Após um ano desde a eclosão da pandemia do coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou nesta quarta-feira (24) a criação de um comitê com autoridades para discutir medidas contra a crise sanitária.
A declaração foi dada após reunião convocada sob pressão para discutir ações contra a pandemia e tentar minimizar conflitos entre ele, governadores e congressistas, no Palácio da Alvorada, em Brasília.
Não foram fixados prazos para a criação desse novo grupo, que trabalhará de forma coordenada e sob liderança política e técnica do governo federal.
“Resolvemos, entre outras coisas, que será criada uma coordenação junto aos governadores com o senhor presidente do Senado Federal. Da nossa parte, um comitê que se reunirá toda semana com autoridades para decidirmos ou redirecionarmos o rumo do combate ao coronavírus”, declarou Bolsonaro.
O encontro contou com a presença ainda do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, e de ministros, entre outros membros do primeiro escalão do governo federal. A ideia é que se chegasse a um consenso maior para que se consiga combater a pandemia de forma mais eficiente e pressionar Bolsonaro contra seu discurso negacionista.
Na fala após o encontro, Bolsonaro ressaltou a necessidade de uma vacinação em massa. Ele não mencionou, porém, o colapso em alguns hospitais por falta de insumos e as constantes reduções na previsão de recebimento de doses de vacinas contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde.
Diferentemente de manifestações públicas anteriores, nas quais sempre afirmou que “vida e economia” andavam juntas, Bolsonaro disse hoje que a vida deve ser colocada “em primeiro lugar”.
No ano passado, Bolsonaro fez pouco caso da vacina CoronaVac por ser chinesa e encampada por um de seus principais rivais políticos, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e protelou a compra de imunizantes da Pfizer e da Janssen por não concordar com os termos da compra, por exemplo. A compra das vacinas dessas duas últimas empresas só foi fechada na semana passada, por exemplo.
O governo federal se focou na vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford/AstraZeneca, que está sendo aplicada no país. No entanto, o processo de produção e aplicação dela tem cronograma atrasado devido a questões técnicas.
Apesar de ter se mostrado mais aberto a estimular a vacinação em massa, Bolsonaro voltou a falar em “tratamento precoce”.
“Tratamos também da possibilidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico off-label de tratar os infectados”, disse.
Bolsonaro também destacou a gravidade da situação ao declarar que “uma nova cepa, um novo vírus” surgiram no país. Ainda de acordo com o presidente, medidas tomadas pelo novo comitê, dentro de um esforço conjunto, “sem que haja qualquer conflito e politiização” do problema. “Creio que esse seja realmente o caminho para sair dessa situação.”
Fortalecimento do SUS
Na primeira fala pública como ministro da Saúde, Marcelo Queiroga logo fez questão de ressaltar a “harmonia entre os Poderes”. Ele falou que a conclusão entre os presentes foi da necessidade de se fortalecer o SUS (Sistema Único de Saúde) com articulações entre os governos federal, estaduais e municipais para fornecer uma cobertura de pessoas vacinadas capaz de reduzir o impacto do coronavírus. O ministro também citou a criação de protocolos assistenciais.
Queiroga foi colocado no lugar do general Eduardo Pazuello após a situação deste se tornar insustentável perante governadores e congressistas. Tanto os mandatários estaduais quanto a maioria dos parlamentares avaliam que Pazuello falhou ao não conseguir imprimir uma gestão técnica e de logística ágil no ministério.
Em tom de recado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) afirmou que o pacto nacional será liderado por Bolsonaro, que, na visão dele, é “quem a sociedade espera que lidere”. Desde que assumiu o posto de presidente do Senado, o mineiro —que venceu a eleição na Casa com o apoio do Planalto— tem se notabilizado por agir nos bastidores para suprir lacunas deixadas pelo governo federal. Recentemente, o parlamentar tomou a iniciativa de fazer contato com a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, para pleitear o envio ao Brasil de vacinas excedentes e que não devem ser utilizadas pelos americanos.
Para Pacheco, Bolsonaro assume a liderança desse novo pacto nacional “já com a compreensão de que medidas precisam ser tomadas”. O senador destacou, por outro lado, que a liderança técnica ficará com o Ministério da Saúde e que esta deve ser “contundente e urgente”. Lira endossou a fala do colega de Parlamento e afirmou que o esforço conjunto poderá “despolitizar a pandemia”, de modo a “comunicar melhor” e “desarmar os espíritos a fim de tratar o problema como de todos nós”.
Em fala brevíssima, Fux se solidarizou com as famílias dos mortos pela pandemia e agradeceu aos profissionais da saúde. Ele explicou que, como o STF pode ter de julgar alguma ação envolvendo medidas tomadas nessa crise, a Corte não poderá participar diretamente do comitê. Mesmo assim, falou que o Supremo vai verificar estratégias para evitar judicializações. (Com UOL)
Redação