A cúpula do PSB deve intensificar a pressão sobre o PT na segunda quinzena de janeiro para que haja uma sinalização nítida sobre o cenário para as eleições de outubro.
Em dezembro, o PSB oficializou o convite ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para que ele possa se filiar à legenda após a saída do PSDB. O chamado foi feito antes do jantar com advogados em que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estiveram presentes.
O convite a Alckmin ocorreu em um encontro reservado dele com três integrantes do PSB: o também ex-governador Márcio França, o presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, e o prefeito do Recife, João Campos.
O trio, além do governador de Pernambuco, Paulo Câmara, integra a linha de frente do PSB na pressão para o PT se definir sobre o posicionamento nos palanques dos governos dos estados para o pleito de outubro.
Isso porque, em troca do apoio a Lula e com a possibilidade de indicar Alckmin para a vice, o PSB quer que o PT apoie os seus candidatos em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Acre e Pernambuco. Os dois partidos também cogitam a formação de uma federação partidária, que também esbarra nos impasses regionais.
Desses seis estados, Pernambuco é o único em que o PSB não tem candidato a governador definido. Por outro lado, a situação é mais confortável eleitoralmente em relação aos demais palanques almejados, porque o partido está no poder desde 2007 no território pernambucano.
O candidato natural à sucessão de Paulo Câmara seria o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio, mas ele tem dito reiteradamente que não será postulante ao Executivo estadual neste ano. Conforme a Folha mostrou, Geraldo tem sido pressionado por aliados a rever a sua posição.
No PSB, há dois posicionamentos correntes. Um deles é de que a decisão do ex-prefeito é irreversível porque o veto à sua candidatura teria partido da sua família, e o outro é de que Geraldo Julio evita sinalizar se será candidato agora para evitar ser alvo de ataques da oposição antes do início efetivo da campanha eleitoral.
Enquanto isso, o PSB se divide sobre as opções para a disputa do governo em caso de manutenção da negativa de Geraldo.
O nome preferido do governador Paulo Câmara para a disputa é o do secretário da Casa Civil, José Neto, visto como nome técnico e que conta com simpatia pela base aliada do governo na Assembleia Legislativa.
Já a bancada federal do PSB de Pernambuco diverge e quer um quadro já do partido como candidato. Nesse cenário, os mais cotados são os deputados federais Danilo Cabral e Tadeu Alencar. Se a disputa se afunilar entre os dois, pesa a favor de Danilo a simpatia de partidos aliados. A favor de Tadeu, a proximidade com o prefeito do Recife, João Campos, e a ex-primeira-dama Renata Campos.
“Em termos de atributos, o candidato, eu acho, será aquele que melhor reúna os atributos de um ou de outro lado. Não acho que será limitada se será um nome político ou técnico. É importante que tenha assento político porque não dá para ter preconceito com a política, mas que tenha capacidade de enfrentar os problemas e desafios de Pernambuco”, diz Tadeu.
Enquanto isso, o PT lançou a pré-candidatura do senador Humberto Costa como forma de se posicionar no jogo político estadual. Como o parlamentar é um dos principais aliados do governador Paulo Câmara, o PSB não acredita que a postulação avance para um bate-chapa em outubro.
Em São Paulo, o PSB tem Márcio França como pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Dirigentes do partido, sob reserva, afirmam que a intenção está mantida mesmo após a operação da Polícia Civil estadual que fez buscas e apreensões em endereços ligados ao ex-governador por supostos desvios de recursos na saúde. Ele nega irregularidades.
Mesmo com palavras de apoio a Márcio França e relatos de confiança na sua conduta, a direção do PSB entende que poderá haver um dano político a França a depender do avanço das investigações durante o ano eleitoral, mas minimiza essa possibilidade.
Em paralelo, o PSB enfrenta uma debandada na bancada de deputados na Assembleia Legislativa de São Paulo, como revelou o Painel. Dos 6 deputados estaduais do partido, apenas 2 devem permanecer na sigla para disputar as eleições de 2022.
A perspectiva de encolhimento do PSB em São Paulo contribui para que o PT defenda a manutenção de Fernando Haddad, ex-prefeito da capital paulista, como pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes.
São Paulo é o maior entrave para a aliança entre petistas e peessebistas. A situação só deverá ficar mais nítida na segunda quinzena do mês, quando o presidente do PSB, Carlos Siqueira, já terá retornado das férias.
No Acre, o deputado estadual Jenilson Leite é pré-candidato ao governo do estado, mas sinalizou a interlocutores que poderá ir para a disputa do Senado se o ex-senador Jorge Viana (PT) optar pela disputa do Executivo.
O PT governou o Acre por 20 anos e passou para a oposição em 2018, quando o atual governador Gladson Cameli (PP) conquistou o primeiro mandato. O partido deseja voltar ao comando do estado, mas a prioridade da cúpula nacional é formar bancadas federais expressivas para ajudar Lula em um eventual governo. Isso pode levar Viana a ficar na disputa pelo Senado.
No Rio de Janeiro, o pré-candidato do PSB é o deputado federal Marcelo Freixo, que quer aliança com o PT e Lula na disputa fluminense. A sigla petista deseja indicar um nome para a disputa do Senado, que poderá ser o presidente da Assembleia Legislativa fluminense, André Ceciliano.
Na semana passada, Ceciliano teve uma reunião reservada com o deputado federal Alessandro Molon, preferido do PSB para o Senado, e com o presidente do PT do Rio, João Maurício de Freitas, para discutir o cenário eleitoral.
No entanto, o apoio do PT a Freixo não é unanimidade no diretório da legenda no Rio. Uma ala cogita aliança com o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT), que já se demonstrou disposto a ceder aos petistas a indicação para o Senado na sua chapa.
Outro grupo, ligado ao vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, teme que uma aliança de Lula com Freixo no Rio possa afastar o eleitorado de centro, que está na mira do PT em 2022.
Quem também resiste a uma ampla aliança com o PT é o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande. O candidato a presidente preferido dele é o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).
Já no Rio Grande do Sul, o PSB faz parte da base aliada do governo de Eduardo Leite (PSDB), o que leva o PT a resistir a um apoio ao ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) para o Palácio do Piratini. O pré-candidato petista é o deputado estadual Edegar Pretto, um dos principais opositores do governo tucano.
Fonte: Folha de S. Paulo