Israel deve aprovar novas eleições: Netanyahu é apontado como favorito
O Parlamento de Israel deve aprovar nesta quarta-feira (22) o processo que colocará fim ao atual governo do país, levando à convocação de mais uma rodada de eleições, a quinta em menos de quatro anos.
A iniciativa foi do próprio primeiro-ministro, Naftali Bennett, que pegou os israelenses de surpresa ao anunciar, na segunda-feira (20), que decidiu dissolver a coalizão de governo que lidera desde junho de 2021.
A coalizão deve ser oficialmente desmantelada na próxima segunda-feira (27), e as novas eleições devem acontecer no começo de novembro, embora a data ainda não tenha sido marcada.
De acordo com as primeiras pesquisas de opinião, Benjamin Netanyahu, do partido de direita Likud, receberá o maior número de cadeiras: cerca de 35 das 120 do Parlamento, o Knesset. Em segundo lugar ficará o atual chanceler Yair Lapid, do partido progressista de centro “Há Futuro”, com cerca de 20.
Ambos, no entanto, terão dificuldades para formar uma coalizão com 61 cadeiras. Esse impasse já dura 3 anos e meio, com blocos pró e anti-Netanyahu se digladiando sem conseguir criar governos estáveis.
A disputa parecia ter terminado no ano passado, quando Bennett e Lapid conseguiram costurar o mais diversificado governo da história de Israel, com oito partidos distintos: dois de esquerda, dois de centro, três de direita e um partido da minoria árabe.
Diferenças ideológicas
Mas, apesar da coesão dos primeiros meses, as diferenças ideológicas apareceram. A coalizão foi perdendo membros rebeldes e a maioria parlamentar, levando Bennett a colocar um fim nela.
O que levou à decisão justamente agora é a questão da Lei da Cisjordânia, uma legislação supostamente “temporária” que existe há 55 anos e que tem sido ratificada pelo Parlamento automaticamente a cada 5 anos.
A lei deveria ser novamente ratificada até o fim deste mês para não prescrever, mas Benjamin Netanyahu, percebendo a fragilidade do governo Bennett, conseguiu impedir a aprovação prometendo cargos aos parlamentares rebeldes do governo.
A lei trata do arcabouço jurídico vigente nos assentamentos israelenses na Cisjordânia, território ocupado por Israel em 1967. Ela estabelece que, neles, o que vale é a lei do Estado de Israel – mesmo que o país nunca tenha oficialmente anexado a Cisjordânia.
Sem essa legislação, os meio milhão de israelenses que moram na Cisjordânia deixariam de estar sob a lei de Israel, o que causaria um caos jurídico sem precedentes.
A única maneira de evitar isso – sem ratificar a lei no Parlamento – é convocar agora novas eleições, o que automaticamente congela todas as legislações vigentes. Quer dizer: Bennett abdicou para manter em vigor uma legislação fundamental para sua base política, a do partido de extrema-direita “Yemina” (À Direita, em hebraico), que apoia os assentamentos.
O mais irônico é que Netanyahu também é de um partido de direita, o Likud. Ele aproveitou a fragilidade do governo e colocou em risco uma legislação que ele mesmo apoia para derrubar Bennett.
A jogada deu certo: assim que as eleições foram convocadas, Bennett deixará o cargo de primeiro-ministro. Quem assumirá interinamente até que uma próxima coalizão assuma será Yair Lapid, o atual ministro das Relações Exteriores e premiê alternativo do partido de centro “Há Futuro”.
A atual coalizão tem dois “pais”: Bennett e Lapid. A ideia era a de que Bennett atuasse como primeiro-ministro pelos dois primeiros anos e Lapid, pelos últimos dois. Ambos receberiam o título de “premiê alternativo” enquanto o outro estivesse na liderança.
Mas há também uma outra cláusula: a de que se o governo caísse por culpa de parlamentares de direita, quem assumiria o governo de transição seria Lapid, representante da ala mais à esquerda.
Como o mais recente desertor foi o parlamentar Nir Orbach, do partido do próprio Bennett, então é Lapid que assumirá governo, provavelmente por cerca de seis meses (quatro até a votação e mais dois para a formação do próximo governo).
Yair Lapid, 58 anos, é um ex-ator, apresentador e âncora de televisão que até uma década atrás, era mais conhecido por suas aparições na telinha e pose de playboy. Mas, em 2013, ele surpreendeu a todos ao largar a carreira e formar o “Há Futuro”, um partido de centro com viés secular, progressista e liberal.
Em apenas nove anos, se tornou uma figura importante na política nacional, servindo como ministro das Finanças, Líder da Oposição e atualmente como chanceler e premiê alternativo.
Lapid tem um certo pedigree político porque é filho do ex-jornalista e ex-ministro da Justiça Yossef “Tommy” Lapid, falecido em 2008, que deixou marcas na política nacional ao defender o fim da influência da religião no Estado.
Muitos, no entanto, ainda o veem como despreparado e pouco experiente. Talvez a anunciada visita do presidente americano Joe Biden a Israel, em 13 de julho, ajude Lapid a consolidar uma imagem de estadista.
Fonte: RFI