ONU lamenta retomada de bombardeios em Gaza
O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou profundamente o recomeço das operações militares em Gaza nesta sexta-feira. Ele fez um apelo para que as partes em conflito voltem à mesa de negociações para chegar a um acordo sobre um “verdadeiro cessar-fogo humanitário.”
O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, James Elder, disse que o som de bombas explodindo pouco depois das 7h, horário de Gaza, foi audível no hospital Nasser, no sul. Ele contou que jovens aterrorizados e traumatizados reagiram imediatamente agarrando-se às suas mães com medo.
Fim da pausa humanitária
Falando a jornalistas por videoconferência de Khan Younis, ele afirmou que “as bombas começaram apenas alguns segundos após o cessar-fogo terminar”.
O representante do Unicef relatou que ao se aproximar do hospital Nasser, “houve um impacto, um míssil, um foguete”. Ele afirmou que “crianças com feridas de guerra estão por toda parte” e que centenas de mulheres e menores se refugiam no local.
O retorno da violência ocorre após o fim de uma pausa de uma semana no conflito entre militantes do Hamas e as forças israelenses, que permitiu a entrega de combustível, alimentos e água extremamente necessários.
A pausa permitiu ainda a libertação de reféns detidos durante o ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel e a morte de cerca de 1,2 mil pessoas, além da libertação de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Esforços redobrados por um cessar-fogo
As autoridades de saúde de Gaza relataram mais de 15 mil mortes desde o início dos ataques israelenses, com milhares de crianças possivelmente ainda enterradas sob os escombros. O conflito também deixou cerca de mil crianças amputadas nas últimas semanas, observou Elder.
Reforçando os apelos de paz, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, expressou profunda preocupação com as declarações dos líderes políticos e militares israelenses “planejando expandir e intensificar a ofensiva militar”.
“O reinício da violência em Gaza é catastrófico”, disse o chefe dos direitos humanos da ONU. Ele apelou que todas as partes e Estados com influência sobre eles “redobrem esforços, imediatamente, para garantir um cessar-fogo, por razões humanitárias e de direitos humanos”.
Turk afirmou que o “pleno respeito e proteção dos direitos humanos dos palestinos e israelenses” continuam a ser extremamente importantes.
Ele disse que os civis devem ser protegidos de acordo com o direito humanitário internacional, apelando a Israel “como potência ocupante para garantir que as necessidades básicas da população de Gaza, como alimentos, água e cuidados médicos, sejam atendidas”.
Falta de leitos hospitalares
A Organização Mundial da Saúde, OMS, alertou que as necessidades médicas continuam sendo muito maiores que a capacidade de atendimento.
A agência sinaliza que 5 mil leitos são necessários, mas apenas 1,5 mil estão disponíveis e apenas 51 das 72 instalações de cuidados de saúde primários estão funcionais.
O representante da OMS para o Território Palestino Ocupado, falando de Gaza, disse que o sistema de saúde foi prejudicado e que não é possível tolerar “perder mais hospitais ou leitos”.
Richard Peeperkorn destacou um estudo publicado na revista médica The Lancet que confirmou as estatísticas de mortalidade comunicadas pelas autoridades de saúde do enclave em outubro.
Segundo ele, até o momento, morreram mais de 6,2 mil crianças, mais de 4 mil mulheres e cerca de 4.850 homens. Além disso 36 mil pessoas ficaram feridas.
Hospital ‘como um filme de terror’
Num pequeno hospital na Cidade de Gaza, que é um dos três centros de trauma que ainda funcionam precariamente no norte do enclave, os funcionários estão sobrecarregados e “os corpos estão alinhados no parque de estacionamento exterior, com o chão inundado de sangue”, disse o alto funcionário de Emergências da OMS, Rob Holden.
Segundo ele, a única maneira de descrever a cena é “como um filme de terror”. O profissional da OMS afirmou que ao entrar no local, “há pacientes no chão com as lesões mais traumáticas” imagináveis.
Halden relata que as pessoas se deparam com cadáveres de pessoas que morreram ao chegar no local ou durante sua permanência na emergência, “alinhados do lado de fora, esperando que os familiares venham e os identifiquem.”
Falando de Gaza, o responsável da OMS explicou que médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e engenheiros “que mantêm as máquinas funcionando” trabalham 22 horas por dia “apenas para prestar o nível de serviço mais básico”.
Fonte: ONU News – Imagem: Unrwa/Ashraf Amra