Homens precisam entender significado do consentimento, diz fundadora do “Me Too”, no Brasil
A fundadora do Me Too no Brasil, Marina Ganzarolli, esteve na sede das Nações Unidas em Nova Iorque para participar de discussões da 67ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW.
Um dos debates foi sobre como engajar os homens na luta para combater a violência contra as mulheres. Nesta entrevista à ONU News, ela diz que eles são parte fundamental desse processo.
“Não adianta pregar para convertidos”
“Há um painel muito bacana falando sobre como conseguimos garantir o engajamento dos homens nessa conversa. E a gente está sempre falando sobre isso aí: não adianta a gente ficar pregando para convertidos. A gente fala muito com as meninas, com as mulheres, quais são seus direitos e como buscar ajuda. Mas, por outro lado, a gente precisa falar com os homens sobre o que são limites, sobre o que é consentimento e sobre que masculinidades queremos construir e que paternidade queremos construir. Então, esse foi um painel bastante interessante, trazendo estratégias e perspectivas de convencimento e engajamento deles.”
O Me Too é um movimento global que busca ajudar vítimas de violência sexual a romperem o silêncio. Ao lado de outras entidades, Marina Ganzarolli participou dos eventos do Pacto Global da ONU, que reúne empresas e organizações em busca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A fundadora explica como o tema da CSW deste ano, focado na participação justa e segura das mulheres e meninas no espaço virtual, se conecta com o trabalho feito pela entidade.
Covid-19 e violência doméstica no Brasil
“O tema dessa CSW, para nós, é extremamente importante e afinado com a nossa missão, precisamente porque o Me Too Brasil surge em um contexto de pandemia de Covid-19, em que vimos a violência doméstica, intrafamiliar e sexual e escalonar não só no Brasil mas em todo o mundo e ao mesmo tempo com as vítimas isoladas, sem poderem acessar os equipamentos públicos de saúde e segurança.”
O objetivo do movimento Me Too Brasil é amplificar a voz de sobreviventes, dar visibilidade aos relatos de abuso sexual e suporte para meninas e mulheres.
Como Marina Ganzarolli explica, durante os momentos mais críticos da pandemia, a entidade disponibilizou ferramentas online para garantir que as vítimas pudessem buscar apoio.
“O Me Too no Brasil utiliza uma ferramenta que só é possível graças à inovação tecnológica para acessar essa vítima, acessar essa sobrevivente e viabilizar o acolhimento adequado e o encaminhamento aos equipamentos que podem seguir com o processo ou com um tratamento de saúde que seja necessário. Quando a gente traz o tema da inovação tecnológica, da educação na era digital, para o empoderamento de meninas e mulheres e de como a gente consegue usar as ferramentas que a era digital nos traz para o enfrentamento da violência contra a mulher e para o avanço dos direitos humanos é precisamente esse o lado positivo da internet e dos recursos tecnológicos nessa luta, nessa bandeira.”
Violência online
A fundadora do Me Too no Brasil destacou os dois lados dos avanços tecnológicos. Enquanto as plataformas descomplicam a busca por ajuda, elas também criam outros tipos de crimes.
Marina Ganzarolli explica como o surgimento de violência online movimentou no Brasil a necessidade de novas legislações.
“Temos um outro lado: acompanhamos ao longo da última década também o desenvolvimento de outras formas de coação, de constrangimentos e violência que se usam dos recursos digitais para fazê-lo. Assim como no Brasil, tivemos a tipificação, inclusive, de vários novos crimes, como a disseminação não consentida de imagens, a famosa pornografia de revanche ou a extorsão, mas, por outro lado, a tecnologia também permite a disseminação de conhecimento sobre direitos humanos das mulheres e o acolhimento e a ajuda, usando os recursos da Web.”
A fundadora do Me Too no Brasil afirma que o WhatsApp, muito utilizado no país, é uma das principais ferramentas no atendimento de vítimas, que por vezes, ficam isoladas, têm medo ou desconfiança do sistema de justiça.
Ação conjunta
Marina Ganzarolli concluiu afirmando que enxerga a interação entre os diversos setores da sociedade como fundamental para garantir uma resposta eficaz para a violência contra as mulheres.
Além de debates sobre a inclusão digital e econômica das mulheres no combate à violência com uma perspectiva para todo o Sul Global, Marina Ganzarolli conta que a Rede Brasil do Pacto Global também trouxe outras questões sociais que precisam ser consideradas, como raça, orientação sexual, identidade de gênero, e idade.
O Me Too Brasil possui um Conselho Consultivo que conta com nomes como Ana Amélia Teles, vítima de violência durante o período da ditadura no Brasil, e Silvia Pimentel, que presidiu a Comissão da ONU sobre Violência contra Mulheres, Cedaw.
Fonte: ONU News / Foto: Unicef/UN014974/Estey