Invasão russa na Ucrânia semeou terror psicológico, diz coordenador humanitário
Ucranianos sofrem há quase três anos com ataques contínuos que causam estresse mental “debilitante”
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Mais de 12,7 milhões de ucranianos precisarão de ajuda humanitária em 2025, o equivalente a 36% da população do país.
De acordo com o coordenador de ajuda da ONU na Ucrânia, Matthias Schmale, a situação humanitária está piorando, especialmente nas áreas da linha de frente do confronto.
Estresse mental “debilitante”
Falando da capital, Kyiv, ele afirmou que nos quase três anos desde a invasão em grande escala pela Rússia, o povo do país sofreu ataques contínuos, deslocamento e um “terror psicológico, que enfraquece a resiliência”.
O coordenador humanitário enfatizou que todos os dias, civis são mortos e feridos, casas e escolas destruídas e meios de subsistência arruinados.
O representante da Organização Mundial da Saúde, OMS, para a Ucrânia disse que o estresse mental enfrentado por milhões de ucranianos por causa da guerra é “real e debilitante”.
Jarno Harbicht ressaltou que a ansiedade se tornou constante para milhões de famílias que vivem sob sirenes de ataques aéreos durante o dia e assombrados por drones de madrugada.
O Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários relata que, em 2024, houve um aumento de 30% no número de vítimas civis em comparação ao ano anterior. O número de vítimas infantis aumentou mais de 50%.
Mais de 1,6 mil instalações de ensino e quase 790 unidades de saúde foram danificadas ou destruídas nos últimos três anos.
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Prioridades da assistência humanitária em 2025
Para Schmale, a crise começou em 2014, com a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia. Ele disse que todas as crianças que nasceram desde então “nunca experimentaram uma realidade de paz”.
Ele revelou quatro prioridades para 2025, para aliviar o sofrimento da população ucraniana. A primeira é aumentar o apoio em áreas próximas das linhas da frente, onde fortes ofensivas das forças armadas russas têm sido relatadas.
A segunda é ajudar civis vulneráveis, especialmente idosos e deficientes, durante evacuações na linha de frente. A terceira é trabalhar com equipes de resposta locais para fornecer cuidados e reparos imediatos após os ataques.
Por fim, Schmale defendeu soluções duradouras para pessoas deslocadas, incluindo assistência com habitação e formação profissional.
Situação crítica dos deslocados
Ele lembrou que esta é a maior crise de deslocamento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de 10 milhões de pessoas fugiram de suas casas e cerca de 3,7 milhões delas estão deslocadas dentro da Ucrânia.
Muitos vivem em abrigos inadequados ou em comunidades anfitriãs superlotadas, enfrentando um futuro incerto.
Segundo a Organização Internacional para Migrações, OIM, várias pessoas deslocadas já esgotaram as suas poupanças e não têm oportunidades de rendimento, o que torna muito difícil o acesso a alimentos, medicamentos e outros bens essenciais.
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Congelamento do financiamento dos Estados Unidos
Respondendo a perguntas sobre o impacto do congelamento do financiamento dos Estados Unidos em assistência internacional, o coordenador humanitário expressou “esperança de que o investimento do país venha a se tornar parte da equação”.
No ano passado, o apoio norte-americano representou 30% do financiamento humanitário na Ucrânia, e 10% da receita para ações de desenvolvimento.
Ataques a escolas, maternidades e hospitais infantis
Falando de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia, o chefe de comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, disse que mais de 2.520 crianças foram mortas ou feridas desde o início da invasão russa em larga escala.
Toby Fricker ressaltou que “a situação está piorando” e nenhum lugar é seguro, pois escolas, maternidades e hospitais infantis foram afetados pelos ataques.
A OMS relatou que no início desta semana, um ataque noturno em Odesa danificou a maior clínica infantil da região, interrompendo serviços vitais. O local prestava cuidados para 40 mil crianças.
Fonte: ONU News – Imagem: Ocha – Uma mulher está em um prédio bombardeado na cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, na Ucrânia