Enchentes na Alemanha podem impactar resultado das eleições para sucessão de Merkel
Às vésperas das eleições gerais de setembro na Alemanha, o comportamento dos candidatos à sucessão da chanceler alemã, Angela Merkel, durante as enchentes históricas que deixaram um rastro de mortes e destruição no país, é observado de perto. Será que a tragédia tem potencial para mudar o resultado das eleições?
As inundações da semana passada, que deixaram um saldo de mais de 160 mortos na Alemanha, serviram para esquentar o debate em torno da mudança climática numa campanha que se mostrava fria até agora — em parte pelas restrições ditadas pela pandemia.
Catástrofes naturais são sempre uma prova de fogo, com potencial para aumentar ou derrubar a popularidade de um político. E os três candidatos à sucessão de Angela Merkel sabem bem disso. A pouco mais de dois meses das eleições, a reação de Armin Laschet (CDU), Annalena Baerbock (Verdes) e Olaf Scholz (SPD) às enchentes está sendo vista com atenção pelos eleitores.
Laschet, governador da Renânia do Norte-Vestfália, um dos dois estados mais atingidos, não perdeu tempo: calçou as galochas e foi para as ruas, demonstrando solidariedade e prometendo ajuda rápida às vítimas.
Candidato da CDU, a conservadora União Democrata Cristã, Laschet ganhou um inesperado palanque esta semana ao receber a visita da aliada Merkel, que caminhou ao seu lado pelas ruas de um vilarejo devastado pelas chuvas, dando suporte e conversando com vítimas das enchentes.
Mas Laschet também foi obrigado a se desculpar depois que uma foto sua dando risada durante um evento em meio às enchentes circulou nas redes sociais, o que provocou muitas críticas.
Campanha eleitoral em meio aos destroços
O candidato dos social-democratas, Olaf Scholz, ministro das Finanças na coalizão que sustenta o governo de Merkel, interrompeu as férias para visitar áreas atingidas pelas inundações. Prometeu ajuda financeira para um programa de recuperação, e defendeu medidas para conter a mudança climática.
Em função do cargo, Scholz, como Laschet, tem mais facilidade para aparecer nesse momento sem dar a impressão de querer se aproveitar de uma tragédia para fazer campanha eleitoral. Um risco que a candidata do Partido Verde, a deputada Annalena Baerbock, preferiu evitar. Ela também interrompeu as férias, e visitou áreas impactadas pelas enchentes, mas de forma bem discreta, sem a cobertura da mídia.
As pesquisas mostram que os conservadores da CDU têm cerca de 30% das intenções de voto, seguidos pelo Partido Verde, com algo em torno dos 20%. Se confirmado nas urnas, esse resultado pode levar conservadores e verdes a formar uma coalizão de governo na era-pós Merkel. Apesar de sua alta popularidade, mesmo após 16 anos no poder, a chanceler decidiu não disputar um quinto mandato.
Tentativa de recuperação
Os verdes começaram muito bem essa campanha, ao anunciar o nome de Baerbock para disputar a sucessão de Merkel. Mas perderam terreno, depois que a candidata foi acusada de incluir informações imprecisas no seu currículo, além de utilizar em um recente livro trechos atribuídos a outras publicações, sem citar fontes.
Com as mudanças climáticas — que tradicionalmente estão no topo das preocupações dos alemães — novamente em evidência, esse pode ser um bom momento para os Verdes recuperarem o terreno perdido.
Depois da catástrofe, Baerbock já deu uma série de entrevistas sobre o combate ao aquecimento global — uma antiga bandeira de seu partido. Ela também sugeriu que o governo federal tenha um papel mais relevante na coordenação de catástrofes, como inundações e incêndios florestais, e promova medidas de adaptação às mudanças climáticas.
Em meio à destruição, pandemia preocupa
Diante da tragédia, os alemães têm assistido a uma onda de solidariedade, com voluntários de várias partes do país na linha de frente do trabalho nas áreas das enchentes, para ajudar as vítimas na remoção dos destroços.
Essa grande circulação de pessoas, porém, aumenta a preocupação das autoridades com a Covid-19. Os abrigos provisórios, onde as vítimas têm sido acolhidas, também podem se tornar um foco de novos surtos, já que as pessoas tendem a ficar muito próximas.
Os números de novos contágios na Alemanha ainda estão baixos, mas a tendência é de alta — e a variante delta, altamente contagiosa, já se tornou predominante no país.
Para fazer frente ao novo desafio, as autoridades estão instalando centros móveis de vacinação e de testes nas áreas mais afetadas. Assim, será possível oferecer a vacina inclusive aos que não conseguiram se imunizar depois da inundação de postos de vacinação.
Fonte: RFI