Tensão entre Rússia e Ucrânia pode afetar fornecimento de gás para a Europa
À medida que aumenta a tensão entre a Rússia e a Ucrânia, a busca por fornecedores de gás que possam garantir cargas adicionais do produto para o continente ganha fôlego. Quais seriam as alternativas? Quais países poderiam abastecer a Europa? Como o bloco europeu poderia diminuir a sua dependência energética dos russos?
Em um momento de grandes tensões geopolíticas e diante da ameaça de uma invasão russa na Ucrânia, a Agência Internacional de Energia acusou a Rússia de estar coordenando uma crise energética na Europa, ao reter 25% de suas exportações de gás. Com o fornecimento do gás russo a conta-gotas, os valores das contas de eletricidade e, consequentemente, o custo de vida, dispararam.
Vários governos do bloco europeu tiveram que implementar pacotes de medidas para os consumidores menos favorecidos com subsídios das tarifas e redução de impostos. Os preços do gás na Europa atingiram novos recordes em dezembro passado. Especialistas acreditam que não há porque acreditar que os preços irão diminuir; a previsão é de que a tendência de alta permaneça durante os próximos dois anos.
No entanto, ninguém pode assegurar quando e com qual intensidade o Kremlin fechará suas torneiras de gás. A Rússia é o segundo maior produtor de gás natural mundial e o maior exportador de gás para a Europa e para o resto do mundo. Um terço deste volume é importado pelo continente europeu através de gasodutos que passam principalmente pela Ucrânia. Tendo em vista a deterioração das relações da Rússia com o Ocidente, especialistas alertam para o fato de que o governo russo possa usar possíveis interrupções no fornecimento de gás para a Europa como uma arma política de grande escala.
Catar é a aposta favorita
Com o objetivo de diminuir a dependência energética da Rússia, os europeus estão apostando em alternativas como o Catar, um dos maiores produtores de gás no mundo e o segundo maior exportador de gás natural em seu estado liquefeito (GNL). O Catar é um forte aliado dos europeus no Oriente Médio e tem exportado gás natural liquefeito para a Europa há anos, por via marítima, em navios-tanque super-refrigerados.
A Líbia poderia ser uma outra opção, o país é um grande produtor de gás e sua proximidade com o continente europeu facilitaria o transporte do produto. Austrália, Argélia e outros países africanos poderiam ser outras possibilidades. O próprio EUA, que estão prestes a se tornar o maior exportador de gás natural liquefeito do planeta, aumentaram os embarques de GNL para portos europeus.
No entanto, a operação não é tão simples. A Alemanha, por exemplo, não tem nenhum terminal para receber gás natural liquefeito em seu litoral. Mesmo assim, na semana passada, EUA e União Europeia se comprometeram a cooperar para garantir um fornecimento “contínuo e suficiente” de gás em caso de interrupções ligadas à uma provável invasão russa na Ucrânia. Para os americanos, que querem continuar a vender gás liquefeito para os europeus, “a dependência da Europa em relação ao gás russo é geopoliticamente errada”, uma forte razão para a Casa Branca não apoiar o polêmico gasoduto Nord Stream 2.
O controverso Nord Stream 2
A Alemanha é um dos países da União Europeia mais dependente do gás exportado pela Rússia. Nada menos do que 55% do gás natural que aquece os lares alemães neste inverno é fornecido por Moscou. A meta do controverso gasoduto Nord Stream 2, ainda sem licença de operação, é dobrar o abastecimento do gás russo para a Alemanha.
Os EUA são contra a autorização do Nord Stream 2, controlado pela gigante russa Gazprom. Para Washington, este gasoduto só irá aumentar a dependência energética da Europa do gás que vem da Rússia. No mês passado, durante uma visita à Berlim, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reiterou a necessidade de impedir o Kremlin de utilizar “a energia como arma”.
Para os russos, o grande êxito, é que o Nord Stream 2, concluído em setembro passado, tem uma rota alternativa sob o Mar Báltico e não passa pela Ucrânia. Atualmente, o trânsito do gás russo pela Ucrânia é uma grande fonte de renda para Kiev. O novo chanceler alemão Olaf Scholz já cogita fechar o gasoduto Nord Stream 2 em caso de uma invasão russa na Ucrânia.
Fonte: RFI