OMS distribui 100 milhões de vacinas chinesas, mas Brasil fica de fora
O Brasil ficou de fora da primeira distribuição de vacinas chinesas por parte da OMS (Organização Mundial da Saúde). Documentos da entidade que detalham o volume de doses recebida por cada país indicam que cerca de 60 governos foram beneficiados no período entre julho e setembro. Mas o Brasil não foi incluído.
Essa é a primeira vez que a Covax Facility – o mecanismo criado pela OMS – realizou a distribuição de doses da Sinovac e Sinopharm, duas empresas chinesas que passaram a ter a chancela da agência internacional.
10 milhões de doses irão para a Indonésia, além de outras 2 milhões para Colômbia ou 3,1 milhões para a Argélia.
Na América Latina, doze países serão beneficiados pela primeira leva das vacinas chinesas, entre eles a Argentina, Chile, Uruguai ou Venezuela.
Diplomatas brasileiros e fontes do Ministério da Saúde confirmaram à reportagem que o governo de Jair Bolsonaro optou por ficar com 3,9 milhões de doses das vacinas chinesas. Mas o país ficou de fora da primeira distribuição.
Questionada sobre a ausência brasileira, a Covax manteve o mistério e repetiu a falta de transparência que tem marcado sua gestão. “A alocação de vacinas da Sinovac e Sinopharm faz parte de nossa 6ª rodada de alocações”, disse a entidade. Quatro motivos podem levar um país a não fazer parte dessa primeira distribuição de vacinas chinesas:
Países que optem por saltar essa rodada de alocações em particular
Países que optem por não receber as vacinas Sinopharm e Sinovac
Países que pedirem mais esclarecimentos para a distribuição
Países que já tenham atingido níveis mais altos de cobertura total da população do que outros participantes através de distribuições anteriores.
Perguntada em qual dessas opções o Brasil se encaixava, a Covax uma vez mais se recusou a informar.
“Como o Brasil é um participante autofinanciado da Covax, perguntas sobre sua participação nas rodadas de distribuição devem ser direcionadas para o governo do Brasil”, disse.
Mistério também no Brasil
O Ministério da Saúde também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu. Fontes da pasta afirmaram que as decisões relacionadas à Covax acontecem no âmbito da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).
A assessoria de imprensa da OPAS, porém, também afirmou que não poderia apresentar justificativas pois não tinha conhecimento sobre qual “documento da OMS” ou a quais “vacinas chinesas” faziam parte da decisão da OMS.
O órgão enviou uma explicação sobre o funcionamento do envio de vacinas via mecanismo COVAX e afirmou que como o Brasil é um dos países autofinanciados do consórcio, as vacinas são adquiridas com recursos do Ministério da Saúde brasileiro.
“A alocação de vacinas contra COVID-19 do COVAX para seus participantes é orientada pelos princípios estabelecidos na Estrutura de Alocação Justa da OMS, acordada com os Estados Membros da OMS em setembro de 2020”, disse a OPAS.
Segundo o órgão, a partir do momento em que é informada sobre a disponibilidade de doses de vacinas do COVAX para os países das Américas, a OPAS consulta o país sobre o interesse nas vacinas disponíveis. Em caso positivo, é dado início ao processo de entrega – incluindo logística e documentação – junto ao país.
“Assim que houver data confirmada para a chegada via Fundo Rotatório da OPAS de vacinas do COVAX ao Brasil, seja da Sinovac/Coronavac ou outro fabricante, será anunciado para a imprensa como tem sido feito desde o primeiro envio ao país”, afirmou.
Fonte: UOL