A gota d’àgua que fez o presidente Jair Bolsonaro pedir a cabeça do comandante do Exército, Edson Pujol, foi a recusa do general em se manifestar sobre a decisão judicial que anulou as condenações do ex-presidente Lula no início do mês. “O presidente esperava um posicionamento e ele não veio”, afirmou um assessor palaciano.
Bolsonaro cobrava de Pujol uma iniciativa semelhante à que teve o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, em 2018. Naquele ano, às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal do habeas corpus que poderia tornar Lula elegível, o general publicou um tuíte dizendo que o Exército repudiava a impunidade — no que foi interpretado como uma tentativa dos militares de pressionar o STF a barrar a candidatura do petista.
Pujol, embora crítico da decisão que tornou Lula ficha-limpa, tomada no dia 9 de março pelo ministro Edson Fachin, se recusou a endossar qualquer manifestação pública contra ela.
Seu superior imediato, o agora ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, por sua vez, disse ao presidente que não poderia obrigar o comandante do Exército a fazer o que ele, Bolsonaro, desejava, e que uma tomada de posição do Exército naquele momento poderia lançar as Forças Armadas num terreno perigoso.
O governo já discute os nomes que poderão substituir Pujol, cujas convicções legalistas lhe renderam no entorno de Bolsonaro o epíteto de “isentão”.
A iminente substituição do comandante do Exército, a saída do ministro da Defesa e a demissão do Advogado-Geral da União, José Levi, fazem parte de um mesmo pacote (que não comporta a exoneração do chanceler Ernesto Araújo nem a nomeação de Flávia Arruda para a Secretaria de Governo, estes movimentos da cota do centrão).
Levi foi dispensado ontem por motivo semelhante ao que empurrou Azevedo e Silva para fora do governo: ao se recusar a assinar a ação que o Executivo apresentou ao STF há dez dias visando a impedir governadores de decretarem lockdown, o Advogado-Geral da União, como Azevedo e Silva e Pujol, estava se negando a cumprir uma ordem presidencial que achou indevida.
Com o pacote de demissões na área militar e na entidade responsável por representar judicialmente a União, Bolsonaro pretendeu “dar um recado” àqueles que, acredita, têm “esticado a corda” – o que inclui não apenas o STF (a mudança de voto da ministra Carmem Lúcia na ação que julgou a parcialidade do ex-ministro Sergio Moro e beneficiou Lula no caso do tríplex do Guarujá foi o mais recente motivo para irritação do presidente com a Corte), como também lideranças no Congresso.
A Arthur Lira, por exemplo, o ex-capitão quis indicar que, se o presidente da Câmara, como disse, dispõe de “remédios amargos” e “até fatais” contra o governo, ele, Bolsonaro, também tem os seus.
A possibilidade, aventada pelo ex-capitão onze dias atrás, de tomar uma “ação dura”, por exemplo, não sumiu do radar presidencial.
Diz o assessor palaciano que uma eventual decretação do estado de defesa teria um importante efeito político: “Seria uma forma de restaurar a autoridade federal”.
Bolsonaro cortou cabeças, mostrou os dentes e libertou seus cachorros para latirem alto nas redes sociais. Mas é cedo para dizer se com isso sossegará. (Uol/Thaís Oyama)
Redação Jogo do Poder