Dois anos e quatro meses depois de deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde permaneceu preso por 580 dias após condenação na Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta à capital do Paraná em busca de apoio político para a eleição presidencial de 2022.
O ex-presidente chega nesta sexta-feira (18) a Curitiba, onde participa da solenidade de filiação ao PT do ex-governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião. Depois do evento, o ex-presidente deve se encontrar com líderes partidários.
Requião ingressa no PT para disputar o quarto mandato de governador. Sua presença nas eleições estaduais garantirá palanque para Lula no Paraná, estado que apresentou alta rejeição ao Partido dos Trabalhadores no último pleito presidencial.
No segundo turno de 2018, Jair Bolsonaro (PL) venceu em 307 das 399 cidades paranaenses, angariando 68,4% dos votos válidos, contra 31,6% de Fernando Haddad (PT), que foi o mais votado nos outros 92 municípios.
Emedebista histórico, Requião deixou a legenda em agosto de 2021, após perder a presidência do partido no Paraná para o deputado estadual Anibelli Neto.
No sábado passado, o MDB declarou oficialmente apoio à administração do governador Ratinho Júnior (PSD), que é alinhada ao governo Bolsonaro.
Após a passagem por Curitiba, Lula segue para Londrina (386 km da capital), na manhã de sábado (19), onde se encontra com apoiadores no assentamento Eli Vive, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), a maior área de reforma agrária inserida em região metropolitana do Brasil e criada pelo ex-presidente durante sua segunda gestão, em 2009.
Em Londrina, segunda maior cidade do estado, a rejeição ao petista é maior que a média estadual: em 2018, por exemplo, 80,1% dos votos válidos para presidente no segundo turno foram para Bolsonaro, contra 19,6% para Haddad.
A visita do ex-presidente é organizada pelo MST e se dará no assentamento situado em Lerroville, um dos oito distritos rurais do município, distante cerca de 57 km da área urbana. Criado há 13 anos, o Eli Vive tem 7.500 hectares de extensão e abriga 501 famílias assentadas, com cerca de 3.000 moradores.
No assentamento, que tem 109 km de estradas rurais, os camponeses produzem grãos, hortaliças, leite, café e panificados.
A cooperativa do assentamento fornece dez toneladas por semana de alimentos para o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e, na última safra, comercializou 15 mil sacas de milho, 10 mil sacas de soja e 10 mil sacas de feijão preto e carioquinha.
Outras 15 toneladas de alimentos são entregues na Ceasa (Central de Abastecimento) toda semana, além da comercialização de 80 mil litros de leite por mês.
São esperadas dez mil pessoas para a visita do ex-presidente, a maioria de militantes do MST em todo o estado. Lula estará acompanhado de Requião e da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Também estão confirmadas as presenças dos dirigentes nacionais do MST João Pedro Stedile e João Paulo Rodrigues.
O ato está previsto para começar às 10h e terminar às 15h e marcará o lançamento dos Comitês Populares, que atuarão na organização da campanha eleitoral de Lula no Paraná.
A estimativa é criar 5.000 comitês em todo o estado, de acordo com a organização do evento. O ex-presidente volta para São Paulo ainda no mesmo dia.
Com Lula bem colocado nas pesquisas eleitorais, o PT busca apoio nos estados costurando alianças com partidos e políticos expoentes, de diversas linhas ideológicas.
Um dos principais articuladores da vitória petista em 2002 e homem-forte do primeiro governo de Lula, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu tem se reunido com políticos da esquerda à direita para pregar uma união suprapartidária contra a reeleição de Jair Bolsonaro.
A lista de interlocutores inclui velhos adversários do PT, como o ex-senador e ex-presidente do extinto PFL Jorge Bornhausen (SC) e o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), de quem é amigo.
Para angariar votos em São Paulo e conquistar votos mais conservadores, Lula namora o ex-governador Geraldo Alckmin, que deve se filiar ao PSB na próxima quarta-feira (23), para a vaga de vice na chapa.
A possível chapa já surte efeito nos estados, reunindo antigos rivais que se enfrentaram na campanha de 2018, mas, também, afastando aliados.
Em Pernambuco, o petista estimula o governador Paulo Câmara (PSB) a concorrer ao Senado Federal, o que obrigaria o pessebista a deixar o cargo até o início de abril.
Isso abriria espaço para que a vice-governadora Luciana Santos (PC do B) tivesse um “governo relâmpago”, de nove meses, como forma de compensar a fidelidade da legenda em apoio ao PT.
A ideia, entretanto, encontra resistência dentro do PSB, que vê a necessidade de ter o governador no cargo em meio à campanha eleitoral para assegurar a unidade dos aliados em torno do deputado federal Danilo Cabral, candidato da legenda à sucessão em Pernambuco.