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O temor de escalada de violência entre Israel e palestinos após ataque a campo de refugiados

Por Tom Bateman

Foi o ataque israelense com maior número de mortos ao campo de refugiados de Jenin em quase duas décadas. Nove palestinos foram mortos nesta quinta-feira (26/1), quando tropas cercaram edifícios em meio a uma tempestade de tiros, granadas e gás lacrimogêneo no lotado acampamento urbano.

Autoridades palestinas dizem que dois dos mortos eram civis, incluindo uma mulher de 61 anos.

O exército israelense diz que suas tropas estavam no acampamento para prender militantes da Jihad Islâmica que estariam planejando “grandes ataques”.

Existe um fundo histórico nessa ação no acampamento. Eu estive em Jenin várias vezes no ano passado, à medida que os ataques militares de Israel aumentavam, provocando tiroteios cada vez mais violentos com uma nova geração de palestinos armados.

Todos com quem eu falei no acampamento comparam suas experiências com abril de 2002, que foi o auge da segunda intifada ou levante palestino.

Naquela época, Israel lançou uma incursão em grande escala — conhecida como Batalha de Jenin — na qual pelo menos 52 militantes e civis palestinos e 23 soldados israelenses foram mortos. Depois veio uma campanha de atentados suicidas palestinos em Israel, muitos deles envolvendo pessoas da cidade.

Grande parte do campo de Jenin foi destruída em 2002. A escala da destruição e as histórias dos palestinos tentando conter forças israelenses fazem parte da memória coletiva da população. Esse é o contexto histórico da mais recente onda de violência.

Na primavera passada, Israel lançou a operação “Quebre a Onda”, em meio a uma onda de ataques palestinos com armas e facas contra israelenses — a mais mortal em anos.

Alguns ataques foram realizados por cidadãos palestinos de Israel que apoiam o chamado grupo Estado Islâmico. Mas vários eram atiradores palestinos de Jenin, incluindo Ra’ad Hazem, que matou a tiros três israelenses em um bar em Tel Aviv e em seguida foi morto pelas forças de segurança.

Isso colocou Jenin de volta ao foco. Os ataques israelenses de busca, prisão e demolição de casas na cidade e nas proximidades de Nablus tornaram-se quase que diárias.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que estavam tentando evitar novos ataques e que dispararam contra atiradores palestinos que visavam suas tropas.

Mas o número de mortos na Cisjordânia foi muito maior do que apenas isso. Militantes armados formavam grande parte dos mais de 150 palestinos mortos na Cisjordânia ocupada no ano passado, mas muitos dos mortos a tiros não portavam armas. Alguns estavam em grupos atirando pedras ou coquetéis molotov contra os jipes, ou eram apenas transeuntes.

Algumas mortes ocorreram durante protestos ou confrontos contra a expansão para suas cidades e aldeias por colonos israelenses que estabeleceram postos considerados ilegais.

Israel foi repetidamente acusado pelas Nações Unidas e grupos de direitos humanos de uso excessivo da força, uma alegação que o país sempre negou.

Mas outros fatores fazem muitos temerem um novo colapso da segurança na Cisjordânia.

A Autoridade Palestina (AP), que tem poderes de governança limitados nas cidades palestinas, parece estar perdendo o controle de Jenin e Nablus.

A AP é importante — um legado do processo de paz de Oslo na década de 1990 — mas atualmente sua liderança envelhecida está totalmente fora de contato com o sentimento das pessoas nas ruas palestinas e é vista por muitos como pouco mais do que uma empresa de segurança que ajuda Israel na ocupação.

A Autoridade Palestina é presidida pelo partido Fatah, de Mahmoud Abbas — rivais ferrenhos dos militantes islâmicos palestinos Hamas.

A AP “coordena” a segurança com Israel — o que significa que ela compartilha informações sobre alguns militantes e suas forças de segurança se afastam quando Israel realiza operações.

O presidente Abbas agora diz que a coordenação de segurança “acabará” devido ao ataque de Jenin — embora essa ameaça já tenha sido feita antes.

No final de 2021, as forças de segurança da Autoridade Palestina não eram bem-vindas no campo de refugiados de Jenin e na Cidade Velha de Nablus. A AP estava perdendo o controle. Este foi um longo processo, mas foi acelerado por vários momentos naquele ano.

Um deles foi o resultado da guerra de maio entre Israel e o Hamas em Gaza — que aumentou o descontentamento com a Autoridade Palestina.

Outra foi a admiração popular por seis prisioneiros que fugiram de uma prisão israelense — antes de serem pegos quinze dias depois. Todos os prisioneiros militantes eram de Jenin. Alguns ficaram famosos na incursão de 2002.

Uma nova geração de militantes em Jenin e Nablus rejeita a AP, mas militantes do Hamas e da Jihad Islâmica estão presos. Esses militantes se armaram com algum tipo de ligação com os grupos estabelecidos, mas aparentemente não respondiam às suas hierarquias.

Eles se autodenominaram Batalhão Jenin e, em Nablus, Cova do Leão, inclusive com canais no TikTok e no Telegram.

Eles conseguiram armas de fabricação americana contrabandeadas da Jordânia ou roubadas e vendidas de bases IDF. Muitos eram jovens demais para se lembrar da destruição de 2002, mas tinham idade suficiente para se inspirar nas histórias que ouviram.

Como disse um jornalista israelense integrado às forças especiais da IDF em Jenin: “Isto é diferente. São pessoas que estão dispostas a lutar e a morrer.”

Dos residentes no campo de refugiados de Jenin, eu ouvi relatos sobre a realidade deprimente no local: durante o dia, perspectivas de trabalho cada vez menores, restrições de uma ocupação militar e nenhuma fé em um futuro político; e, à noite, a perspectiva de mais ataques militares israelenses.

O exército israelense diz que conseguiu impedir ataques a civis e militares. O presidente do país disse que um “esquadrão terrorista” da Jihad Islâmica estava planejando realizar um ataque em Israel. Mas muitos temem uma onda de violência ainda maior.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, viaja para Israel na segunda-feira (30/1), com o país enfrentando protestos em massa contra o governo mais nacionalista de sua história. Blinken diz que quer “preservar” a solução de dois Estados, a antiga fórmula internacional para a paz. A realidade local e a posição política da nova coalizão israelense sugerem que ele terá muito trabalho pela frente.

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