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Enquanto Covas recebe apoio de Russomanno, Boulos tenta fechar frente com Lula sem protagonismo do PT

Com o PT de Lula selando a adesão a Guilherme Boulos (PSOL) e o Republicanos de Celso Russomanno embarcando na campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB), os dois candidatos do segundo turno avançaram, nesta terça-feira (17), na consolidação de apoios na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

O líder dos sem-teto afirmou que anunciará nesta quarta (18) outros nomes do que vem chamando de frente de apoio à sua eleição, em uma estratégia para diluir o peso individual dos entusiastas.

O discurso do PSOL é o de que nenhum deles terá protagonismo dentro dessa rede nem será mais importante do que o candidato em si, o que neutralizaria eventuais críticas pela associação a Lula. A campanha do PSDB já utiliza essa relação para tentar desgastar Boulos.

Covas, por sua vez, vem conquistando terreno entre candidatos de direita que são críticos da sua gestão, mas veem o apoio ao PSDB como uma forma de estancar o avanço do PSOL. ​Andrea Matarazzo (PSD) decidiu que irá votar em Covas, enquanto Joice Hasselmann (PSL) abriu conversas com os tucanos.

O Republicanos e o PSDB entraram em acordo nesta terça para que o partido apoie Covas —a aliança foi endossada pelo presidente nacional da legenda, o deputado federal Marcos Pereira, e pelo candidato derrotado Russomanno, que assinaram a nota de apoio.

“O partido entende que a moderação e o equilíbrio são fundamentais para que a cidade possa avançar e que Bruno Covas é a pessoa mais preparada para isso”, diz o texto.

Como mostrou a Folha nesta terça, o apoio do Republicanos aos tucanos estava praticamente acertado —os partidos estão juntos na gestão João Doria (PSDB) no governo estadual e estiveram unidos na administração de Covas até agosto.

Russomanno foi aconselhado por aliados a manter-se neutro apesar da posição de seu partido, mas não adotou essa linha.

O deputado e apresentador de TV era o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e baseou sua campanha em ataques a Covas e a Doria. A adesão ao tucano beneficia o projeto presidencial do governador, que é adversário do atual titular do Palácio do Planalto.

Na campanha, Russomanno afirmou que nunca trairia Bolsonaro e que assumia o desgaste do presidente a ponto de manter-se ao seu lado mesmo que isso lhe custasse a eleição, como ocorreu. Por coerência e para não desagradar à base bolsonarista, o entorno do deputado defendia a neutralidade.

O apoio do PT a Boulos, manifestado pelo candidato derrotado Jilmar Tatto ainda na noite de domingo (15) e formalizado pelo PT municipal em nota na segunda-feira (16), foi anunciado após uma reunião de dirigentes petistas e psolistas na tarde desta terça, com a presença de Boulos e Tatto.

O dia marcou ainda a entrada do ex-presidente Lula na campanha.

“Todos os eleitores e eleitoras que votam no PT, todos os eleitores que são de esquerda, todos os eleitores progressistas, todos que querem restabelecer a democracia no Brasil, têm agora o compromisso histórico de votar no companheiro Guilherme Boulos para prefeito de São Paulo”, escreveu no Twitter.

Como uma vacina para a associação ao PT e para o eventual protagonismo do partido de Lula em sua campanha, Boulos tenta atrair outros nomes e legendas da esquerda. Até agora, a coalizão inclui PT, PC do B, PCB e UP. O candidato do PSOL planeja fazer nesta quarta o anúncio do arco de alianças.

A ideia é tratar o apoio de Lula como mais um entre outros. No domingo, o ex-presidente ligou para o candidato e se colocou à disposição para ajudar no que fosse preciso.

“Nós vamos sim levar os meus apoiadores para a televisão. Aqui, diferentemente do meu adversário, a gente não esconde apoio. O Bruno está escondendo o Doria, porque tem medo que o povo descubra que ele é o candidato do Doria”, disse Boulos.

Tatto, a seu lado, evitou responder sobre a participação direta de Lula no segundo turno, mas reforçou que o ex-presidente está à disposição. “Ele [Boulos] tem que se tornar conhecido. A exposição do Guilherme é muito importante”, disse o petista, enfatizando que a estrela da campanha continua sendo Boulos.

Um dos papéis do PT será mobilizar o eleitorado da periferia, onde o partido, historicamente, dispõe de mais apoio. “Não podemos perder tempo. É uma campanha curta. Não é hora de ficarmos fazendo reunião interna”, afirmou Tatto.

“Vamos trazer todos os setores democráticos, populares, sindicatos, movimento social e também a militância do PT. Nós vamos organizar a campanha na cidade toda”, completou. Os dois farão uma caminhada nesta quarta pela manhã no centro da cidade, batizada de “grande caminhada da virada”.

Boulos, que aguarda ainda a entrada de outros líderes de envergadura nacional na campanha, teve boas e más notícias.

Enquanto o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), demonstrou, no Twitter, “solidariedade à luta de Guilherme Boulos” e pediu voto a ele de maranhenses e descendentes de nordestinos e nortistas que vivem em São Paulo, o líder do PDT Ciro Gomes adiou seu embarque oficial.

O partido do ex-presidenciável, que compôs a coligação de Márcio França (PSB) com a vaga de vice, decidiu declarar apoio ao PSOL, mas ainda tenta convencer o ex-governador a fazer o mesmo. Ciro, que já indicou querer endossar Boulos, só deve confirmar a adesão depois desta quinta-feira (19).

PDT e PSB tentaram chegar a um consenso, mas ainda há arestas. França disse à Folha que só se decidirá após falar com lideranças de seu partido, nesta quinta. Ele também foi procurado pelo PSDB, mas um acordo com os tucanos é considerado mais difícil em virtude de seu discurso anti-Doria.

“Aguardarei a reunião com a executiva nacional. Entendo a ansiedade dos candidatos, respeito os dois, mas minha relação com o PSB é de mais de 30 anos e ouvirei nossos governadores e dirigentes”, afirmou.

A tendência é que França opte pela neutralidade, mas ele não confirma. A direção nacional do PSB tem objeções a uma aliança com o PSOL, mas deixou a palavra final para o ex-governador.

A Rede de Marina Silva também é uma incerteza. O partido conversou com Boulos e com Covas e deve dar uma posição nesta quarta. Não se descarta a possibilidade, porém, de que Marina declare apoio ao candidato do PSOL de maneira individual, como fez com Manuela D’Ávila (PC do B) em Porto Alegre.

Em caminhada na Estrada do M’Boi Mirim, na zona sul, na manhã desta terça, Boulos disse que está buscando diálogo com a fatia de 70% da população que votou contra a continuidade dos tucanos em São Paulo.

“Nós vamos fazer um evento amanhã [quarta] de uma frente que está se construindo nesse segundo turno. Uma frente em defesa da justiça social, da democracia e contra a desigualdade em São Paulo”, afirmou Boulos, que não quis antecipar outros nomes.

“Tenho certeza de que nós vamos ter um campo bastante amplo e diverso, da sociedade brasileira e de São Paulo, para declarar apoio e colocar essa campanha em outro patamar”, completou.

Enquanto falava com jornalistas, um homem gritou para Boulos: “É o PT disfarçado!”. O vereador reeleito do PT Antonio Donato estava no compromisso de campanha.

A caminhada foi marcada por aglomeração de militantes do PSOL em torno do candidato, apesar da pandemia do coronavírus. Muitos carros que passaram pelo local buzinaram em sinal de apoio a Boulos.

Como mostrou a Folha, o embarque de setores da esquerda na campanha do PSOL foi imediato. O candidato derrotado Orlando Silva (PC do B) divulgou nota na segunda (16) em apoio a “um projeto popular”.

E o PT, desde domingo, vem tratando a ida de Boulos ao segundo turno como uma vitória de todo o campo progressista, buscando se associar ao avanço psolista e minimizar seu pior resultado em São Paulo desde a redemocratização.

Já os apoios a Covas são mais constrangidos e pragmáticos do que ideológicos, uma vez que seus apoiadores, como Russomanno e Matarazzo, não dividem a trincheira tucana e criticavam o prefeito na campanha.

A assessoria do candidato do PSD divulgou nota afirmando que ele “decidiu votar em Bruno Covas no segundo turno”, mas que “se trata de uma escolha de Matarazzo, e não de apoio formal​”.

Joice, que avaliava suas opções, está em tratativas com os tucanos e deve se posicionar nos próximos dias.​ (Folha)

Redação

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