
Por mais que o relógio eleitoral permita ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) esperar até março de 2026 para se desincompatibilizar do cargo e concorrer à Presidência da República, os bastidores da política paulista indicam que o verdadeiro prazo está muito mais próximo — dezembro de 2025. E o motivo tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro.
Aliados próximos ao governador já tratam o fim deste ano como um divisor de águas. Se até lá Bolsonaro, atualmente inelegível, não passar formalmente o bastão para Tarcísio como seu sucessor legítimo na corrida presidencial, a tendência será clara: o governador deve recuar e mirar sua reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.
A leitura entre os mais próximos é pragmática. Tarcísio não quer ser um “plano B” improvisado às pressas, tampouco se lançar em uma campanha presidencial com pouco tempo de articulação nacional, alianças robustas e base consolidada. Mesmo que o prazo legal permita, a política exige mais do que formalidades: exige estratégia, tempo e bênçãos públicas.
Do lado de Bolsonaro, o discurso é inabalável: ele ainda se vê como o grande nome da direita em 2026. Mas a realidade jurídica não acompanha esse otimismo. Declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030, o ex-presidente dificilmente conseguirá reverter sua situação, mesmo com todas as investidas judiciais em andamento. No entorno de Tarcísio, essa possibilidade é vista como quase nula — e por isso, cresce a pressão para que Bolsonaro, em algum momento, se convença de que não poderá voltar às urnas e abra caminho para um novo nome do seu campo político.
O ponto curioso — e talvez mais estratégico — é que, por ora, a indefinição de Bolsonaro serve como uma espécie de escudo para Tarcísio. Ao não se apresentar abertamente como presidenciável, o governador paulista preserva sua gestão de ataques mais contundentes por parte da oposição. Um embate antecipado com Lula, por exemplo, mudaria completamente o tom e o foco do noticiário político — e também da crítica. Nesse sentido, a “sombra” de Bolsonaro funciona como uma blindagem temporária para o governo paulista seguir operando com menos turbulência.
Mas até quando esse jogo de sombras será sustentável?
Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura e gestor técnico por excelência, sabe que a política nacional não perdoa hesitações. Caso deseje de fato disputar o Planalto, precisará iniciar essa construção com clareza, discurso próprio e articulação de base. Ainda que tenha nascido politicamente sob as asas de Bolsonaro, sua trajetória como governador vem revelando um perfil mais moderado, institucional e até mesmo distante de algumas pautas bolsonaristas mais radicais. É justamente essa ambiguidade que pode se tornar força — ou fraqueza — dependendo de como ele se posicionar nos próximos meses.
O cenário de 2026 está longe de estar desenhado. Mas o tempo, esse sim, já começou a correr.
Edição Damata Lucas – Imagem: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil