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O que diz a imprensa europeia antes das eleições no Brasil

(Deutsche Welle)

Süddeutsche Zeitung (Alemanha) – Opinião: Uma eleição decisiva

No domingo, a maior democracia da América do Sul irá escolher um novo presidente. O resultado das eleições terá consequências para o mundo todo.

[…]Uma eleição do século, isso é claro, mas também é muito longe, e por isso muitos na Alemanha poderiam pensar: e então? Não tenho nada a ver com isso. Mas isso seria um erro.

Apesar da distância, muito une a Alemanha e o Brasil. Primeiro, histórica e culturalmente: o Brasil é um país de imigração. Os antepassados de muitos vêm também da Saxônia ou Hamburgo, do Lago Constança ou da Baviera. Muitos brasileiros têm orgulho desta herança e, depois do Carnaval do Rio de Janeiro, a Oktoberfest de Blumenau, no sul do Brasil, é considerada a maior festa popular do país.

Há mais de 100 anos existem relações econômicas. Quase mil empresas alemãs possuem sua sede somente na metrópole São Paulo, muitas com fábricas próprias, que produzem para toda a região. Muitos empresários comemoraram a chegada de Bolsonaro ao poder há quatro anos. Hoje é claro que suas promessas econômicas nunca se tornaram realidade.

[…] E, claro, ainda há a Floresta Amazônica. Sob Bolsonaro, o desmatamento aumentou como há décadas não ocorria. Agências de proteção tiveram seus orçamentos cortados e funcionários engajados foram dispensados sem rodeios. Grileiros e garimpeiros sabem que hoje têm pouco a temer quando incendiam a floresta para o gado e destroem o solo em busca de tesouros.

[…] Quando a maior democracia da América do Sul elege um novo presidente no domingo, pode se comemorar ou balançar a cabeça, dependendo do resultado. Somente uma coisa não deve ser feita: dar de ombros. O Brasil é muito importante para isso, independentemente do quão longe o país é da Alemanha.

Le Monde (França) – No Brasil, o fracasso da terceira via contra Lula e Bolsonaro

Esta é a história de um fracasso: o da terceira via. Ou do surgimento de uma candidatura contrária aos dois favoritos nas eleições presidenciais brasileiras do domingo, 2 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, representantes da esquerda e da extrema direita, respectivamente. Há muito prevista por parte da elite e da imprensa, a terceira via não conseguiu avançar nas pesquisas.

No papel, a oferta política é, no entanto, pletórica. Além de Lula e Bolsonaro, outras nove personalidades disputam a votação suprema. Entre eles, a trotskista Vera Lúcia Salgado, o multimilionário ultraliberal Luiz Felipe d’Avila, a populista Soraya Thronicke, ou ainda o eterno candidato da democracia cristã, José Maria Eymael, presente em todas as eleições presidenciais brasileiras desde 1998.

Os candidatos mais sérios continuam sendo Ciro Gomes e Simone Tebet. O primeiro, de 64 anos, líder do Partido Democrático Trabalhista (PDT, centro-esquerda), é um cacique da política local, foi prefeito, deputado, governador do estado do Ceará, ministro da Fazenda, e já se candidatou três vezes à Presidência. Em 2018, ficou em terceiro lugar na votação, com 12,47% dos votos.

A segunda, uma advogada de 52 anos, é do interior do Mato Grosso do Sul, estado pelo qual é senadora. Influente parlamentar, ex-presidente da Comissão de Justiça da Câmara, Simone Tebet se apresenta sob as cores do Movimento Democrático Brasileiro, formação de centro-direita e símbolo do establishment brasileiro.

Mas o melhor colocado, Ciro Gomes, recebeu apenas 6% na última pesquisa do Ipec, contra 5% de Simone Tebet e de 0% a 1% para os demais. “Nenhum candidato conseguiu emergir. Isso é normal: eles estão espremidos entre dois ‘gigantes’ muito conhecidos e muito populares. A terceira via só é desejada por parte da elite abastada do Rio e de São Paulo”, analisa o cientista político Thomas Traumann.

The Guardian (Reino Unido) – O veterano de esquerda do Brasil pode estar pronto para um retorno impressionante

Um mural do lendário compositor Monarco recebe os foliões na sede de uma das escolas de samba mais queridas do Rio, a Portela.

Mas a multidão que inundou o prédio nesta semana veio para ouvir outra celebridade de cabelos grisalhos: o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, que pode estar a poucos dias de uma das reviravoltas políticas mais impressionantes da história recente.

“Lula é o amor da minha vida”, disse Natan Vitor da Silva Rosa, um desempregado de 26 anos que participou do comício do ex-presidente na escola de samba, vestido como o homem que ele espera que seja eleito o próximo líder do Brasil no domingo.

Rosa tinha 6 anos quando Lula assumiu a Presidência pela primeira vez em 2002, prometendo levar justiça social a uma das nações mais desiguais do mundo. Duas décadas depois, Lula, agora com 76 anos, está de volta e aparentemente pronto para derrotar Jair Bolsonaro, quando mais de 156 milhões de brasileiros votarem neste fim de semana.

“Quando Lula era presidente, os brasileiros não passavam fome. Tudo que Bolsonaro sabe fazer é causar confusão… quero Lula de volta”, disse Rosa, prevendo que seu candidato vencerá no primeiro turno.

As pesquisas são um pouco menos categóricas, embora a poucos dias da eleição Lula tenha o vento a seu favor com uma vantagem de até 17 pontos percentuais sobre seu rival de direita.

A maioria das pesquisas sugere que o veterano esquerdista, um ex-operário de fábrica que concorreu pela primeira vez à Presidência em 1989, está tentadoramente perto de garantir a maioria geral dos votos necessários para evitar um segundo turno contra Bolsonaro no final de outubro.

[…] Desesperada por uma vitória no primeiro turno, a campanha de Lula está lutando para garantir apoio para além da esquerda e convencer os eleitores do terceiro e quarto colocados a votarem taticamente no favorito do Partido dos Trabalhadores.

[…] Lula, que foi barrado na última eleição em 2018 depois de ser preso por acusações de corrupção posteriormente anuladas, parece estar conseguindo atrair eleitores não esquerdistas cansados do caos e das alegadas ameaças de golpe de Bolsonaro.

Nos últimos dias, vários críticos influentes ou centristas, incluindo o ex-chefe do Poder Judiciário Joaquim Barbosa e o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, defenderam publicamente Lula, nesta que é amplamente considerada a eleição mais importante do Brasil desde a redemocratização, em 1985.

El País (Espanha) – Opinião: O Brasil é menos de direita do que parece

Depois de quatro anos de governo de extrema direita com conotações fascistas, o Brasil chega às eleições gerais cheio de escombros políticos e sociais, com um clima de ódio e desgastes que levou inclusive a um aumento de doenças mentais. A surpresa às vésperas das eleições, porém, é que a maioria dos brasileiros segue firme, segundo todas as pesquisas, na defesa do regime democrático e se prepara para dizer “não” ao regime autoritário nas urnas.

Um estudo de Miriam Leitão, uma das colunistas mais confiáveis ​​do país e que foi torturada aos 19 anos durante a ditadura militar, revela que “a conclusão tirada de todas as pesquisas é que, em geral, os brasileiros ocupam posições centrais com fortes preocupações sociais e ambientais”. E sublinha que aqueles que se declaram totalmente de direita são apenas 27% dos cidadãos e que, mesmo entre os evangélicos, uma das categorias mais de direita, apenas 37% confessam ser conservadores.

É significativo que, apesar do bombardeio da extrema direita impulsionado por este governo bolsonarista – apoiado sobretudo pelas classes abastadas e pelos menos instruídos –, e apesar do ódio derramado contra a esquerda vista como mal absoluto, a pesquisa do Ipec de terça-feira prevê uma vantagem de 17 pontos para Lula sobre Bolsonaro, o que favorece a possibilidade de resolver a disputa no domingo sem a necessidade de segundo turno.

Apesar do fato de que aqui no Brasil a maioria numérica dos eleitores é composta pela classe mais pobre – que pode parecer alienada dos valores da liberdade porque está absorta em garantir sua subsistência, seu emprego e o pão na mesa para seus filhos –, 60% dizem nas pesquisas que preferem a democracia à ditadura. E mesmo nas questões em que essas camadas mais pobres tendem a se sentir mais inclinadas ao conservadorismo, elas se revelam em sua maioria, por exemplo, a favor de o aborto ser considerado um problema de saúde, ou contra a pena de morte, apesar de serem as mais punidas pela violência institucional e o crime organizado.

A constatação de que o Brasil aparece como um país equilibrado, com preferências por um centro político com fortes conotações sociais, explica por que, às vésperas das eleições, 99% das inúmeras pesquisas quase diárias dão Lula como vencedor. E o velho sindicalista teve a genialidade de sentir o espírito do povo e se apresentar como candidato não da esquerda pura, a de seu partido, o PT, mas com uma formação de partidos que vão desde a esquerda até a direita democrática.

Fonte: Deutsche Welle – ek/cn (ots)

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