Além do aspartame, que alimentos a OMS associa ao câncer
O adoçante aspartame, utilizado em refrigerantes como a Coca Zero, pode ser cancerígeno para os humanos, mas os dados científicos conhecidos não obrigam a alterar os valores diários de consumo aceitáveis, afirmou nesta quinta-feira (13/07) a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A conclusão consta de uma análise conjunta efetuada pela Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (Iarc, na sigla em inglês), que faz parte da OMS, e do comitê misto de peritos da Organização Mundial da Saúde e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (JECFA).
A Iarc classificou o aspartame como “possivelmente cancerígeno” para os humanos (grupo 2B), com base em “indicações limitadas sobre o carcinoma hepatocelular”, mas o JECFA concluiu que os dados avaliados não apontam para a necessidade de alterar a dose diária admissível previamente estabelecida de até 40 miligramas por cada quilo de peso do consumidor.
Segundo o professor de epidemiologia de câncer Paul Pharoah, do Centro Cedars-Sinai de Los Angeles, “o público em geral não deveria se preocupar com o risco de câncer associado a um produto classificado no grupo 2B”. Nesse grupo estão também o extrato de aloe vera e o ácido caféico, assinala.
Tendo como exemplo um refrigerante dietético contendo 200 ou 300 miligramas de aspartame, um adulto com 70 quilos precisaria consumir entre nove e 14 latas por dia para exceder a ingestão diária aceitável desse adoçante artificial, adiantaram as duas entidades.
“As indicações limitadas sobre o carcinoma hepatocelular provêm de três estudos” realizados nos Estados Unidos e em dez países europeus. Esses são os únicos estudos epidemiológicos sobre o câncer de fígado”, precisou a doutora Mary Schubauer-Berigan, da Iarc. Segundo ela, são necessários estudos adicionais para “esclarecer ainda mais a situação”.
O aspartame é amplamente utilizado em vários produtos dietéticos, ou “lights”, em substituição ao açúcar desde a década de 1980, como bebidas (Coca Zero, por exemplo), chicletes, gelatinas, sorvetes, iogurtes, cereais, pastas de dentes, e também em medicamentos.
Esta não é a primeira vez que a OMS considera haver risco de câncer no consumo de um alimento. A lista inclui também:
Carnes processadas
Comer carne processada, como presunto, salsicha e bacon, aumenta o risco de câncer, apontou um relatório da Iarc e da OMS divulgado em outubro de 2015.
O relatório foi compilado por 22 especialistas de dez países, que analisaram mais de 800 estudos internacionais sobre carne e câncer. A equipe classificou a carne processada como “cancerígena para humanos”.
A análise revelou que havia “evidências suficientes nos humanos de que o consumo de carne processada provoca câncer colorretal”, afirmou a agência com sede em Lyon, na França. Entre as carnes desse tipo estão salsichas, carne enlatada, carne seca e molhos à base de carne.
Assim, a carne processada foi listada no grupo 1 da Iarc – categoria que também inclui cigarros, amianto e fumaça de diesel. No entanto, a agência ressaltou que isso não significa que ela seja tão perigosa quanto eles.
“Para uma pessoa, o risco de contrair câncer ao comer carne processada continua sendo pequeno, mas ele aumenta de acordo com a quantidade de carne consumida”, disse Kurt Straif, da Iarc. Cada porção de 50 gramas de carne processada consumida diariamente aumenta em 18% o risco de câncer colorretal, segundo a agência.
Carne vermelha
Quanto à carne vermelha, há “evidências fortes dos efeitos cancerígenos” do consumo do alimento – principalmente no desenvolvimento de câncer de cólon e de reto, mas também no de pâncreas e próstata. Isso inclui carne bovina, de porco, cordeiro, carneiro, cavalo e cabra. A carne vermelha está, assim, no grupo 2A da OMS, dos que “provavelmente causam câncer”.
Grupos da indústria da carne criticaram o resultado, argumentando que o câncer não é causado por alimentos específicos, mas por vários fatores.
Há algum tempo médicos e agências governamentais vêm alertando que uma dieta com muita carne vermelha está associada ao câncer, incluindo o de cólon e no pâncreas.
Não está claro ainda em que medida a carne vermelha pode aumentar o risco de câncer, mas um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, tem uma hipótese.
Eles acreditam que o ácido siálico Neu5Gc, uma molécula de açúcar presente na carne vermelha, estimule um processo inflamatório no organismo, que predispõe ao desenvolvimento do câncer.
O Neu5Gc é encontrado naturalmente na maioria dos mamíferos, mas não nos seres humanos. O consumo persistente de carne vermelha levaria a uma inflamação crônica – que, como já se sabe, pode desencadear tumores – se o sistema imunológico humano estiver constantemente produzindo anticorpos contra o Neu5Gc, uma molécula estranha ao organismo.
Para testar a hipótese, os pesquisadores manipularam ratos de laboratório para que eles imitassem os humanos, ou seja, para que o Neu5Gc fosse uma substância estranha a eles também. Depois, os ratos foram alimentados com Neu5Gc e desenvolveram uma inflamação sistêmica. A formação de tumores quintuplicou e houve acúmulo de Neu5Gc nos tumores.
O teste em humanos é mais complicado, mas a equipe acredita que a descoberta possa ajudar a explicar a conexão entre a carne vermelha e outras doenças agravadas por inflamações crônicas, como aterosclerose e diabetes tipo dois.
Álcool
O álcool está desde 2012 no mesmo grupo da OMS que a carne processada, o grupo 1. Esse é o grupo dos alimentos que causam câncer.
Entre os tipos de tumores relacionados ao consumo de álcool estão os câncer de intestino, fígado, esôfago e mama.
Mais do que isso: um recente estudo sobre o consumo de bebidas alcoólicas abrangendo 195 países apontou que até mesmo pequenas quantidades de vinho ou cerveja ingeridas ocasionalmente podem aumentar o risco de problemas de saúde ou de morrer.
E a OMS alerta: o consumo etílico está relacionado a mais de 200 enfermidades e condições crônicas. Essa lista, que inclui o câncer e a cirrose, mata 3,3 milhões de pessoas por ano – o equivalente a cerca de 6% do número global de óbitos.
Frituras
As frituras estão no grupo 2A da OMS, dos que “provavelmente causam câncer”. Elas foram associadas ao câncer de língua.
Além disso, os ácidos graxos trans, encontrados também em frituras, podem estar associados ao maior risco de desenvolver câncer de ovário, segundo um estudo da Iarc divulgado em 2020.
Extrato de aloe vera
O extrato de aloe vera, uma planta conhecida popularmente como babosa, está no grupo 2B, dos que possivelmente causam câncer.
No Brasil, a Anvisa proibiu a venda, fabricação e importação de alimentos e bebidas à base de aloe vera porque não há comprovação de segurança de uso desses alimentos. Em alimentos, essa substância só pode ser utilizada como aditivo na função de aromatizantes.
Fonte: Deutsche Welle – Andrea Warnecke/dpa/picture alliance