saúde na Faixa de Gaza. Ele defendeu que “a única maneira de os proteger é um cessar-fogo. Agora”.

Operações humanitárias impedidas

Os trabalhadores humanitários continuaram realizando distribuições limitadas de ajuda no sul da Faixa, enquanto continuavam enfatizando que “nenhum lugar é seguro”. Na quinta-feira, auxílio foi entregue na região de Rafah, segundo o escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha.

O Ocha observa que na região vizinha, em Khan Younis, a distribuição de ajuda parou em grande parte devido à intensidade dos combates.

O Escritório da ONU também enfatizou que, à medida que dezenas de milhares de deslocados adicionais são forçados a seguir para o sul e “encurralados”, sua sobrevivência está “por um fio” 

O chefe do Ocha, Martin Griffiths, alertou na quinta-feira que, devido ao ritmo do ataque militar israelense no sul da Faixa, a operação humanitária no sul de Gaza não pode mais “ser chamada por esse nome”.

Fonte: ONU News – Imagem: WHO

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