Ucrânia diz que soldados estupraram trigêmeas de 9 anos na frente da mãe
Comissária de Direitos Humanos do Parlamento da Ucrânia, Lyudmyla Denisova relatou hoje casos de estupro que teriam sido cometidos por soldados russos durante a invasão do território ucraniano. Um deles envolveu trigêmeas de nove anos de idade.
Segundo ela, entre ontem e hoje, a linha de atendimento para denúncias de crimes sexuais recebeu 56 ligações após as forças ucranianas liberarem cidades na região de Kharkiv, leste do país, que estavam ocupadas por forças da Rússia. Nos últimos dias, a Ucrânia tem feito avanços na região, um dos alvos do exército russo desde o início do conflito. A guerra da Rússia na Ucrânia já está no 85º dia.
Entre os casos indicados por ela, há alguns como os de uma menina de nove meses, e de meninos, um de um ano e dois de dez anos de idade —o mais novo morreu. Uma menina de dois anos teria sido estuprada por dois russos. Dois homens idosos, de 67 e 78 anos de idade, também foram atacados.
Denisova citou ainda o caso de trigêmeas, de nove anos de idade. “Elas têm lesões genitais graves. Tudo isso na frente de sua mãe. Ela ficou em choque”, relatou. As informações não puderam ser verificadas com fontes independentes.
A comissária —que não indicou o momento em que os casos ocorreram— disse que “as atrocidades dos soldados russos não têm limites”. Ela completou falando que essas eram violações “não apenas das normas do Direito internacional humanitário”, mas também da essência do ser humano, da moralidade. “Horror e raiva estão transbordando! Este é o genocídio do povo ucraniano com uma crueldade especial!”
Segundo Denisova, nestes quase três meses de guerra, 231 crianças foram mortas na Ucrânia, e outras 427 ficaram feridas. Ela, porém, ressalta que o número pode ser ainda maior.
No comunicado em que fez o relato, Denisova fez um apelo à ONU (Organização das Nações Unidas) “para que leve em consideração esses fatos de genocídio do povo ucraniano”. “Apelo aos nossos parceiros em todo o mundo para aumentar a pressão das sanções sobre a Rússia, fornecer armas ofensivas à Ucrânia, juntar-se à investigação de crimes em nosso país.”
Crimes em relatório
Em relatório, a ONG HRW (Human Rights Watch) disse que, em Kiev e Chernihiv, no norte da Ucrânia, as forças russas “submeteram civis a execuções sumárias, tortura e outros abusos graves que são aparentes crimes de guerra” entre fevereiro e março, período inicial da invasão russa.
A organização disse ainda, no documento apresentado ontem, que “21 civis descreveram o confinamento ilegal em condições desumanas e degradantes”. “Esses abusos contra civis são crimes de guerra evidentes que devem ser investigados com rapidez e imparcialidade e processados adequadamente”, disse Giorgi Gogia, diretor da HRW.
Casos de tortura foram mencionados no relatório da HRW. Soldados russos teriam espancado pessoas detidas, e usavam choques elétricos ou realizavam execuções simuladas para coagi-las a fornecer informações. “Eles colocaram um rifle na minha cabeça, carregaram e ouvi três tiros”, disse um homem que estava com os olhos vendados. “Eu também podia ouvir os cartuchos de bala caindo no chão, e pensei que era isso para mim.”
Segundo a ONG, “civis descreveram ter sido detidos pelas forças russas por dias ou semanas em condições sujas e sufocantes em locais como um porão de escola, uma sala em uma fábrica de janelas e um poço em uma sala de caldeiras, com pouca ou nenhuma comida, água inadequada e sem acesso a banheiros”. Algumas pessoas chegaram a ficar nessas condições por 28 dias.
Em Dymer, cerca de 45 quilômetros ao norte de Kiev, dezenas de pessoas ficaram presas “em uma sala de 40 metros quadrados na fábrica de janelas da cidade”, com pouca comida e água, e com baldes sendo usados como banheiro.
No relatório, a HRW também citou o caso de uma mãe que, após a retirada das forças russas da região de Kiev, em 31 de março, encontrou o corpo de seu filho em um celeiro, a cerca de 100 metros de sua casa, depois de reconhecer seus tênis. Em 19 de março, soldados haviam detido o homem, de 45 anos, após encontrarem seu antigo casaco militar. A ONG também disse que registrou ao menos nove casos em que “as forças russas atiraram e mataram civis sem uma justificativa militar evidente”.
A HRW lembrou que “as leis da guerra proíbem ataques a civis, execuções sumárias, tortura, desaparecimentos forçados, confinamento ilegal e tratamento desumano de detidos”. “Os comandantes das forças que sabiam ou tinham motivos para saber de tais crimes, mas não tentaram impedi-los ou punir os responsáveis, são criminalmente responsáveis.”
Fonte: UOL