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Violência custou ao México US$243 bilhões em 2021, o equivalente a 20,8% do PIB

Um relatório do Instituto para a Economia e a Paz (IEP) mostra que, em 2021, o impacto da violência no México foi de US$ 243 bilhões, o que equivale a 20,8% do Produto Interno Bruto do país. Já os gastos em sistemas de justiça e segurança pública, fundamentais para a redução de crimes, equivalem a apenas 0,63% do PIB, o menor número entre os países latino-americanos.

O Índice de Paz México 2022, feito pelo IEP com base em dados publicados pelo Sistema Nacional de Segurança Pública, indica que, somente no ano passado, o país registrou mais de 34 mil homicídios, o que equivale a aproximadamente 94 pessoas assassinadas por dia e um aumento de 76% em relação às taxas de homicídios registradas em 2015. No entanto, em relação a 2020, o número de homicídios diminuiu em cerca de 4%. Mesmo assim, o México ocupa a oitava posição entre os países com o maior número de assassinatos no mundo.

São milhares de vidas perdidas que, para além das questões sociais e dos traumas causados nos familiares das vítimas, geram um alto impacto econômico que, por consequência, se torna um dos principais limitadores para o desenvolvimento de uma nação. No caso do México, de acordo com o relatório, as despesas associadas aos crimes de homicídio foram de mais de US$ 105 bilhões, o que representa 43,4% do impacto econômico total da violência no país.

Segundo o estudo, o impacto econômico da violência é definido pelos gastos relacionados com as ações de prevenção e de combate à violência, além dos prejuízos econômicos causados pelos crimes. A vítima, o governo e o agressor envolvem custos diretos, como despesas médicas e funerárias, segurança e vigilância, e gastos associados ao sistema judicial. Já os custos indiretos são, por exemplo, a perda da renda da família e as despesas geradas por traumas físicos e psicológicos.

“Tivemos uma leve melhora no impacto econômico da violência entre 2020 e 2021 de cerca de 2,7%. No entanto, os prejuízos econômicos são grandes. Nos últimos dez anos, foram mais de200 mil pessoas assassinadas no México. E nós estimamos que a maioria das vítimas eram homens jovens. Isso significa que eles deixaram de contribuir para a economia do país e para o sustento das famílias. Porque a morte de um jovem de 20 anos que realiza uma atividade econômica rompe um ciclo de vida e de trabalho.”, afirma Carlos Juárez, diretor do Instituto paraa Economia ea Paz no México.

Aumento do investimento nas forças armadas

Outros dados do Índice de Paz México 2022 chamam a atenção. Os gastos do governo federal para enfrentar a violência, que incluem as despesas com segurança pública, forças armadas e com o sistema judiciário, representaram cerca de 13% do impacto econômico do total da violência no país em 2021. Se levarmos em conta o período entre 2007 e 2021, esses gastos tiveram um aumento de 78,5%, considerando a inflação.

No entanto, os investimentos em cada uma dessas áreas foi diferente. Por exemplo, entre 2015 e 2021, os gastos com as forças armadas cresceram 31%. Em contrapartida, a redução dos investimentos em segurança pública foi de 37% no mesmo período. Já no sistema judicial, foi de 7,5%, de acordo com o levantamento do IEP.

A taxa nacional de delitos relacionados ao crime organizado cresceu 48% desde 2015. Somente em 2021, o aumento foi de 7%, o que gerou um impacto econômico de mais US$ 800 milhões. O crescimento foi impulsionado por crimes de extorsão e pelo comércio de drogas ilícitas em pequena escala. No entanto, de acordo com os pesquisadores do IEP, esta é uma estimativa conservadora, uma vez que não contempla todas as perdas impostas pelos grupos de crime organizado, como roubo de mercadorias e atividades relacionadas ao tráfico de drogas, como produção, transporte e distribuição.

“A influência do crime organizado está aumentando nas diferentes esferas dos governos municipais e estatais, incluindo a polícia. Percebemos que o Estado mexicano está apostando, cada vez mais, no setor militar para combater a violência. No entanto, essa não é solução. Nossa recomendação é fortalecer e capacitar as instituições municipais e estaduais, para evitar a ineficiência dos serviços e a corrupção.”, afirma o diretor do IEP.

Ainda segundo Carlos Juárez, um dos primeiros passos para reduzir os índices de violência no país é aumentar os investimentos na Justiça e nas políticas de Segurança Pública. “Somos um dos países da OCDE que menos investe em segurança, apenas 0,63% do PIB. Temos que, pelo menos, alcançar os níveis dos outros países latino-americanos, que investem, em média, 1,5% do PIB. Além disso, acreditamos que investir na paz é muito mais rentável que investir em Segurança Pública. O que isso significa? Que temos que reduzir a vulnerabilidade social no país, começando pela educação e pela geração de emprego”.

Extorsão e violência contra empresas

Um crime que vem aumentando no México e que tem forte impacto nas atividades econômicas e na produtividade do país é a extorsão. O estudo mostra que a taxa nacional para esse tipo de delito cresceu quase 38% entre 2015 e 2021. Além disso, somente em 2018, os ganhos das quadrilhas com crimes de extorsão ultrapassaram US$ 600 milhões.

Já a última Pesquisa Nacional de Vitimização de Empresas, publicada em 2020, pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística do México (INEGI), indica que os delitos cometidos contra o setor privado formam uma parte significativa das atividades criminais e dos custos econômicos que elas geram. De acordo com o INEGI, entre dezembro de 2018 e julho de 2019, foram registradas mais de 8.700 denúncias de extorsão a empresários e comerciantes. Já em 2020, a extorsão representou 23% dos crimes cometidos contra empresas de diferentes portes.

Para Eduardo Guerrero Gutiérrez, especialista em segurança e diretor da consultoria Lantia Intelligence, os números devem ser ainda maiores, já que as pesquisas não consideram o crime de extorsão cometido contra os negócios informais e pela falta de denúncias por medo de retaliação.

“É muito difícil calcularmos as perdas reais porque, como sabemos, grande parte da economia mexicana é informal. E é justamente nesse tipo de negócio que o crime organizado tem muito impacto. Além disso, somente 3% das vítimas denunciam a extorsão.”, afirma Eduardo Guerrero.

Ainda segundo o especialista, os crimes de extorsão começaram a crescer no país em 2010, acompanhando a crise de violência e a fragmentação das grandes organizações criminais, que teve início ainda no governo de Felipe Calderón (2006 – 2012).

“Calderón declarou guerra contra o crime organizado. Durante o governo dele foram quase 40 líderes do narcotráfico presos, além de centenas de assassinados, e isso proporcionou a fragmentação e a dispersão dessas organizações para diversos territórios, incluindo regiões turísticas e estados que tinham baixos índices de violência. Então foi aí que começamos a perceber um aumento de diversos tipos de extorsão, principalmente, para a dominação dos territórios.”, finaliza Eduardo.

Fonte: rfi

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