ONU faz apelo de US$ 2,8 bilhões para assistência em Gaza e na Cisjordânia
Agências da ONU lançaram nesta quarta-feira um apelo de US$ 2,8 bilhões para fornecer assistência urgente a milhões de pessoas em Gaza, mas também na Cisjordânia, onde palestinos foram alvo do aumento da violência dos colonos.
O apelo abrange a assistência a 3,1 milhões de pessoas até ao final do ano. Isso inclui as 2,3 milhões de pessoas na Faixa de Gaza, onde especialistas em insegurança alimentar alertaram que a fome iminente se aproxima no norte.
Falta de produtos alimentares básicos
De acordo com o Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, “mais de metade da população de Gaza enfrenta níveis catastróficos de fome”. Os mercados carecem de produtos alimentares básicos e dependem de fornecedores informais que oferecem porções de ajuda.
A agência da ONU afirma que uma tendência preocupante identificada é o “aumento da revenda de ajuda humanitária nos mercados, especialmente vendedores ambulantes informais, muitos dos quais são crianças”.
Liderando o apelo, o Ocha observou que o pedido de financiamento cobre os requisitos da Agência da ONU de Assistência os Refugiados Palestinos, Unrwa, que continua a ser “a espinha dorsal” da resposta humanitária em Gaza e na Cisjordânia.
Quase um milhão das 1,7 milhão de pessoas deslocadas estão abrigadas nos 450 abrigos públicos e da Unrwa, ou nas proximidades da agência, que conta com mais de 13 mil funcionários em Gaza, com 3,5 mil deles envolvidos na ajuda humanitária. A Unrwa também atende 1,1 milhão de palestinos e outras pessoas na Cisjordânia, dos quais 890 mil são refugiados.
Nesta quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU discutirá a situação no Médio Oriente, com participação do comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini.
Água imprópria e transbordamento de esgotos
Segundo relatos de profissionais da ONU, bombardeios israelenses seguem em curso na Faixa de Gaza, incluindo a Cidade de Gaza, no norte, em Rafah, no sul, e no centro do enclave. Estima-se que mais de uma dúzia de pessoas tenham morrido em um aparente ataque de mísseis a um campo de refugiados na terça-feira.
De acordo com o Ocha, a falta de acesso à água potável continua a ser uma grande preocupação humanitária, com apenas uma das três fontes de abastecimento provenientes de Israel em operação, com apenas 47% da capacidade.
Existem também menos de 20 poços de águas subterrâneas, que só funcionam “quando há combustível disponível”. No momento, não há nenhum sistema de tratamento de águas residuais totalmente funcional.
A agência acrescentou que o transbordamento de esgotos ocorreu “em muitas áreas, aumentando os riscos para a saúde pública em Gaza”.
Uma avaliação recente conduzida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, que analisou 75 locais em Rafah, concluiu que um terço das 750 mil pessoas que habitam esses espaços consomem água de fontes impróprias. Além disso, a disponibilidade média de água é de apenas três litros por pessoa por dia.
Nível de destruição de hospitais é “de partir o coração”
Após a retirada das forças israelenses do sul de Gaza no início deste mês, os profissionais humanitários expressaram preocupações com uma operação militar pelas Forças de Defesa Israelenses na cidade de Rafah.
Nesta quarta-feira, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, destacou como a missão de segunda-feira à Cidade de Gaza foi “severamente atrasada, deixando menos tempo” para avaliar os danos e as necessidades no devastado hospital Al-Shifa e no Hospital Indonésio.
Tedros Ghebreyesus afirmou que “a remoção dos cadáveres em Al-Shifa ainda está em andamento”. Segundo ele, “o departamento de emergência está sendo limpo por profissionais de saúde e os leitos queimados foram removidos”, mas ainda falta uma avaliação de engenharia completa. O chefe da OMS mencionou ainda esforços em curso para reabrir o Hospital Indonésio.
Tedros declarou que “o nível de destruição dos hospitais de Gaza é de “partir o coração” e apelou para que os hospitais sejam protegidos e não “atacados ou militarizados”.
O apelo de US$ 2,8 bilhões representa apenas parte dos US$ 4,1 bilhões que a ONU e os parceiros estimam serem necessários para satisfazer as necessidades dos mais vulneráveis. O valor reflete o que as equipes humanitárias acreditam ser implementável nos próximos nove meses.
Fonte: ONU News – Imagem: © UNOCHA/Themba Linden