O governo e o Congresso colocaram no radar uma lista de medidas de ajuste que podem abrir um espaço de até R$ 45,4 bilhões no Orçamento para bancar a ampliação do Bolsa Família por meio do novo Renda Cidadã.
Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se encontraram em um jantar para tentar encontrar uma solução para o programa social sem furar o teto de gastos, a regra que limita o avanço das despesas à inflação.
O objetivo é buscar uma reaproximação entre Guedes e o Congresso e mostrar coesão em torno da agenda de responsabilidade fiscal, que passou a ser vista com desconfiança diante do racha dentro do próprio governo sobre flexibilizar ou não o teto de gastos para acomodar o Renda Cidadã.
Apaziguar os ânimos
Ao longo de todo o dia, integrantes do governo buscaram apaziguar os ânimos após os desentendimentos entre Guedes e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, na última sexta-feira. O presidente Jair Bolsonaro tomou café da manhã no Palácio da Alvorada com Maia, Marinho, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o relator da proposta que criará o Renda, senador Márcio Bittar (MDB-AC).
Segundo apurou o Estadão, o presidente da Câmara reforçou a necessidade de cortar despesas e insistiu na manutenção do teto de gastos, dizendo que não é possível encontrar “fórmula mágica” para o novo programa. Maia defende a regulamentação dos chamados gatilhos, medidas de corte de despesas para manter o teto.
Em seguida, Bittar foi ao Ministério da Economia e saiu de lá ao lado de Guedes, prometendo respeitar o teto de gastos na criação do Renda. Mas uma hora e meia depois de afirmar que qualquer demanda relacionada ao Renda Cidadã terá de passar pelo “carimbo” de Guedes, o senador voltou a se reunir com Marinho para discutir detalhes da proposta, segundo duas fontes do governo ouvidas pela reportagem. O encontro não consta na agenda oficial.
Um dos patrocinadores do encontro entre Maia e Guedes, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), usou o Twitter para defender a necessidade de combater altos salários do funcionalismo e uma tributação maior para remuneração acima de R$ 50 mil como fontes de receitas para o novo programa.
Endurecer abono, BPC e Bolsa Família
A lista de medidas levadas à discussão para bancar o Renda é maior. A mais significativa é a proposta que transfere a responsabilidade pelo pagamento do auxílio-doença ao empregador, que por sua vez abateria o valor da contribuição paga ao INSS.
Hoje o pagamento é feito pelo INSS quando o período de afastamento é superior a 15 dias. A mudança, já cogitada no passado pelo Congresso, pode liberar R$ 18,4 bilhões dentro do teto, segundo cálculos obtidos pelo Estadão.
Outra proposta é elevar o tempo mínimo que o empregado com carteira assinada precisa trabalhar para ter direito ao abono salarial (espécie de 14º salário pago a quem ganha até R$ 2.090).
Hoje, o trabalhador tem direito a um valor proporcional do abono a partir de um mês trabalhado com carteira assinada no ano. A cada mês, o valor do abono é acrescido na proporção de 1/12 avos do salário mínimo. A sugestão é elevar essa “carência” a um período mínimo de seis meses.
Também estão na lista de propostas mudança na regra do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, concedendo acesso a quem tem renda de até R$ 280 por pessoa, com análise também de condições de miserabilidade e vulnerabilidade (economia de R$ 3,9 bilhões), uma revisão na regra de permanência no Bolsa Família, com proibição de acúmulo com outros benefícios sociais (impacto de R$ 4,3 bilhões).
Outras sugestões são a redução de penduricalhos e a regulamentação do teto remuneratório para servidores (com economia de R$ 2,2 bilhões), liberar recursos do FGTS em parcelas antes de o trabalhador demitido acessar o seguro-desemprego (impacto de R$ 3,1 bilhões) e revisão no seguro-defeso (economia de R$ 1,5 bilhão). (Uol/Estadão)
Redação