Jair Bolsonaro passou a noite do dia 16 de outubro dormindo junto aos cadetes numa ala comum do Hotel de Trânsito da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ). Não foi a primeira vez que o presidente foi à academia participar da cerimônia de entrega dos espadins aos aspirantes a oficiais do Exército.
A Aman é a incubadora dos oficiais e futuros comandantes da Força terrestre. Para um presidente egresso das fileiras militares, a presença em um evento como esse é praticamente obrigatória.
Desde agosto, porém, Bolsonaro tem intensificado suas idas a instalações militares e de forças de segurança para prestigiar eventos bem menos solenes.
Neste período, pernoitou num quartel da Polícia do Exército em São Paulo, visitou um posto de Polícia Rodoviária Federal em Registro (SP), esteve na sede do Bope no Rio e, na mesma cidade, prestigiou a formatura de uma turma de paraquedistas do Exército.
Chegou a participar, em setembro, de uma cerimônia de formatura de novos sargentos da Marinha, no que foi considerada por militares uma iniciativa absolutamente inédita da parte de um presidente da República.
Comandante do Exército “bateu de frente” com Bolsonaro
Praças e sargentos sempre estiveram na base de apoio do ex-deputado federal Jair Bolsonaro.
Agora, o périplo presidencial por instalações que abrigam essas categorias se intensifica à medida que cresce o desgaste do ex-capitão junto aos generais.
A recente tensão entre Bolsonaro e o comandante do Exército, Edson Pujol, escancarou esse desgaste.
No último dia 13, durante um seminário promovido pelas Forças Armadas, Pujol declarou que o Exército não pertence ao governo e não tem partido político.
O discurso do praticamente mudo comandante ocorreu dias depois de Bolsonaro ameaçar usar “a pólvora” contra supostas interferências do novo governo americano de Joe Biden na Amazônia — iniciativa que cobriu de vergonha os generais.
Já Bolsonaro, de sua parte, detestou a fala de Pujol, sobretudo por saber da ciência do general de que ela se tornaria pública. Como resposta, escreveu no Twitter mensagem dizendo compartilhar do conceito de apartidarismo do Exército, mas lembrando ser ele, Bolsonaro, o “comandante supremo” das Forças.
Hoje, o presidente dorme melhor junto aos cadetes do que aos generais.