OMS identifica vírus da poliomielite em seis locais de Gaza
Além da destruição causada pela guerra e do colapso total da lei e da ordem, os habitantes de Gaza lidam com a ameaça da poliomielite, uma doença altamente infecciosa. O risco está associado à desastrosa situação de saneamento criada pelo conflito, segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS.
Em uma declaração realizada nesta sexta-feira, o porta-voz da agência, Christian Lindmeier, disse que o poliovírus tipo 2 foi identificado em seis locais em amostras de esgoto coletadas em 23 de junho em Khan Younis e Deir al Balah.
Estado de alerta
Até o momento, ninguém foi tratado em Gaza por paralisia ou outros sintomas causados pela infecção pelo vírus da poliomielite.
Como parte dos esforços de resposta, a OMS no Território Palestino Ocupado já está trabalhando com a autoridade de saúde local, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, e parceiros para avaliar até que ponto o poliovírus se espalhou.
Este trabalho determinará as medidas necessárias para impedir qualquer disseminação adicional, “incluindo campanhas de vacinação imediatas”, explicou o porta-voz da OMS.
O poliovírus selvagem foi erradicado há mais de 25 anos de Gaza graças a uma campanha abrangente de vacinação. A cobertura vacinal pré-guerra era de 95% em 2022, de acordo com a OMS.
“Ambiente perfeito” para disseminação de doenças
No entanto, Lindmeier afirmou que a “destruição do sistema de saúde, falta de segurança, obstrução de acesso, deslocamento populacional constante, escassez de suprimentos médicos, má qualidade da água e saneamento enfraquecido” criaram o “ambiente perfeito” para a disseminação de doenças, como a poliomielite.
Atualmente, apenas 16 dos 36 hospitais estão parcialmente funcionais, e 45 das 105 unidades de saúde primárias estão operacionais, de acordo com o oficial da OMS. Ele insistiu que apenas um cessar-fogo permitiria a rápida ampliação das atividades de imunização “para abordar as lacunas criadas pela guerra”.
Segundo a OMS, o vírus da pólio pode surgir em áreas onde a baixa cobertura de vacinação permite que a forma enfraquecida da cepa do vírus da vacina administrada oralmente sofra mutação para uma versão mais forte, capaz de causar paralisia. Não se trata de um vírus selvagem, mas ainda assim causa consequências graves.
“A anarquia está se espalhando”
Também nesta sexta-feira, o escritório de direitos humanos da ONU para o Território Palestino Ocupado descreveu evidências de que o povo de Gaza continua a sofrer “imensamente”, com alguns “segurando bandeiras brancas” enquanto se deslocam em busca de abrigo.
O chefe do escritório, Ajith Sunghay, afirmou que “as pessoas estão se movendo do norte para o sul, novamente, embora estejam fazendo a jornada sabendo que ela é repleta de perigos”.
Ele citou cenas que presenciou em Gaza como “uma motocicleta e um trailer carregados com pertences pessoais queimando na estrada” e uma “carroça de burro ensanguentada também carregada com pertences pessoais”. De acordo com Sunghay, ambos os meios de transporte claramente haviam sido atacados.
O especialista de direitos humanos afirmou que foram documentados “supostos assassinatos ilegais de policiais locais e trabalhadores humanitários, e o estrangulamento de suprimentos indispensáveis à sobrevivência da população civil”.
Sunghay ressaltou que “a anarquia está se espalhando” em Gaza.
Fonte: ONU News – Imagem: UNRWA