Integrantes da cúpula do PT avaliam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve reduzir sua rejeição e recuperar parte de sua popularidade até o início do ano eleitoral.
Para aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a disputa nas urnas em 2022 deve ser mais acirrada do que mostram as pesquisas eleitorais e os levantamentos internos feitos pelo partido.
Estão no radar dos petistas variações na popularidade de Bolsonaro como consequência de dois indicadores principais: o crescimento da economia após os resultados negativos do ano passado e o aumento esperado da vacinação contra a Covid-19 até o fim deste ano.
Em discussões internas com a participação de Lula, os integrantes do partido defendem que a campanha seja encarada de uma “perspectiva realista”, nas palavras de um dirigente da sigla.
Embora admitam que a economia possa dar algum fôlego a Bolsonaro para o ano eleitoral, eles dizem que esses efeitos tendem a ser limitados.
A direção do PT ainda considera Lula favorito, mas tem adotado tom mais cauteloso. Certos de que a rejeição a Bolsonaro poderá ser um fator determinante na campanha, os petistas estudam maneiras de prolongar o ciclo atual de fragilidade do presidente.
Fazem parte dessa estratégia um apoio mais encorpado às manifestações contra o governo e uma campanha continuada de críticas aos erros do combate à pandemia.
“O povo está muito frustrado. O povo está decepcionado. O coronavírus permitiu que a sociedade ficasse um pouco mais dentro de casa, sem se manifestar, com medo. Mas eu acho que nós precisamos ir para a rua e começar a cobrar que esse país seja governado decentemente”, disse Lula em entrevista a uma emissora de TV do Piauí, na quarta-feira (9).
Segundo aliados do ex-presidente, Lula pretende dar sustentação a novos atos convocados contra o governo, encabeçados por movimentos sociais. Numa mudança de postura, o petista avalia participar das manifestações do próximo sábado (19) ou divulgar um vídeo com uma convocação para o protesto.
Apesar de enxergar possíveis benefícios políticos nesses atos, os aliados de Lula ainda buscam se diferenciar de Bolsonaro. O presidente participou no sábado (12) de um passeio de motocicletas em São Paulo. O ato reuniu 6.661 veículos, segundo o sistema de pedágio local.
A cúpula petista pretende observar o humor das ruas nos próximos meses, com o avanço da vacinação contra a Covid-19 —cuja lentidão é um dos principais pontos de desgaste de Bolsonaro, na visão do partido. Mesmo atrasada, a aplicação de novos lotes de imunizantes pode moderar a rejeição ao governo.
Os petistas contam com os trabalhos da CPI da Covid para expor erros e omissões do governo durante a pandemia. O Senado, no entanto, trabalha para que as investigações sejam encerradas em agosto, o que produz incerteza sobre a duração de seus efeitos até a campanha eleitoral.
Aliados de Lula também incluem nos cálculos eleitorais o uso da máquina pública por Bolsonaro para reduzir sua rejeição. Com a caneta na mão, o presidente espera lançar medidas na área social e acelerar as viagens pelo país em clima de campanha.
O PT aguarda, por exemplo, a reformulação do Bolsa Família prometida por Bolsonaro. Ainda que reconheçam que o presidente pode se beneficiar do programa, os petistas consideram difícil desvincular essa marca de Lula.
No segundo pelotão da corrida eleitoral, o PDT de Ciro Gomes tem uma visão diferente das projeções políticas feitas pelo PT.
Líderes pedetistas dizem acreditar que Lula está no auge da popularidade e que, nos próximos meses, começará a perder espaço nas pesquisas de intenção de voto.
Caciques da sigla dizem que o ex-presidente se beneficiou nos últimos meses de seu retorno à cena eleitoral e da decisão do STF que anulou suas condenações na Lava Jato.
Prevendo uma campanha árdua, petistas buscam uma coalizão com partidos de centro e miram inclusive siglas que integram a base de apoio de Bolsonaro no Congresso, como o PL.
O partido e outras legendas do centrão se aproximaram do governo após a liberação de cargos e emendas, mas podem se mover para o campo político mais alinhado a seus interesses e a uma perspectiva de permanência no poder.
No Nordeste, por exemplo, líderes desse bloco já estiveram ao lado de Lula em eleições anteriores e veem dificuldades de chegar a 2022 em um lado oposto ao do ex-presidente.
Com informações Folha de São Paulo