Kirchner pede que Fernández ‘honre vontade do povo’ após derrota em primárias na Argentina
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, quebrou o silêncio ontem após a crise desencadeada no governo com a renúncia de vários ministros da ala kirchnerista em decorrência da derrota do partido governista nas primárias legislativas do último domingo (12), e pediu ao presidente do país, Alberto Fernández que “honre a vontade do povo”.
Em longa carta publicada no Twitter na qual afirmou que entende como necessárias trocas ministeriais depois do desastre eleitoral, Cristina Kirchner lembrou a Alberto Fernández que foi ela quem propôs sua candidatura à presidência nas eleições de 2019 com ela como vice, e lhe pediu-que “honre aquela decisão”.
“Mas, acima de tudo, tomando também suas palavras e convicções, o que é mais importante que qualquer outra coisa: que ele honre a vontade do povo argentino”, acrescentou.
A vice-presidente destacou que, nas primárias para as eleições legislativas, o peronismo sofreu uma derrota eleitoral “sem precedentes” e que não é ela quem está colocando o presidente contra a parede, mas sim “o resultado da eleição e a realidade”.
A origem da crise data do domingo passado, quando as listas de pré-candidatos a deputado e senador da principal coalizão da oposição, Juntos pela Mudança, receberam mais votos do que as da governista Frente de Todos na maioria das províncias durante as primárias em que os cidadãos deveriam escolher os candidatos para as eleições legislativas de 14 de novembro.
Apenas três dias após a derrota e de acordo com fontes oficiais, o ministro do Interior, Eduardo “Wado” de Pedro, e ao menos outros quatro ministros, todos membros da ala kirchnerista do governo, liderada pela ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner, colocaram os cargos à disposição do presidente, que está avaliando se vai ou não aceitar as renúncias.
Mudanças
Depois de “tal catástrofe política”, a vice-presidente argentina disse que “alguns funcionários do governo foram ouvidos, e parecia que nada havia acontecido no país, fingiam normalidade e, acima de tudo, se prendiam em seus assentos”.
“Eles realmente acreditam que não é necessário, após tal derrota, apresentar publicamente as renúncias e tornar conhecida a atitude dos funcionários públicos em facilitar a reorganização do presidente de seu governo?”, perguntou Cristina.
Ela revelou que na última terça-feira, por sua iniciativa e após 48 horas sem conseguir contato, teve sua mais recente reunião com o presidente.
No encontro, Cristina afirmou que “era necessário relançar o governo” e propôs nomes como o governador de Tucumán, Juan Manzur, para substituir Santiago Cafiero como chefe de Gabinete.
A vice-presidente advertiu que não vai continuar tolerando o que definiu como operações de imprensa que o porta-voz do presidente, através de sua própria comitiva, está realizando contra ela e “contra nosso espaço político”.
“O porta-voz presidencial é um caso raro: um porta-voz presidencial cuja voz ninguém conhece. Ou ele tem alguma outra função que desconhecemos, como fazer operações em off, por exemplo? Um verdadeiro mistério”, disse.
Cristina também confirmou que havia conversado com o ministro da Economia, Martín Guzmán, “quando foi falsamente divulgado que, na reunião que tive com o Presidente da Nação, eu havia pedido sua renúncia. As operações são permanentes e, no final, só acabam desgastando o governo”.
Críticas
Cristina Kirchner destacou que, antes das eleições, em suas reuniões com o presidente, ela manifestou a opinião de que “estava sendo realizada uma política errada de ajuste fiscal, o que estava tendo um impacto negativo na atividade econômica e, portanto, na sociedade como um todo, e que isso, sem dúvida, teria consequências eleitorais”.
A vice-presidente mostrou confiança de que o presidente não apenas “relançará seu governo, como se reunirá com seu ministro da economia para analisar os números do orçamento”.
Ela salientou que, de acordo com a previsão orçamentária, 2,4% do PIB ainda não foi gasto. “Mais do dobro da quantia executada e faltando apenas quatro meses para o final do ano… com uma pandemia e uma situação social muito delicada”, comentou.
“Não estou propondo nada louco ou radical. Pelo contrário, estou simplesmente captando o que neste contexto global de pandemia está acontecendo em todo o mundo, dos Estados Unidos à Europa e também em nossa região: o Estado atenuando as trágicas consequências da pandemia”, acrescentou.
Fonte: Uol