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Olimpíada de Tóquio – Brasil ainda tem chances de mais medalhas de ouro; confira a programação

Depois de ganhar três ouros neste sábado (7) com boxe, canoagem e futebol, o Brasil ainda tem chance de medalhas de outro com a final do vôlei feminino e a final do boxe com Beatriz Ferreira.

19h MARATONA Prova masculina (Daniel Chaves, Paulo Roberto de Almeida Paula e Daniel Nascimento) SporTV 3/BandSports (ao vivo)
FIQUE DE OLHO: Com a presença do recordista mundial, o quase imbatível queniano Eliud Kipchoge, os três brasileiros buscam surpreender para ir ao pódio em uma das provas mais tradicionais das Olimpíadas

​21h VÔLEI FEM. Disputa do 3º lugar (Sérvia x Coreia do Sul) SporTV 2 (ao vivo)

21h45 CICLISMO Final pista SporTV 3 (ao vivo)

23h GINÁSTICA RÍTMICA Final geral por equipes SporTV 2 (ao vivo)

23h HANDEBOL FEM. Disputa do 3º lugar SporTV 4 (ao vivo)

Domingo (8)

1h40 POLO AQUÁTICO MASC. Disputa do 3º lugar (Hungria x Espanha) SporTV 3 (ao vivo)

1h30 VÔLEI FEM. Final (Brasil x EUA) Globo/SporTV/BandSports (ao vivo)

2h BOXE Finais (Kellie Anne Harrington-IRL x Beatriz Ferreira-BRA) SporTV 2 (ao vivo)
FIQUE DE OLHO: Atual campeã mundial, a baiana Bia Ferreira vai em busca do ouro olímpico para coroar sua carreira.

Beatriz Ferreira comemora a vitória na semifinal do boxe, em Tóquio; ela encara uma irlandesa pela medalha de ouro
Beatriz Ferreira comemora a vitória na semifinal do boxe, em Tóquio; ela encara uma irlandesa pela medalha de ouro – Ueslei Marcelino – 5.ago.21/AFP

3h HANDEBOL FEM. Final (Comitê Olímpico Russo x França) SporTV 4 (ao vivo)

8h CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO Globo/SporTV/BandSports (ao vivo)

Ouro na grama

No estádio do pentacampeonato mundial, o Brasil se sagrou bicampeão olímpico. A seleção brasileira derrotou a Espanha por 2 a 1 na manhã deste sábado (7) e conquistou a medalha de ouro dos Jogos de Tóquio.

A partida foi disputada no Estádio Internacional de Yokohama, onde Ronaldo fez dois gols contra a Alemanha em 2002 para dar ao Brasil seu quinto título de Copa do Mundo.

Os gols da final olímpica foram marcados por Matheus Cunha, para o Brasil, e Oyarzabal, para a Espanha, no tempo normal. Malcom, na prorrogação, garantiu a conquista brasileira.

A vitória representa a sétima medalha de ouro obtida pelo país nas Olimpíadas de Tóquio, a terceira no mesmo dia olímpico. Antes, Isaquias Queiroz venceu na canoagem e Hebert Conceição fez o mesmo no boxe.

O resultado da seleção representa uma hegemonia no futebol masculino olímpico. Na Rio-2016, a equipe também havia sido ouro ao passar pela Alemanha na final. Era o fim de um trauma porque, até então, o Brasil havia colecionado eliminações traumáticas e três derrotas no jogo de definição do ouro.

Dentro de sua escola de futebol das últimas décadas, a Espanha tentou ter mais a posse de bola do que o adversário. Depois de 15 minutos, tinha 62%. Mas não sabia muito bem o que fazer com ela.

Malcom bate na saída do goleiro Unai Simón para anotar o gol da vitória do Brasil
Malcom bate na saída do goleiro Unai Simón para anotar o gol da vitória do Brasil – Stoyan Nenov/Reuters

A única chance criada pela seleção europeia foi em jogada que Oyarzabal desviou de cabeça e, após dividida, Diego Carlos salvou em cima da linha.

Aos poucos, a equipe de André Jardine, que se irritou com o árbitro Chris Beath, da Austrália, por acreditar que ele deixava os espanhóis “apitarem o jogo”, tomou conta da decisão.

Os lançamentos longos para explorar a velocidade de Richarlison não deram certo, então o Brasil começou a trocar passes com maior velocidade e rondou a área do rival. Teve problemas para criar grandes oportunidades, pelo menos até os acréscimos do primeiro tempo, mas também não foi mais ameaçado.

Artilheiro das Olimpíadas, Richarlison fez cinco gols na fase de grupos. A fonte parece ter secado no mata-mata. Beath tentou ajudar ao marcar, com o auxílio do VAR, um duvidoso pênalti cometido pelo goleiro Unai Simón. O atacante do Everton (ING) cobrou e mandou por cima.

Criticado em alguns momentos por perder oportunidades demais durante a competição, Matheus Cunha foi quem tirou Richarlison do sufoco. Uma inversão de papéis em relação ao que aconteceu na fase inicial. O jogador do Hertha Berlim abriu o placar aos 47, em lance que os zagueiros da Espanha apenas o observaram dominar na área e finalizar para o gol.

Com contratura na coxa, Cunha não atuou na semifinal diante do México, na última terça-feira (3), e voltou a ficar à disposição para a final.

Tratou-se em três períodos todos os dias desde então para poder atuar na partida que valeria a medalha de ouro.

O técnico Luis de la Fuente Castillo fez duas substituições no intervalo que fizeram a Espanha equilibrar o confronto. As entradas dos meias Soler e Bryan Gil deram mais força ofensiva à equipe, que empurrou o Brasil para trás. O empate chegou aos 14, quando Soler cruzou para Oyarzabal completar de primeira.

Quando isso aconteceu, a partida poderia já estar definida. Richarlison teve grande chance para fazer o 2 a 0, mas a bola, após desviar no goleiro Simon, bateu no travessão.

Foi o erro que mudou o segundo tempo porque, a partir dali, a Espanha não apenas empatou, como acertou duas bolas no travessão com Bryan Gil.

Ao final dos 90 minutos regulamentares, não era difícil apostar que o Brasil teria superioridade física contra o rival. Havia jogado prorrogação apenas na semi, diante do México. A Espanha também havia passado para a decisão precisando de 120 minutos, mas contra o Japão. Havia feito o mesmo nas quartas de final, contra a Costa do Marfim.

O desgaste espanhol e a entrada de Malcolm no lugar de Matheus Cunha deu aos sul-americanos uma velocidade que havia sido perdida durante o tempo regulamentar. E o gol que confirmou a conquista.

Antes mesmo da decisão, os jogadores da seleção brasileira exigiram que os 22 convocados para as Olimpíadas fossem ao pódio para receber as medalhas. A ideia do COI (Comitê Olímpico Internacional) era que apenas os 18 relacionados para a partida participassem da cerimônia de premiação.

Os atletas brasileiros bateram o pé e informaram que só participariam se todos pudessem ser contemplados. O COI, por fim, aceitou a exigência da seleção brasileira, o que permitiu que o pódio do futebol feminino também contasse com todas as 22 atletas convocadas das seleções que conquistaram medalha.

Nocaute de Ouro

“Deixa eu ver, deixa eu ver… Ooooooh, shit.”

Era a primeira vez que Hebert Conceição, 23, via pela TV o momento que lhe deu a medalha de ouro para o Brasil no boxe. O “shit” (merda em inglês) foi dito em tom de admiração e divertimento no momento em que assistia ao seu cruzado de esquerda explodir no queixo do ucraniano Oleksandr Khyzhniak, 26, invicto desde 2016.

O segundo medalhista de ouro da história do boxe olímpico do país continuou a caminhar em seguida, sem acreditar.

Era difícil mesmo. Foi a primeira vez na carreira que o brasileiro nocauteou um adversário em uma luta internacional. A situação dele era difícil até então. Conceição perdeu os dois primeiros rounds, na visão dos juízes.

O baiano entrou para o terceiro e último assalto com uma única opção para vencer: nocautear o oponente, acertar um soco que o levaria ao lugar mais alto do pódio. Era lona ou nada.

Faltando menos da metade dos três minutos para a final olímpica, Hebert Conceição tentou primeiro com a mão direita, de cima para baixo; o ucraniano revidou e abriu o espaço para o soco decisivo entrar. Um ataque que Conceição afirma treinar sempre quando vai para o confronto aberto. Golpe ideal para momentos como aquele, de desespero.

“Apesar da pontuação adversa, eu sabia que em três minutos dá para mudar tudo com um nocaute. Se vocês observarem, no início do round, fui para a trocação franca. Pensei: ‘se eu tomar um nocaute aqui, não interessa, já estou perdido mesmo’. Sabia que na trocação era loteria”, resumiu.

Se era loteria, Conceição acertou no milhar. Khyzhniak caiu. Dezoito segundos depois, o brasileiro também estava no chão, mas para chorar de alegria. Era ouro.

Não apenas o segundo do Brasil no boxe em Olimpíadas, mas o segundo da Bahia. Na Rio-2016, Robson Conceição [que não é seu parente], também foi campeão.

“Ainda mais eu que não sou um atleta nocauteador. Eu sou um estilista do boxe. Eu sabia que seria possível, mas não imaginava que aconteceria na final olímpica. Sou um cara mais estiloso”, disse o lutador da categoria até 75 kg.

Hebert Conceição posa com a medalha de ouro conquistada na categoria até 75 kg no boxe
Hebert Conceição posa com a medalha de ouro conquistada na categoria até 75 kg no boxe – Ueslei Marcelino/Reuters

O “merda” em inglês foi o palavrão mais leve dito pelo pugilista ao longo da competição.

Sua comemoração nas quartas de final levou o COI (Comitê Olímpico Internacional) a dar uma bronca na equipe. “Eu sou medalhista olímpico, caralho! Eu mereço pra caralho! Nós trabalhamos pra caralho, porra!”, disse logo após a luta que já lhe garantia ao menos o bronze.

A comissão técnica, então, escolheu outra palavra para substituir os palavrões. Decidiu usar “rocambole”, por uma piada interna sem grande significado. Quando ganhou a semifinal, Bia Ferreira gritou: “É Brasil, rocambole!”.

Hebert Conceição até tentou fazer sua parte também, mas não deu exatamente certo.

“É Brasil! É Brasil!”, gritava para a câmera de TV. “Rocambole pra não gritar caralho”, soltou sem pudor nem esforço para demonstrar que havia entendido o puxão de orelha.

Ele diz nem se lembrar de ter feito isso.

“Eu fiquei anestesiado com o momento. Quer dizer, eu acho que não xinguei, né? Extravasei tanto… Se eu xinguei, me perdoa. No final eu queria soltar aquele palavrão de desabafo. Falei ‘rocambole’ para representar o descarrego”, afirmou.

Nascido em Salvador, o campeão olímpico começou a lutar aos 15 anos na capital baiana. Ele é cria de um dos maiores nomes da modalidade, o ex-campeão mundial Luiz Dórea, fundador da Academia Champions, para quem “a Bahia é o coração do boxe no Brasil”.

Conceição é definido pelos treinadores como uma pessoa inteligente, determinada, humilde, competitiva e emotiva. E divertida. Após as vitórias, ele foi visto a dançar e cantar. Antes de entrar no ringue para receber a sonhada medalha de ouro, sua voz ecoava pela Kokugikan Arena, um templo do sumô, com imagens de lutadores históricos espalhadas pelos corredores até a estação de metrô que dá acesso ao local.

Hebert Conceição comemora após vencer o ucraniano Oleksandr Khyzhniak por nocaute
Hebert Conceição comemora após vencer o ucraniano Oleksandr Khyzhniak por nocaute – Ou Dongqu/Xinhua

Nas entrevistas, o pugilista, sempre leve, arranca risadas pela espontaneidade. Em entrevista à TV Globo, neste sábado (7), por exemplo, pediu desculpas por tomar tempo para fazer alguns segundos de agradecimento, porque sabe que os minutos da emissora são “caros”.

Fã de Olodum, entrou no ringue como fez durante toda a competição, ao som de “Madiba”, música do grupo baiano que faz referência a Nelson Mandela, um “nobre guerreiro, negro de alma leve, nobre guerreiro, negro lutador”.

Uma letra de resistência ao preconceito racial que ainda existe no Brasil. “Sempre entro para lutar com esse grande hino porque no século 21 a gente ainda convive com casos de racismo”, protestou o brasileiro.

Militar da Marinha, Hebert Conceição bateu continência no lugar mais alto do pódio, enquanto ouvia o hino brasileiro.

Ele lamentou a atual situação do país, assolado pela pandemia, e dedicou a vitória ao Brasil.

“A nossa nação está passando por um momento difícil, e fico muito feliz em premiar ela com uma medalha de ouro. Em um momento tão caótico, qualquer sorriso é válido. Fico feliz de passar um momento de felicidade no meio de tanta tristeza.”

O que Conceição fez foi tão incrível que até integrantes da delegação de boxe, os mesmos responsáveis por pedirem a ele para evitar palavrões, não resistiram.

“O Hebert é foda.”

Ouro na água

De Jesús Morlán a Pinda, ouro de Isaquias coroa trabalho na canoagem - It News MS

Izaquias Queiroz, medalha de ouro na canoagem

Ao ver Isaquias Queiroz ultrapassar a metade do percurso de 1.000 metros da prova C1 da canoagem velocidade, neste sábado (7), o técnico Lauro de Souza Júnior já sabia que a medalha de ouro viria.

O ritmo confortável que o atleta imprimia na canoa era o que dava a certeza ao treinador, conhecido como Pinda, 36, de que ninguém tiraria o primeiro lugar do brasileiro.

Isaquias não costuma participar de tantas competições, mas o treinamento intenso e regrado na base de Lagoa Santa (região metropolitana de Belo Horizonte) permite que ele e sua equipe saibam o que precisam fazer para obter o melhor desempenho no momento certo: campeonatos mundiais e Olimpíadas.

Pinda tem uma longa trajetória na canoagem brasileira. Em 2013, quando Jesús Morlán foi contratado pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) para alavancar os treinamentos dos atletas da elite visando principalmente à Rio-2016, ele se tornou seu auxiliar e decidiu “resetar a cabeça” para absorver os conhecimentos do espanhol.

Antes de chegar ao Brasil, Morlán havia sido treinador de David Cal, canoísta espanhol que ganhou cinco medalhas olímpicas de 2004 a 2012.

Nos Jogos do Rio, o Brasil conquistou suas três primeiras medalhas na canoagem (duas pratas e um bronze), todas com a participação de Isaquias. A revolução no esporte era real, mas parecia ameaçada dois anos depois, quando Jesús não resistiu a um câncer no cérebro.

Coube a Pinda, que além de ser auxiliar técnico morou junto com o espanhol, não deixar o ritmo diminuir. Ele assumiu o comando dos trabalhos numa situação delicada, na época, a menos de dois anos das Olimpíadas de Tóquio, que depois seriam adiadas pela pandemia.

“No dia em que ele faleceu, a gente [equipe técnica] se reuniu e prometeu que seguiria remando para buscar o ouro que faltou no Rio”, afirmou o treinador. Na sua camiseta estava escrito à caneta: “Suso Morlán, o ouro é seu”.

Lauro de Souza Júnior, o Pinda, com camiseta em que está escrito "Suso Morlan, o ouro é seu"
Lauro de Souza Júnior, o Pinda, técnico da seleção brasileira de canoagem, homenageia Morlán – Rafael Bello/COB

“O meu maior medo era frustrar o Jesús. Ele me ensinou tudo na parte profissional, foi um pai para mim, e eu tinha essa responsabilidade de mostrar que ele me escolheu corretamente.”

Observador, Pinda aprendeu tudo o que pôde observando os treinamentos e depois deu continuidade à execução da metodologia aplicada por Jesús. “Acabei ficando com o olho muito treinado, e acho que o grande diferencial foi a parte técnica, que a gente conseguiu evoluir muito do que já era bom.”

O desempenho de Isaquias na prova deste sábado em Tóquio mostrou que de fato seu nível estava bem acima do apresentado pelos rivais.

“Fazia tempo que a gente não via uma prova tão dominante assim. É fruto do trabalho e do talento do Isaquias. A gente se dedicou muito, abriu mão de muita coisa, para isso. Eu falei há dois meses: ‘Cara, o ouro é seu. Você precisa fazer o que faz nos treinos’”, contou Pinda.

A medalha de ouro foi vista pelo COB como a coroação de uma de suas principais apostas feitas antes da Rio-2016, com o objetivo de perdurar por pelo menos três ciclos olímpicos (até 2024). Os investimentos na contratação de Jesús e na montagem do centro de treinamento de Lagoa Santa se materializaram em quatro medalhas olímpicas até agora.

A conquista de Isaquias neste sábado também teve forte carga emocional. Diretor de esportes do comitê, Jorge Bichara é muito ligado ao trabalho da canoagem e desabou no choro em Tóquio, lembrando que a medalha significava o cumprimento de um pacto firmado por todos após a morte de Jesús.

Passada a vibração com a conquista, será fundamental pensar no futuro do desenvolvimento do esporte no país, para que o momento não se perca. O resultado de Isaquias ajuda a manter a modalidade em evidência, mas não é garantia financeira, como já mostrou o último ciclo.

Mesmo após o resultado histórico na Rio-2016, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) cortou o investimento no ano seguinte, e a confederação perdeu sua principal fonte de financiamento.

“Meu sonho é tornar o Brasil uma potência na canoagem, que nós ainda não somos. Potência é quando sai um campeão e vem outro. A gente precisa ter criança remando, centros de treinamento permanentes para a base, clubes fortes”, projeta Pinda.

“Após o Rio, outros centros foram inaugurados, e a gente sabe que leva um tempo para vir o fruto desse investimento. Eu não tenho dúvidas de que a gente vai conseguir colher esses frutos, mas precisa agora dar um segundo passo, que é formar treinadores para conseguir uma metodologia de trabalho.”

Jogo do Poder

Fonte: Folha

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