Wikileaks revelou espionagem dos EUA sobre Dilma Rousseff e integrantes de seu governo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) celebrou nesta terça-feira (25), a libertação do jornalista australiano Julian Assange, fundador do site Wikileaks.
“O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje. Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”, disse o presidente brasileiro em mensagem divulgada em suas redes sociais.
Desde que tomou posse em janeiro de 2023, Lula tem sido uma das vozes mais ativas na defesa da libertação de Assange. Entre as informações reveladas pelo Wikileaks ao longo de mais de uma década, uma marcou a trajetória da diplomacia brasileira: a revelação de documentos que compravam a espionagem contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.
Relembre o caso
Em julho de 2015, o site Wikileaks, fundado por Julian Assange, publicou uma lista com nomes de 29 autoridades do governo brasileiro, incluindo a então presidenta Dilma Rousseff, que eram espionadas rotineiramente pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) desde 2011.
A NSA monitorou 10 telefones diretamente ligados a Dilma, entre telefones fixos de escritórios e celulares como o de seu assistente pessoal, Anderson Dornelles, assim como ministros como Antonio Palocci.
As revelações aconteceram em um momento em que Dilma estava retomando as relações com o governo do presidente Barack Obama, após as revelações feitas por Edward Snowden em 2013 apontarem que a presidenta brasileira estaria sendo vigiada pela NSA. Naquela primeira semana de julho de 2015, a presidenta havia feito a primeira viagem oficial aos EUA , agenda desmarcada após as informações foram reveladas por Snowden em 2013.
“A Secretaria de Comunicação da Presidência da República informa que a presidenta considera o episódio superado. A presidenta Dilma reitera que confia no presidente Obama e no compromisso por ele assumido. Os EUA e o Brasil tornarão cada vez mais forte a sua parceria estratégica, que está baseada no respeito mútuo e no desenvolvimento de seus povos”, disse o gabinete da Presidência da República na declaração.
Então exilado na embaixada do Equador em Londres Assange afirmou em comunicado que as práticas de espionagem do governo americano não haviam sido suspensas naquele momento, apesar das promessas feitas por Obama ao governo brasileiro.
“Se a presidente Rousseff quer ver mais investimentos dos EUA no Brasil depois de sua recente visita, como ela alega, como ela pode garantir às companhias brasileiras de que suas colegas americanas não terão uma vantagem fornecida por esta vigilância? Até que ponto ela pode realmente garantir que a espionagem parou – não apenas sobre ela, mas em todas as questões brasileiras?”, questionou Assange.
Perseguição
Assange foi liberado na segunda-feira (24) da prisão de segurança máxima na capital do Reino Unido, em Londres, onde estava detido havia mais de cinco anos, e embarcou rumo às Ilhas Marianas, onde uma audiência deve chancelar sua soltura. Após a breve estadia no território estadunidense no Pacífico, as ilhas estão mais próximas da Austrália do que do continente americano, o jornalista deve ser liberado e voltar ao seu país de origem, a Austrália.
Entre 2010 e 2011, alguns dos maiores jornais do mundo publicaram um material extenso sobre abusos de militares dos EUA no Iraque e Afeganistão. Entre os 250 mil documentos expostos pelo WikiLeaks, estava um material de tortura do Exército utilizado no centro de detenção Guantánamo.
Por expor esses crimes o jornalista Julian Assange foi alvo de perseguição do governo dos EUA. Primeiro, uma acusação frágil de violência sexual – que depois foi retirada – o obrigou a se refugiar na embaixada do Equador em Londres. Lá, em uma salinha pequena e abafada, ele viveu sete anos, dono de um gato e recebendo visitas de personalidades. Ele acabou sendo preso em 2019.
A partir daí, cresceram os temores de extradição para os Estados Unidos, onde poderia ser condenado a cumprir até 175 anos de prisão.
No fim de 2022, os jornais que haviam publicado o material confidencial do WikiLeaks em 2010- o britânico The Guardian, o estadunidense The New York Times, o espanhol El País, o francês Le Monde e o alemão Der Spiegel – pediram em carta que os Estados Unidos derrubassem as acusações contra Assange.
Um dia depois, Lula, já eleito presidente, se juntou ao coro: “Que Assange seja solto de sua injusta prisão”. Entenda o que Assange revelou e por que ele é alvo de toda essa perseguição.
Edição: Leandro Melito/Imagem: Marcos Oliveira/Senado