Polícia iraniana abre fogo em ato por Mahsa Amini
Deutsche Welle – Forças de segurança iranianas abriram fogo nesta quarta-feira (26/10) contra manifestantes reunidos na cidade natal de Jina Mahsa Amini para marcar os 40 dias de sua morte sob custódia policial, de acordo com um grupo de direitos humanos e vídeos verificados.
Amini, uma jovem iraniana de 22 anos de origem curda, morreu em 16 de setembro, três dias após ser presa em Teerã pela controversa polícia da moral iraniana por supostamente violar o código de vestimenta islâmica para mulheres.
A morte gerou indignação no Irã e em outros países e rapidamente provocou manifestações generalizadas lideradas em grande parte por mulheres, que queimaram seus véus e confrontaram as forças de segurança, na maior onda de protestos na república islâmica em anos.
Nesta quarta-feira, apesar das medidas de segurança reforçadas, milhares se reuniram em Saqez, na província ocidental do Curdistão, para homenagear Amini em seu túmulo ao fim do tradicional período de luto, que para os xiitas é de 40 dias.
Em uma foto que viralizou e foi verificada pela agência de notícias AFP (acima), uma jovem sem o hijab é vista em pé no teto de um carro, olhando para longe em uma estrada lotada de veículos e pessoas em luto. “Morte ao ditador”, gritavam os presentes no cemitério de Aichi, nos arredores de Saqez, segundo vídeos também verificados.
A organização Hengaw, um grupo sediado na Noruega que monitora violações de direitos humanos nas regiões curdas do Irã, informou que “forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo e abriram fogo contra pessoas na praça Zindan, em Saqez”, sem especificar se houve mortos ou feridos.
A agência de notícias iraniana Isna disse que a internet foi cortada em Saqez por “razões de segurança” e que quase 10 mil pessoas estiveram reunidas na cidade.
Mas muitos outros milhares foram vistos em carros, motos e a pé ao longo de uma rodovia, em campos e até mesmo atravessando um rio, em vídeos amplamente compartilhados online.
Aplaudindo ruidosamente, gritando e buzinando, os manifestantes lotaram a estrada que liga Saqez ao cemitério a oito quilômetros de distância, em imagens que a Hengaw disse ter verificado.
A Isna afirmou que parte da multidão que voltava do cemitério “tinha a intenção de atacar uma base do exército”, mas foi dispersada por outros participantes.
Um posto de controle da polícia foi incendiado, e chamas também queimaram ao longo de uma ponte em Saqez, segundo um vídeo verificado.
“Este ano é o ano do sangue, Seyed Ali será derrubado”, entoou um grupo em um vídeo verificado pela AFP, referindo-se ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Segundo a organização Hengaw, as estrelas do futebol iraniano Ali Daei e Hamed Lak viajaram para Saqez “para participar do serviço do 40º dia”. Daei já teve problemas com as autoridades por seu apoio online aos protestos contra a morte de Amini.
A Hengaw informou que trabalhadores entraram em greve em Saqez, bem como em Divandarreh, Marivan, Kamyaran e Sanandaj, e em Javanrud e Ravansar, na província ocidental de Kermanshah.
O canal de mídia social 1500tasvir, que relata violações de direitos pelas forças de segurança do Irã, disse que novos protestos também irromperam em outras cidades do país, como Teerã, Mashhad e Ahvaz.
“Repressão brutal”
O grupo Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, disse que a repressão das forças de segurança aos protestos pela morte de Amini custou a vida de pelo menos 141 manifestantes, em um número atualizado de mortos na terça-feira.
A Anistia Internacional afirma que a “repressão brutal implacável” matou pelo menos 23 crianças, enquanto o IHR disse que ao menos 29 crianças foram mortas.
Os Estados Unidos incluíram nesta quarta-feira mais de uma dúzia de autoridades iranianas em sua lista de sanções pela repressão, enquanto a Alemanha condenou Teerã por sancionar meios de comunicação europeus, incluindo o serviço da Deutsche Welle em idioma persa.
DW Brasil – ek (DPA, AFP, ots)