Ucrânia teme ‘ataque final’ em Mariupol e Rússia mantém ataques ao leste
Às vésperas do 9 de maio, data que marca a vitória de Moscou contra a Alemanha nazista, a Ucrânia teme um ataque final na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol. Paralelamente, a Rússia intensifica ataques no leste ucraniano.
Ontem, a Ucrânia confirmou que todos os civis, incluindo crianças, idosos e mulheres, foram retirados da siderúrgica, que é considerado o último ponto de resistência ucraniana em Mariupol.
Em discurso noturno, o presidente Volodymyr Zelensky, garantiu que continuará os esforços para a retirada de soldados. Estima-se que cerca de 2 mil militares ucranianos estão escondidos nos túneis da siderúrgica de Azovstal.
A Ucrânia acionou os Médicos Sem Fronteiras para organizar uma missão para retirada de soldados entrincheirados neste domingo. “Estamos trabalhando para evacuar nossos soldados. Todos os heróis que defendem Mariupol”, diz Zelensky. “É extremamente difícil. Mas é muito importante”.
O acordo de cessar-fogo costurado entre Rússia e Ucrânia, entretanto, foi encerrado ontem.
Hoje, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que “como em 1945, a vitória será nossa”, multiplicando as comparações entre a Segunda Guerra Mundial e o conflito na Ucrânia, que já dura 74 dias.
Há semanas, autoridades do Ocidente alertam que a Rússia usará a data de 9 de maio para declarar oficialmente guerra à Ucrânia. A estratégia permitiria a mobilização total de forças de reserva num momento em que os esforços de controlar regiões ucranianas continuam falhando.
“Acho que Putin tentará sair de sua ‘operação especial’. Ele está rolando o campo, preparando o terreno para poder dizer ‘olha, agora é uma guerra contra os nazistas, e o que eu preciso é de mais pessoas'”, afirmou o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, à rádio LBC na semana passada.
Putin, que pensa que não pode “se permitir perder” na Ucrânia, está “convencido de que redobrar seus esforços lhe permitirá progredir”, estimou no sábado Bill Burns, diretor da agência de inteligência americana CIA.
Todos os anos a Rússia celebra o 9 de maio, ou Dia da Vitória, com grandes paradas militares nas principais cidades, num movimento patriótico dedicado aos quase 20 milhões de soviéticos mortos durante o conflito. Este ano, a festa assume um simbolismo particular e menos tanques e equipamentos militares devem participar do evento.
Putin diz que “a vitória será nossa, como em 1945”
Em pronunciamento hoje em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin garantiu que “como em 1945, a vitória será nossa”. Ele fez várias comparações entre a Segunda Guerra Mundial e o conflito na Ucrânia.
Hoje, nossos soldados, como seus ancestrais, lutam pela libertação de sua pátria da imundície nazista, com a confiança de que, como em 1945, a vitória será nossa.Presidente russo Vladimir Putin discursa às vésperas do 9 de maio
“Hoje, o dever comum é impedir o renascimento do nazismo, que tanto sofrimento causou aos povos de diferentes países”, acrescentou, desejando “que as novas gerações sejam dignas da memória de seus pais e avôs”.
Putin ainda desejou ironicamente “a todo o povo da Ucrânia um futuro pacífico e justo”. Na Rússia, a data oficial da vitória soviética é dia 9 de maio, marcado por um tradicional desfile militar na Praça Vermelha.
Soldados ucranianos em Azovstal prometem lutar “até o fim”
Segundo Yevgenia Tytarenko, enfermeira militar, cujo marido, médico e membro do regimento Azov, e seus colegas ainda ocupam a fábrica, “muitos soldados estão em estado grave. Estão feridos e não têm remédios”.
“Vou lutar até o fim”, escreveu seu marido Mykhaïlo, em um SMS que a AFP visualizou. Eles se casaram dois dias antes da invasão russa.
Mariupol, uma cidade portuária no sudeste que tinha quase 500.000 habitantes antes da guerra, foi quase completamente apagada do mapa por dois meses de bombardeios russos.
Rússia ataca escola no leste ucraniano, que era usada como abrigo
Ao menos duas pessoas morreram e 60 pessoas estão desaparecidas após um bombardeio russo a uma escola na vila de Bilohorivka, no leste da Ucrânia, informou hoje o governador da região de Luhansk, Sergei Gaïdaï. O grupo se refugiava no local.
Cerca de 30 pessoas foram resgatadas. O governador Gaïdaï informou que o bombardeio ocorreu na tarde de sábado (horário local) e que a escola foi consumida por um incêndio.
“O fogo foi extinto depois de quase quatro horas. Depois os escombros foram removidos e, infelizmente, os corpos de duas pessoas foram encontrados”, escreveu o governador no aplicativo de mensagens Telegram.
“O inimigo não cessa as operações ofensivas na zona operacional do leste para estabelecer o controle total sobre o território das regiões de Donetsk, Lugansk e Kherson, e para manter o corredor terrestre entre esses territórios e a Crimeia ocupada” desde 2014, informou o Estado-Maior ucraniano esta manhã.
Comboio de civis que fugiu de Kharkiv foi bombardeado
Um comboio com 15 veículos civis que tentava escapar de combates na região de Kharkiv foi alvejado, matando várias pessoas, informou a polícia local, segundo informações da CNN dos EUA.
Serhiy Bolvinov, chefe do departamento de investigação policial, diz que o grupo estava a caminho de um território controlado por ucranianos.
“Devido ao combate em andamento, não foi possível chegar ao local da coluna”, declarou.
Os destroços do comboio foram encontrados na sexta-feira (6). No local, a polícia também descobriu um tanque inimigo quebrado e os corpos de dois soldados russos.
A mais de 300 metros de distância, foram encontrados seis carros com buracos de bala. Quatro cadáveres foram estavam nos veículos, incluindo os restos mortais de uma menina de 13 anos.
A polícia não detalhou o que pode ter acontecido com os outros veículos do comboio.
Rússia contra-ataca para ganhar territórios
Os russos obtiveram entre sexta e sábado ganhos territoriais limitados em torno de Severodonetsk, uma das principais localidades do Donbass ainda nas mãos dos ucranianos, mas que não deve levar a um cerco completo, observou no sábado o Instituto Americano de Estudos de Guerra (ISW).
Até agora, a Rússia só conseguiu reivindicar o controle total de uma grande cidade, Kherson.
Em Kharkiv, a contra-ofensiva ucraniana para colocar a segunda maior cidade da Ucrânia fora do alcance da artilharia inimiga ganhou força, com a captura de várias posições russas, novamente de acordo com o ISW.
“As forças ucranianas estão recuperando terreno ao longo de um amplo arco em torno de Kharkiv e já não se concentram num impulso limitado, demonstrando uma capacidade de lançar operações ofensivas em maior escala”, explicou o instituto.
Tanto que o exército russo teve que explodir três pontes rodoviárias “para desacelerar a contra-ofensiva” nesta região, segundo o ministério da Defesa ucraniano.
A Marinha ucraniana, por sua vez, alegou ter destruído a cem quilômetros de Odessa, não muito longe da Ilha da Cobra, o navio de desembarque russo Serna usando um drone de combate desenvolvido na Turquia. Informação não confirmada pela Rússia, que declarou, por outro lado, ter afundado “o barco de assalto ucraniano ‘Stanislav'”.
Fonte: Uol, com informações de AFP e RFI