s articulações do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para formação dos palanques nos estados devem impactar a escolha de candidatos ao Senado nos maiores colégios eleitorais do país.
Faltando menos de três semanas para o início do prazo para as convenções partidárias, que ocorrem entre 20 de julho e 5 de agosto, a construção das chapas nos estados entra na reta final com uma série de arestas para serem aparadas.
Dos dez maiores colégios eleitorais do país, nove ainda enfrentam pendências, seja pela falta do candidato ao Senado, seja pela postulação de mais de um nome ao único cargo em disputa. Apenas na Bahia já foram definidos os candidatos ao Senado das quatro principais chapas.
Nos principais estados, essa definição deve passar pela estratégia nacional dos partidos para contemplar aliados e ampliar os palanques locais com a adesão de siglas que não estarão na coligação federal.
A eleição para o Senado é uma das prioridades tanto de Lula quanto de Bolsonaro. No caso do petista, o objetivo é ter uma bancada legislativa mais alinhada à esquerda que o deixe menos refém de negociações com partidos fisiológicos no Congresso Nacional.
Para Bolsonaro, também pesa o fato de o Senado ser a Casa legislativa que decide sobre temas mais delicados, caso do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, uma das armas de pressão do presidente em sua escalada de ataques à democracia.
No campo da esquerda, as indefinições passam principalmente pelos embates entre o PT e o PSB, os dois maiores partidos da coligação de Lula.
Em São Paulo, os dois partidos enfrentam um impasse com as candidaturas próprias a governador de Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) —ambos seguem sem pré-candidatos ao Senado.
França admitiu na segunda-feira (27) em reunião com a cúpula do seu partido que pode desistir da candidatura ao Palácio dos Bandeirantes e aderir a Haddad. O PT ofereceu a ele a vaga ao Senado na coligação.
O imbróglio entre PT e PSB também se estende a Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de estados menores como Espírito Santo, Paraíba e Acre.
No Rio, a disputa se dá em torno da vaga para o Senado: o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), e o deputado federal Alessandro Molon (PSB) disputam a indicação para concorrer na chapa liderada pelo pré-candidato a governador Marcelo Freixo (PSB).
Uma das possibilidades é a de candidatura dupla ao Senado na mesma chapa, mesmo com apenas uma cadeira em disputa. Ceciliano, contudo, exige ser o único candidato da coligação e mantém conversas em aberto com Felipe Santa Cruz (PSD), nome ao governo apoiado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes.
A alternativa de mais de uma candidatura ao Senado ancoradas na mesma coligação ao governo foi considerada legal pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que deliberou sobre o tema em junho.
A disputa gaúcha é outra onde a definição do candidato a senador da esquerda ainda depende de um armistício entre PT e PSB. Os petistas lançaram o deputado estadual Edegar Pretto ao governo e os pessebistas querem que o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) encabece a chapa.
A indefinição ainda inclui o PSOL, que nacionalmente também apoia Lula, e mantém a pré-candidatura ao governo do vereador Pedro Ruas. O PT segue sem um nome para o Senado e tenta chegar a um consenso com PSB e PSOL.
Em Santa Catarina, o ex-deputado Décio Lima (PT) e o senador Dario Berger (PSB), que eram adversários e agora estão alinhados, disputam quem vai encabeçar a chapa ao governo e também seguem sem definição de candidatura ao Senado.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou na terça-feira (28) que a definição da formação das chapas não será discutida isoladamente.
“As pendências nas negociações estaduais entre PT e PSB serão feitas em bloco, de uma única vez, seja em relação a pré-candidaturas a governos ou Senado. Não haverá nenhuma decisão pontual”.
No campo bolsonarista, há um engarrafamento de pré-candidatos ao Senado em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Em São Paulo, por exemplo, há pontas soltas na definição da chapa do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), com três postulantes ao Senado que o apoiam.
O principal nome para o cargo era o apresentador José Luiz Datena (PSC), mas ele anunciou na quinta-feira (30) que não vai disputar as eleições. Ele trocou o governador tucano Rodrigo Garcia por Tarcísio nas vésperas do fim da janela partidária, mas enfrentava resistências das alas mais radicais do bolsonarismo.
Com a saída de Datena da disputa, outras opções seriam o empresário Paulo Skaf (Republicanos), a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB) e a médica Nise Yamagushi (Pros).
O governador Rodrigo Garcia (PSDB) é outro que ainda não tem candidato a senador, mas viu ao menos quatro de seus aliados se lançarem ao cargo. O que teria maior densidade nas urnas, o ex-juiz Sergio Moro, teve a sua transferência de domicílio eleitoral para São Paulo barrada pela Justiça.
Também se lançaram o ex-senador José Aníbal (PSDB), o dirigente partidário Fernando Alfredo (PSDB) e o deputado estadual Heni Ozi Cukier (Podemos).
O vereador Milton Leite (União Brasil) era outro nome cotado na base, mas o seu partido se afastou de Garcia e pode se aliar a Tarcísio de Freitas ou até a Haddad.
No Rio, o senador Romário (PL) trabalha para concorrer à reeleição na chapa liderada pelo governador Cláudio Castro (PL), mas é rechaçado por bolsonaristas que veem no ex-jogador um nome pouco alinhado às pautas conservadoras.
Os mais radicais querem o deputado federal Daniel Silveira (PTB), mas ele está inelegível após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal por ameaças e incitação à violência contra ministros da corte. Outro nome que corre na mesma raia é o do ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos).
Em Santa Catarina, o campo bolsonarista voltou a ficar aberto após a desistência do empresário Luciano Hang em concorrer ao Senado.
Mas a tendência é de pulverização, já que três candidatos ao governo —Carlos Moisés (Republicanos), Jorginho Mello (PL) e Esperidião Amin (PP) apoiam o presidente.
No Rio Grande do Sul, os palanques de Bolsonaro estarão divididos: o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) concorre ao Senado na chapa de Onyx Lorenzoni (PL). Em outra chapa, Luís Carlos Heinze (PP) terá a vereadora Comandante Nádia (PP) como candidata a senadora.
Também há indefinição na chapa do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que concorre a um novo mandato. Ele mantém conversas com ex-senadora Ana Amélia (PSD) e o senador Lasier Martins (Podemos), que concorre à reeleição.
No Paraná e Minas Gerais, há uma aproximação dos governadores com Bolsonaro, mas os bolsonaristas caminham para ter seus próprios palanques localmente
Em Minas, o governador Romeu Zema (Novo) ainda não definiu seus candidatos ao Senado. A escolha também passa pela definição do nome do vice, posto oferecido a Eduardo Costa (Cidadania), jornalista que nunca cumpriu mandatos eletivos.
Caso a parceria se concretize, o que depende do PSDB de Aécio Neves, o nome para o Senado será o deputado federal Marcelo Aro (PP) ou o ex-secretário Mateus Simões (Novo). A base de Zema ainda deve ter uma candidatura avulsa a senador do deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC).
O Paraná vive cenário semelhante: o governador Ratinho Júnior (PSD) tem em sua base o pré-candidato a senador Guto Silva (PP), mas mantém conversas com o deputado federal Paulo Eduardo Martins (PL), que busca amarrar o governador ao palanque de Bolsonaro.
Completa o cenário de indefinição a pré-candidatura ao Senado pelo estado de Sergio Moro (União Brasil), cujo partido também faz costuras com o governador. Caso leve adiante a candidatura, ele teria que bater de frente com o seu antigo padrinho político, o senador Álvaro Dias (Podemos).
Fonte: Folha de São Paulo