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O vaivém da Coronavac: Mourão garante vacina; Bolsonaro desautoriza

A recusa do presidente Jair Bolsonaro em comprar doses da CoronaVac — imunizante contra a covid-19 em desenvolvimento pelo Instituto Butantan e pela empresa chinesa Sinovac — fez surgir outra saia justa no governo. Na contramão da resistência do chefe do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão disse, ontem, que o Executivo vai, sim, ajudar na aquisição da vacina, a despeito do mau relacionamento entre Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O presidente, porém, não gostou, e rebateu o vice.

Mourão afirmou que o governo não só vai contribuir com a CoronaVac como já enviou recursos ao Butantan para a fabricação de mais doses. “Essa questão da vacina é briga política com o Doria. O governo vai comprar a vacina, lógico que vai. Já colocamos os recursos no Butantan para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí”, destacou o general, em entrevista publicada pela revista Veja.

Com a repercussão da fala de Mourão, Bolsonaro deixou claro que a palavra final sobre o assunto cabe a ele. “A caneta Bic é minha”, alertou o presidente, ao portal R7, em uma resposta ao vice. A postura do presidente é semelhante à adotada há uma semana, quando desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por ter assinado um acordo de intenção de compra, por parte da União, de 46 milhões de doses do imunizante. O chefe do Executivo mandou cancelar o documento.

O mais novo episódio de fogo cruzado dentro do próprio Palácio do Planalto demonstra que Bolsonaro não dará espaço para seu maior rival político “faturar” com um eventual sucesso da CoronaVac. Afinal, Doria tem sido o principal investidor da vacina chinesa e liderado o processo de testagem do imunizante no país.

Além do recado a Mourão, Bolsonaro voltou a alfinetar, ontem, o governador paulista, outra vez por conta da vacina. “Está acabando a pandemia (no Brasil). Acho que (Doria) quer vacinar o pessoal na marra, rapidinho, porque (a crise sanitária) vai acabar, e daí ele fala: ‘Acabou por causa da minha vacina’. Quem está acabando é o governo dele, com toda certeza”, disse a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada.

Em análise

Apesar do alvoroço que Bolsonaro tem causado, desde a última semana, contra a CoronaVac, seja utilizando redes sociais, seja dando declarações a eleitores, seja discursando nos compromissos oficiais, a ordem dele para revogação do acordo entre o Ministério da Saúde e o Butantan só foi da boca para fora. Por enquanto, o protocolo do instituto, que pediu a ajuda da pasta para a compra das doses da vacina, segue tramitando na pasta.

Desde o dia 21, quando Bolsonaro desautorizou o termo de intenção de compra, o pedido do Butantan já passou por sete setores da Saúde, como o Núcleo Jurídico da Secretaria de Vigilância em Saúde e o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública da Covid-19. Além disso, foi concedido acesso ao requerimento à Secretaria de Controle Externo da Saúde do Tribunal de Contas da União (TCU), segundo o Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do ministério.

Caso o ofício expedido por Pazuello ainda esteja valendo, o governo só vai prosseguir com o processo de aquisição do imunizante após o registro da vacina na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo o texto assinado pelo ministro da Saúde, a estimativa é de que o governo invista US$ 659,2 milhões para adquirir os 64 milhões de doses iniciais demandadas pelo Butantan. O valor equivale a cerca de R$ 3,8 bilhões.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber se a pasta já apresentou algum ato oficial de revogação do documento, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta.

Expectativa

Por meio de nota, o Butantan confirmou que, até o momento, “não recebeu nenhuma comunicação formal, por parte do Ministério da Saúde, sobre o protocolo de intenções assinado durante reunião com governadores de 24 estados brasileiros, realizada em 20 de outubro”.

“O Instituto Butantan permanece na expectativa de o Ministério da Saúde adquirir as doses da vacina CoronaVac, desenvolvida em parceria com a farmacêutica Sinovac Life Science e que está na fase III de estudos clínicos em diversas regiões do Brasil. Importante ressaltar que a CoronaVac se demonstra a vacina mais segura em comparação a outras vacinas em teste para Covid-19 e apresenta menor percentual de efeitos colaterais nos resultados obtidos até o momento”, destacou o instituto.

O laboratório ainda informou que “o compromisso do Governo do Estado de São Paulo é disponibilizar aos brasileiros uma vacina comprovadamente segura, após a conclusão de todos os estudos clínicos e as devidas aprovações nos órgãos regulatórios, como a Anvisa”. “Assim, espera que o Ministério da Saúde honre o compromisso assumido publicamente, adquira o imunizante e garanta uma vacinação gratuita, segura e eficaz para proteger a população”, finalizou.

Líder do governo critica Doria

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) voltou a criticar, ontem, o governador de São Paulo, João Doria, ao falar sobre a vacina contra o novo coronavírus. Questionado pelo Correio sobre a declaração do vice-presidente Hamilton Mourão, que garantiu que o Brasil vai comprar a CoronaVac, ele disparou contra Doria. “O Instituto Butantan tem 120 anos, ele não é do Doria. (O instituto) É o maior fornecedor de vacinas do SUS”, frisou. “Ele (Doria) tem o segundo maior orçamento da União à disposição dele. Ele compra a vacina e distribui. O Brasil vai ficar feliz se ele puder patrocinar para todos nós uma vacina.” O deputado afirmou que Doria “não vai impor ao governo comprar vacina dele”. “Tem 200 vacinas sendo desenvolvidas no Brasil, e 10 em fase 3, algumas mais adiantadas do que a do Butantan.” (JB)

Redação

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