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Truss demite ministro das Finanças para salvar seu governo

Deutsche Welle – A primeira-ministra britânica, Liz Truss, demitiu nesta sexta-feira (14/10) seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, e reformolou partes de seu pacote econômico em uma tentativa de salvar seu governo e atravessar a turbulência política e do mercado.

Os mercados financeiros britânicos vivem momentos de tensão desde que em 23 de setembro Truss e Kwarteng apresentaram um pacote de medidas que prevê importantes ajudas públicas e cortes de impostos, mas que é vago sobre os mecanismos de financiamento.

A libra e os títulos do governo britânico caíram enquanto Truss dava uma entrevista de oito minutos em Downing Street, com economistas e investidores dizendo que a reversão adotada por ela dos cortes de impostos de 20 bilhões de libras provavelmente não seria suficiente para acalmar os mercados financeiros.

Truss admitiu ter ido “além e mais rápido” do que os mercados esperavam durante seus 37 dias no cargo. “Temos que atuar agora para tranquilizar os mercados”, afirmou na coletiva imprensa.

“Hoje agi de forma decisiva porque minha prioridade é garantir a estabilidade econômica de nosso país”, disse ela. “Quero ser honesta, isto é difícil. Mas vamos superar esta tempestade.”

Mais cedo, Truss demitiu seu ministro das Finanças e amigo íntimo, Kwarteng. Para substituí-lo, ela nomeou Jeremy Hunt, ex-ministro do Exterior e da Saúde que havia apoiado seu rival Rishi Sunak na disputa para o posto de líder do Partido Conservador. Ele é o quarto ministro das Finanças em quatro meses no Reino Unido, que atravessa uma crise que tem impactado negativamente do custo de vida.

“Isto marca a primeira vez em décadas – desde pelo menos os anos 1990 – que os mercados financeiros forçaram o governo de uma grande economia desenvolvida com seu próprio banco central a capitular sobre as principais ambições fiscais”, disseram analistas da consultoria Evercore.

Kwarteng se tornou o ministro das Finanças do Reino Unido com menos tempo no cargo, exceto por um predecessor que morreu repentinamente em 1970. Ultraliberal de 47 anos, nascido em Londres, de pais imigrantes de Gana, Kwarteng confirmou no Twitter que Truss, sua aliada de longa data, o demitiu do cargo.

“Você me pediu para deixar o cargo de ministro das Finanças. Eu aceitei”, escreveu Kwarteng em uma carta dirigida a Truss e publicada em sua conta após seu retorno de Washington, onde participou das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Governo à deriva

A própria posição de Truss está agora em perigo.

Truss assegurou a liderança do Partido Conservador no mês passado ao prometer vastos cortes de impostos e desregulamentação para tirar a economia de anos de estagnacao. A política fiscal que Kwarteng anunciou em 23 de setembro visava concretizar essa visão. Ela Sucedeu na liderança do partido e do Executivo o controverso Boris Johnson, pressionado por suas próprias fileiras a renunciar após escândalos que arrasaram com sua popularidade.

Mas a resposta dos mercados ao pacote foi tão negativa que o Banco da Inglaterra teve que intervir para evitar que os fundos de pensão fossem arrastados caos, à medida que os custos de empréstimos e hipotecas aumentaram.

Agora, tendo desencadeado perdas no mercado, Truss corre o risco agora de ver seu governo entrar em colapso se não conseguir formular um pacote de cortes de gastos públicos e aumentos de impostos que acalme os investidores e consiga passar pelo Parlamento.

Somando-se às pressões do mercado, pesquisas mostram que o apoio ao Partido Conservador entrou em um novo turbilhão, levando muitos membros a procurar maneiras de forçar a Truss a sair do cargo.

“O partido adora a ideia de princípios e convicção política, mas permanecer no poder é tudo”, disse uma fonte do partido à agência Reuters.

Um parlamentar disse que Truss poderia sobreviver, mas estava “gravemente ferida” e corria o risco de alienar as alas do partido que a elegeram. Ele a descreveu a situação como “confusão”. Segundo uma pesquisa do YouGov, 43% dos eleitores que votaram no Partido Conservador de Johnson em 2019 querem uma nova mudança de primeiro-ministro.

Em Washington, o responsável de assuntos econômicos da Comissão Europeia, Paolo Gentilini, considerou que o que aconteceu no Reino Unido “mostra o quão volátil é a situação e quão prudentes também devemos ser com nossa política fiscal e monetária”.

“Mudar o ministro das Finanças não desfaz os danos já infligidos” e “precisamos de uma mudança de governo”, disse Rachel Reeves, chefe de economia do Partido Trabalhista, da oposição, que supera em muito os conservadores nas pesquisas.

DW Brasil – jps (AFP, Reuters)

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