Macron, reis, chefes-de governo e até OMS na lista dos alvos da espionagem
O presidente da França, Emmanuel Macron, reis, primeiros-ministros e até a direção da OMS aparecem entre os alvos potenciais da espionagem, revelada por jornais estrangeiros a partir de dados da Anistia Internacional e da entidade Forbiden Stories.
Neste domingo, alguns dos principais jornais do mundo revelaram como políticos, advogados, ativistas de direitos humanos, repórteres, colunistas e editores de todo o mundo foram alvos de uma possível espionagem por meio de um software criado por uma empresa de Israel. Pelo menos 180 jornalistas estavam em uma lista obtida pela imprensa internacional e que revela o interesse de clientes em espionar os telefones desses jornalistas.
O software Pegasus foi criado pelo grupo NSO, de Israel. De acordo com publicações como “The Washington Post”, “The Guardian” e “Le Monde”, uma lista de até 50 mil números de telefone pode ter sido alvo do sistema nos últimos cinco anos.
Nem todos esses números chegaram a ser hackeados. Mas a lista inclui o número de telefone do presidente da França, potencialmente alvo dos serviços secretos do governo do Marrocos. O governo francês afirmou que, se confirmado o relato, trata-se de um “incidente muito sério”. Mas o próprio rei do Marrocos, Mohamed VI, também aparece na lista.
Outro que teve seu telefone incluído foi Tedros Gebreyesus, diretor-geral da OMS e no centro da resposta global à pandemia da covid-19. Seu celular, porém, aparece em listas a partir de 2019, também por parte dos serviços secretos do Marrocos.
De acordo com o jornal The Guardian, que teve acesso aos números, também aparecem na lista o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, e diplomatas, militares e ministros de 34 países. Negociadores americanos do acordo nuclear iraniano também são citados.
A empresa nega qualquer atividade ilegal e aponta que os clientes que adquiriram o sistema garantiam que usariam o mecanismo apenas contra o combate ao crime e terrorismo.
Mas também aparecem na lista do ex-primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri, alvo potencial do serviço secreto dos Emirados Árabes Unidos.
Charles Michel, hoje presidente do Conselho Europeu, também tem seu número listado por parte dos serviços do Marrocos, quando em 2019 ele ainda era primeiro-ministro belga. Na América Latina, o alvo foi Felipe Calderón, ex-presidente do México.
Carlos Bolsonaro ensaiou compra do sistema
Em maio, o UOL revelou com exclusividade como Carlos Bolsonaro ensaiou a compra do mesmo equipamento. A licitação em questão era a de nº 03/21, do Ministério da Justiça, no valor de R$ 25,4 milhões. O lobby do filho do presidente abriu um racha entre o Planalto e parte da inteligência brasileira. Carlos Bolsonaro, na época, ironizou a reportagem.
As revelações abriram processos de investigação na França, quebra de contratos e uma crise política em Israel. Na ONU, o caso também foi denunciado. “As revelações sobre a aparente utilização generalizada do software Pegasus para espionagem de jornalistas, defensores dos direitos humanos, políticos e outros numa variedade de países são extremamente alarmantes, e parecem confirmar alguns dos piores receios sobre a potencial utilização abusiva da tecnologia de vigilância para minar ilegalmente os direitos humanos das pessoas”, afirmou Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para Direitos Humanos.
Bachelet ainda defendeu que as revelações abram o espaço para o debate sobre novas regras. Segundo ela, as informações “confirmam também a necessidade urgente de regular melhor a venda, transferência e utilização da tecnologia de vigilância e assegurar uma supervisão e autorização rigorosas”.
“Sem quadros regulamentares conformes aos direitos humanos, há simplesmente demasiados riscos de que estas ferramentas sejam abusivamente utilizadas para intimidar os críticos e silenciar a dissidência”, alertou.
“Os governos devem cessar imediatamente a sua própria utilização de tecnologias de vigilância de formas que violem os direitos humanos, e devem tomar medidas concretas de proteção contra tais invasões da privacidade, regulando a distribuição, utilização e exportação de tecnologia de vigilância criada por outros”, completou.
Fonte: UOL