Peruanos elegem presidente em 2° turno com Fujimori e Castillo
Mais de 25 milhões de peruanos votam hoje no segundo turno da eleição presidencial. Em sua terceira tentativa de chegar ao Palácio do Governo, a líder da direita populista Keiko Fujimori enfrenta o candidato de esquerda Pedro Castillo, professor e ativista sindical. Vencedor do primeiro turno, Castillo tem 42% de intenções de voto contra 40% para Keiko, segundo as últimas pesquisas.
Com voto obrigatório, os peruanos vão às urnas em um pleito polarizado e cercado de incertezas. Quem ganhar terá que buscar acordos em um Congresso fragmentado para evitar que persista a instabilidade dos últimos cinco anos, que provocou a sucessão de três presidentes em cinco dias em novembro de 2020.
O professor de escola rural e a filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori (1990-2000) encerraram suas campanhas na quinta-feira (3) em Lima, em comícios com centenas de apoiadores aglomerados, enquanto a pandemia não dá trégua. Nesta semana, o Peru passou a ter a maior taxa de mortalidade por covid-19 do mundo, e é o quinto em número de mortes (184 mil pessoas).
Keiko Fujimori, de 46 anos, defende a continuidade do modelo neoliberal instaurado pelo seu pai, enquanto Castillo, de 51 anos, propõe um papel do Estado mais ativo na economia. Os dois concorrentes realizaram grandes comícios em diferentes cidades do país na última semana, buscando captar os votos dos indecisos, que rondavam os 18% nas últimas pesquisas. Depois de uma campanha marcada pela exacerbação dos medos, para muitos essa eleição será a escolha “do mal menor” entre dois candidatos que juntos receberam 32% dos votos no primeiro turno, em 11 de abril.
Voto no exterior
Um milhão de peruanos também votam em 75 países, incluindo 140 mil na Venezuela, Chile, Paraguai e Aruba. Muitos não puderam votar no primeiro turno devido a restrições decorrentes da pandemia.
Os centros eleitorais, incluindo centenas que serviram de local de vacinação contra a covid-19, ficaram sob vigilância policial e militar, após a chegada de material como boletos de voto, urnas, cadernos de registro e máscaras para os cidadãos que devem fiscalizar a votação.
Keiko Fujimori vota hoje na escola Precursors, no distrito de Surco, em Lima, enquanto Castillo vai votar na escola Salomón Díaz de Tacabamba, em sua cidade natal, Cajamarca. Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos por volta das 23h do horário local (1h de Brasília na segunda-feira).
Candidatos com visões opostas para o país
Pedro Castillo, professor de escola rural, saiu do anonimato há quatro anos quando liderou uma greve nacional de professores. Ele irrompeu na disputa presidencial com um discurso de esquerda e a promessa de “não haver mais pobres em um país rico”. Um terço dos peruanos vive na pobreza.
O programa eleitoral da legenda Peru Livre se baseia em uma tríade: saúde, educação e agricultura, setores prioritários para promover o desenvolvimento nacional, segundo Castillo. O candidato também planeja convocar uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Constituição em seis meses a fim de substituir a atual, que favorece a economia de livre mercado. A Constituição de 1993 é um legado do governo populista do pai de Keiko.
O partido de esquerda também defende o regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Castillo anunciou que, se chegar ao poder, o Peru recuperará o controle de sua energia e riquezas minerais, como gás, lítio e ouro, agora sob controle de multinacionais. No entanto, ele não especificou como executaria esse plano.
A primogênita do ex-presidente Fujimori encara essa eleição com inédito tom moderado e conciliador, após passar 16 meses em prisão preventiva, até maio de 2020, suspeita de receber dinheiro ilegal da construtora brasileira Odebrecht para suas campanhas de 2011 e 2016, acusação que ela nega.
O Ministério Público, que se prepara para levá-la a julgamento, anunciou em março que pedirá 30 anos de prisão pelos supostos crimes de lavagem de dinheiro e obstrução da justiça, entre outros. Se conquistar a presidência, Keiko terá imunidade e só poderá ser julgada após o término de seu mandato de cinco anos. Suas propostas para reativar a economia, duramente atingida pela pandemia, envolvem aumento dos gastos públicos e foram rotuladas de “populistas” por economistas independentes.
(Com informações AFP)