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ONU reforça proteção de grupos vulneráveis no Rio Grande do Sul

Dados oficiais das autoridades brasileiras apontam que as inundações no Rio Grande do Sul mataram pelo menos 107 pessoas e afetaram mais de 1,7 milhão. Cerca de 134 pessoas ainda estão desaparecidas.

Em coordenação com as autoridades locais, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, está distribuindo itens de socorro, como cobertores e colchões, e avaliando as necessidades da população afetada.

Relato da linha de frente

Dentre as organizações parceiras do Acnur que atuam diretamente nas áreas afetadas está o Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados, Sjmr. O coordenador da organização em São Leopoldo e Florianópolis, Elias Gertrudes, contou para a ONU News sobre as principais necessidades na linha de frente desta emergência climática.

“A articulação para doações e resgate de pessoas está norteando o nosso trabalho como equipe. Assim toda equipe do Sjmr está envolvida de alguma forma e tenta ajudar com doações, encontrar desaparecidos, identificar possíveis abusos e violências de direitos. Este evento climático que assola o Rio Grande do Sul está sendo considerado pelos órgãos da defesa Civil, segurança pública e entidades ambientais como a pior tragédia presenciada na região sul do Brasil”.

Segundo ele, a cidade de São Leopoldo está “isolada e sofre com falta de abastecimento de serviços básicos como supermercados e postos de combustível”. Mais da metade da cidade está submersa “com bairros inteiros destruídos e pessoas desoladas e sem abrigo”. Em Porto Alegre, o Sjmr ajudou a tirar 130 famílias de zonas de risco e levá-las para abrigos.

Cheias no centro histórico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Acnur/Eduardo Aigner – Cheias no centro histórico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Refugiados em áreas afetadas

Entre os impactados estão cerca de 41 mil refugiados e outros que precisam de proteção internacional, incluindo muitos venezuelanos e haitianos que vivem nas áreas afetadas, algumas das quais só podem ser alcançadas de barco.

Segundo dados do governo, o Rio Grande do Sul abriga mais de 21 mil venezuelanos que foram realocados de Roraima, na fronteira norte do país com a Venezuela, desde abril de 2018.

O Acnur também está fornecendo apoio técnico para facilitar a comunicação com as comunidades impactadas para que refugiados e migrantes tenham acesso em seu próprio idioma a informações oficiais sobre recomendações de proteção e riscos nos lugares onde vivem.

Nos próximos dias, a agência apoiará a emissão de documentação, caso tenha sido perdida ou danificada, para garantir que refugiados e requerentes de asilo continuem a ter acesso a benefícios sociais e serviços públicos.

Risco de violência para mulheres e crianças

Outros itens de socorro, como abrigos emergenciais, kits de cozinha, cobertores, lâmpadas solares e kits de higiene, estão sendo enviados ao Brasil a partir dos estoques regionais do Acnur e do estoque da agência no norte do país.

Atualmente, há 66 mil pessoas em abrigos no Rio Grande do Sul. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, é preciso saber quantas delas são crianças e adolescentes e quais são suas idades e necessidades.

A representante adjunta da agência no Brasil, Denise Stuckenbruck, explica que “em emergências, crianças, adolescentes e mulheres ficam em situação de alta vulnerabilidade e em risco de sofrer diferentes tipos de violência”.

Segundo ela, essas populações ficam ainda mais expostas à violência física e sexual, pois em situação de abrigamento nem sempre há garantia de privacidade para cuidados pessoais, nem locais separados e seguros para famílias e crianças.

Um homem atravessa enchentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Acnur/Eduardo Aigner – Um homem atravessa enchentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Proteção de crianças é “responsabilidade de todos”

Ao mesmo tempo, o isolamento em casa, o fechamento de escolas e a fragilização dos serviços de proteção e assistência social, também deixam crianças e adolescentes mais expostos à violência doméstica e sexual.

Denise afirmou que “proteger crianças e adolescentes das violências, em especial a violência sexual, é responsabilidade de todos envolvidos na resposta ao desastre no Rio Grande do Sul”. Ela ressaltou que o “principal canal para denúncias é o Disque 100”.

O Unicef informa que neste momento, em Porto Alegre, a orientação do Ministério Público do Rio Grande do Sul é que meninas e meninos desacompanhados sejam encaminhados diretamente ao Ginásio Geraldo Santana, na rua Luis de Camões 337, Bairro Santo Antônio. Nesse local, profissionais capacitados tomarão as medidas necessárias para identificação, encaminhamento e reunificação familiar.

A agência lembra que não se deve compartilhar fotos, vídeos e dados de crianças e adolescentes desacompanhados em redes sociais. Isso expõe os menores a uma série de riscos. Somente autoridades competentes podem atuar na reunificação das crianças com suas famílias ou no direcionamento delas a serviços de acolhimento.

Novas chuvas de alta intensidade

Eventos climáticos extremos no Brasil têm sido frequentes e mais devastadores nos últimos anos, incluindo secas na região amazônica e chuvas severas nos estados da Bahia e Acre, aos quais as agências da ONU tem respondido.

Os meteorologistas estão alertando para novas chuvas de alta intensidade e ventos fortes em todo o estado do Rio Grande do Sul até este fim de semana.

Mais de 85% do território gaúcho foi atingido pelas enchentes, com cerca de 327 mil forçadas a deixar suas casas.

Fonte: ONU News – Imagem: Acnur/Eduardo Aigner

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